Pouco tempo depois que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) lançou a Operação Dilúvio de Al-Aqsa contra o Estado sionista de “Israel”, o Diário Causa Operária (DCO) iniciou uma série para contar a história da Palestina, do povo palestino e daqueles que lutam contra a ocupação.
Neste artigo, reunimos algumas das matérias publicadas ao longo desse último ano para contarmos a história dos grupos de resistência que lutam bravamente ao lado do Hamas contra o Estado sionista. Confira:
O exército do Hesbolá, que ‘Israel’ não ousa enfrentar
Publicado originalmente em 4 de março de 2024
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas, liderando várias organizações armadas da resistência palestina, desatou a Operação Dilúvio de al-Aqsa, uma das maiores derrotas da história do Estado de “Israel”.
Desde então, os sionistas vêm retaliando com um genocídio, assassinando mais de 30 mil, na tentativa de dobrar a resistência. Contudo, sem sucesso. Para além do espírito aguerrido e inquebrantável dos palestinos, eles não estão sozinhos na luta contra o sionismo.
Na fronteira norte de “Israel”, estão recebendo valorosa assistência militar do partido político libanês Hesbolá, o mais popular do Líbano, cujas ações revolucionárias já resultaram no deslocamento de cerca de 100 mil israelenses, que estavam ocupando território roubado ilegalmente dos palestinos, por “Israel”.
E este feito, que está aprofundando a crise entre o governo Netaniahu e a sociedade israelense, é realizado sem que o Hesbolá trave uma guerra aberta com “Israel”.
Para saber como isto é possível, é importante entender a respeito da ala militar do Partido de Alá, que o mostra como um verdadeiro Estado dentro do Estado Libanês, revelando uma dualidade de poder revolucionária no Líbano, em oposição à ditadura de “Israel”.
Embora o Hesbolá tenha se desenvolvido entre os anos de 1982 e 1985 em meio à luta armada do povo libanês contra o imperialismo, “Israel” e as milícias fascistas dos cristãos maronitas, foi em julho de 1995, durante seu Quarto Conclave, que a organização militar do partido foi elevada a um novo patamar, dada a necessidade de fazer avançar a luta contra o sionismo, para expulsar as tropas de “Israel” do sul do Líbano, de uma vez por todas.
O órgão máximo, no topo da hierarquia do aparato militar do Hesbolá, respondendo apenas ao Conselho Shura (órgão supremo do partido), é o Conselho da Jiade.
Presidido por Hassan Nasseralá, que igualmente preside o Conselho Shura, sendo o líder do Hesbolá, o Conselho da Jiade é tanto um órgão de natureza militar quanto política. Sendo assim, embora não esteja encarregado das ações militares práticas, é responsável por supervisionar as mesmas, de forma que o Conselho também tem um chefe militar liderando os quadros militares do Hesbolá.
Até o ano de 2008, quando de seu assassinato por operação conjunta da CIA e do Mossad, quem exercia esse papel era Imad Mughnié, um dos líderes políticos e militares mais capazes da história da resistência contra “Israel” e o imperialismo no Oriente Médio, líder que esteve no comando de várias operações que resultaram em inúmeras baixas nas fileiras dos opressores dos povos palestinos, libaneses, árabes e muçulmanos em geral. Releia matéria que este Diário já publicou sobre essa liderança do Hesbolá:
Encarregado das ações militares práticas do Hesbolá está a Resistência Islâmica, que é composta pelas seguintes Unidades:
Nasr – conforma a principal linha de defesa do partido contra os invasores sionistas. Seu comandante, cujo título honorífico é al-Hajj, responde diretamente ao líder do partido, Nasseralá. Desde que o Hesbolá expulsou as forças de ocupação do sul do Líbano, essa unidade vem atuando principalmente através de ataques na região norte de “Israel”, o que pode ser visto atualmente com o apoio que o partido dá ao Hamas e à resistência palestina.
Badr – sua principal função é realizar ataques de mísseis contra posições israelenses, mas prestando reforço às tropas da Unidade Nasr.
Al Jalil – a unidade tem por objetivo incursões na região da Alta Galiléia, no Estado de “Israel”. Para isto, conforme destacado no portal do Hesbolá, seus combatentes receberam treinamento intensivo nas mãos dos especialistas do IRGC nas áreas de guerra de guerrilha, infiltração e combate corpo a corpo em seus quartéis militares no Irã. IRGC é a Guarda Revolucionária do Irã, e o supervisor dos treinamentos citados acima foi ninguém menos que Qasem Soleimaini.
Aziz – combatentes dessa unidade lutaram ao lado do governo de Bashar al-Assad na Guerra Civil da Síria, contra os ataques do imperialismo, de “Israel” e seus prepostos contra o governo nacionalista do país. Foi eventualmente substituída pela Unidade al-Qaem
Raduan – São as forças especiais do Hesbolá, temida pelo sionismo. Seu nome é uma homenagem ao nome de guerra de Imad Mughniyeh, al-Hajj Raduan. Releia matéria que este Diário já publico sobre a força:
Unidade de Guerra Anfíbia – conforme o portal do partido, essa unidade “opera sob o comando de defesa costeira” sendo que seu “treinamento inclui desembarques na praia e habilidades de demolição subaquática”
Brigadas de Resistência Libanesa – esse grupo armado foi criado pelo Hesbolá no ano de 1997 e representou um crescimento desse partido revolucionário como principal representante da luta abnegada contra “Israel”, justamente esse Estado que massacrou o povo libanês durante décadas. Nesse sentido, tendo em vista que os quadros principais do Hesbolá são formados por militantes xiitas, tendo em vista a ideologia islâmica xiita do partido, as Brigadas de Resistência Libanesa incluem “sunitas, drusos, cristãos e xiitas não ideológicos que partilhavam o desejo do Hesbolá de combater os israelitas e a sua ocupação do sul do Líbano.
Vê-se, então, que o Hesbolá, ao lutar durante décadas contra a repressão que o imperialismo e “Israel” desataram contra o Líbano, com a finalidade de destruir a resistência palestina (à época liderada pela OLP e o Fatá), teve de se constituir em uma grande força militar.
E, atualmente, essa força militar está sendo fundamental em auxiliar a resistência palestina em destruir de uma vez por toda o Estado de “Israel” e o sionismo. Como exemplo de sua atuação revolucionária, vale citar os últimos feitos do Hesbolá contra “Israel”, nos últimos dois dias, conforme informações compiladas pelo portal de notícias Press TV:
Setor Oriental:
Por volta das 15h20, hora local, o local de Al-Za’oura foi alvo de mísseis.
Por volta das 17h30, hora local, o quartel Zibdin em Shebaa foi alvo de mísseis.
Por volta das 13h07, hora local, soldados israelenses no assentamento Ma’yan Baruch foram alvo de drones.
Por volta das 13h55, horário local, soldados israelenses nas proximidades do Quartel Ramim foram alvo de mísseis.
Por volta das 13h55, horário local, o local de Al-Baghdadi foi alvo de mísseis.
Por volta das 14h00, hora local, as forças israelenses foram alvo de mísseis nas proximidades do local de Al-Manara.
Por volta das 18h20, horário local, o local de Ruaisat Al-Alam em Kafr Shuba foi alvo de mísseis.
Setor ocidental:
Por volta das 05h40, horário local, a base de comando de Liman foi alvo de drones.
Por volta das 10h10, horário local, soldados israelenses no local de Jal al-Alam foram alvo de mísseis.
Por volta das 16h40, horário local, o local de Rahib foi alvo de mísseis.
Por volta das 19h00, hora local, o local de Hadab Yarin foi alvo de dois mísseis Burkan.
Por volta das 00h00, hora local, abateram um drone israelense em Uadi Al-Uzzia.
Por volta das 21h20, horário local, a base Khirbet Maar foi alvo de dois mísseis Falaq.
A Frente Popular para a Libertação da Palestina
Publicado originalmente em 26 de março de 2024
A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) é um dos partidos que lutou na operação militar desatada pela resistência palestina no dia 7 de outubro, a operação Dilúvio de Al-Aqsa. A incursão aos territórios ocupados por “Israel”, realizada por ar, terra e mar, foi liderada pelo Hamas e colocou em marcha a Revolução Palestina. Atualmente, a FPLP, especificamente os combatentes das Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafá, segue travando a luta contra os invasores sionistas, tanto na Faixa de Gaza, quanto na Cisjordânia.
A FPLP foi criada em 1967 pelo médico palestino George Habash, então militante revolucionário do Movimento Nacionalista Árabe (MNA). Essa organização havia sido criada em 1953 pelo próprio Habash e outros militantes com a finalidade promover a unidade do mundo árabe, tendo sido muito influente no desenvolvimento da resistência palestina.
A ideologia guia dessa organização era o nacionalismo árabe, cujo principal expoente na época era o então líder nacionalista egípcio Gamal Abdel Nasser, presidente daquele país. O nacionalismo de Nasser não só servia de base ideológica para o MNA, mas o próprio líder era um dos apoiadores da organização.
Contudo, no decorrer dos anos, divergências ideológicas e programáticas se desenvolveram no interior da organização. Em países como a Síria e o Iraque, houve predomínio do nacionalismo árabe nasserista. Por outro lado, a fração liderada por Habash passou a adotar o que eles entendiam como sendo Marxismo. A ausência de um programa definido, coeso, e a presença do MNA em vários países simultaneamente dificultou o movimento de avançar em sua luta contra o imperialismo e o sionismo.
A crise terminal da organização, que fez Habash criar a FPLP, veio com a derrota dos países árabes para “Israel” na Guerra dos Seis Dias.
Naquele conflito, o Estado sionista se saiu vitorioso sobre a coalizão de países árabes, a saber, Egito (República Árabe Unida), Síria, Jordânia e Iraque, obtendo importantes conquistas territoriais com a captura e ocupação das Colinas de Golã (da Síria); Cisjordânia e Jerusalém (da Jordânia); e a Faixa de Gaza e a Península do Sinai (do Egito)
A guerra levou a uma desmoralização do nacionalismo nasserista e, consequentemente, ao fim do MNA, cuja ideologia predominante era justamente essa forma do nacionalismo árabe.
A organização acabou quando, em 1967, a ala liderada por Habash se juntou a duas outras organizações que lutavam pela libertação da palestina, a Juventude pela Vingança e a Frente de Libertação da Palestina, esta fundada por Ahmed Jibril, líder e fundador da Frente Popular para a Libertação da Palestina – Comando Geral (FPLP-CG), um racha da FPLP.
Logo após essas três organizações terem se unido, outros três grupos (Heróis do Retorno, a Frente Nacional para a Libertação da Palestina e a Frente Independente de Libertação da Palestina) se juntaram e a FPLP foi formada.
Já em 1968, a frente possuía uma grande quantidade de guerrilheiros, três mil. Apesar de possuir sede na Síria, seus guerrilheiros também atuavam na Jordânia, a partir de onde realizavam ataques contra “Israel”.
A FPLP poderia ter sido um partido maior, contudo, sofreu inúmeros rachas, os quais ocorreram logo em seus primeiros anos.
Já em 1968, Ahmed Jibril liderou um racha da organização, por entender que sua linha de atuação deveria ser mais militar, com menos espaço para a política e suas teorias necessárias para guiar essa atuação. Criou a já citada FPLP-GC, ainda atuante.
Em 1968, foi a vez de Nayef Hawatmeh e Yasser Abd Rabo saírem da FPLP e criarem a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), uma organização de orientação maoista, sendo que ambos seus fundadores haviam sido importantes líderes no MNA. As Brigadas do Mártir Al-Qassam, braço armado da FDLP, também lutaram na operação Dilúvio de Al-Aqsa.
Mas tais rachas não foram suficientes para colocar um fim à FPLP e, ainda nesse ano, ela se juntou à OLP, tornando-se o segundo maior partido dentro dessa organização, atrás apenas do Fatá, de Yasser Arafat.
Como parte da OLP, a frente esteve envolvida na atuação combativa que a resistência palestina travava contra o Estado de “Israel” a partir da Jordânia, entre 1968 e 1971.
Tendo em vista que os palestinos avançavam cada vez mais em sua organização, o imperialismo, vindo ao socorro de “Israel”, impulsionou a monarquia jordaniana a agir contra a resistência.
Na luta contra a repressão do exército da Jordânia, para além de combates armados, a FPLP realizou uma série de operações de captura de aeronaves civis, que ficaram conhecidas como os sequestros do Campo de Dawson.
A captura de aeronaves era uma especialidade da FPLP, e o principal comandante por trás deles era Wadie Haddad (ou Abu Hani), o responsável pela ala militar da frente. A finalidade desse método de luta era conseguir prisioneiros para trocar por prisioneiros palestinos (ou muçulmanos de outras nacionalidades), encarcerados em prisões israelenses ou do imperialismo.
Os sequestros do Campo de Dawson consistiram em cinco operações, quatro das quais foram bem sucedidas. Fizeram parte da luta que a resistência palestina travou contra a monarquia haxemita, da Jordânia, que tentava expulsá-la do país. Em razão do papel exercido pelo Reino da Jordânia, de serviçal do imperialismo e do sionismo, a partir de 1970, a FPLP passou a se opor ao Rei Hussein, entendendo seu governo como ilegítimo.
Ao fim, após uma repressão que resultou na morte de mais de 20 mil palestinos, a monarquia jordaniana conseguiu expulsar a OLP (e a FPLP) da Jordânia. Essa guerra ficou conhecida como Setembro Negro. Releia matéria já publicada neste Diário sobre o ocorrido:
Novo racha acontece e, em 1972, é formada a Frente Revolucionária Popular para a Libertação da Palestina. Mesmo assim, a FPLP permanece existindo.
Uma crise se instaura em meio à resistência palestina e, em 1974, a FPLP se retira do Comitê Executivo da OLP. A razão para isto foi que, em 8 de junho de 1974, na 12ª Conferência do Conselho Nacional Palestino, o órgão legislativo da OLP, foi adotado o chamado Programa de Dez Pontos, através do qual foi introduzido o conceito de “Dois Estados” como solução para o conflito Palestina-“Israel”. Em face disto, a FPLP juntou-se à Frente Rejeicionista, uma frente de oposição formada por organizações que rejeitavam o programa.
Em 1981, retornou ao Comitê Executivo da OLP, no auge da Primeira Guerra do Líbano, na qual lutou como parte da resistência palestina, ao lado do Fatá, contra “Israel”, as milícias maronitas e o imperialismo.
Contudo, com a capitulação nos Acordos de Oslo (1993 – 1995), através dos quais as duas principais organizações de lideranças da resistência palestinas reconheceram a legitimidade do Estado de “Israel”, a FPLP deixou de fazer parte da OLP e de ser aliada do Fatá.
Referidos acordos resultaram também na criação da Autoridade Nacional Palestina (AP), que atualmente possui como presidente Mahmoud Abbas, que exerce, com a garantia do imperialismo e do sionismo, brutal ditadura contra os palestinos da Cisjordânia e Jerusalém. Em razão disto, a FPLP jamais voltou a fazer parte da OLP.
Em outra demonstração de que jamais capitulou perante o sionismo, participou da Segunda Intifada, mobilização revolucionária das massas palestinas. Haja vista que, naquela época, não tinha um corpo miliar tão coeso quanto atualmente, realizou ataques suicidas como método de luta, o qual também foi utilizado por combatentes do Hamas.
Desde 1969, se proclama como marxista-leninista. Apesar disto, e da ausência de um programa político claro e coeso, sempre se opôs ao imperialismo e, especialmente, ao sionismo. E, através da sua participação direta na luta palestina, durante décadas, hoje em dia atua em unidade prática com grupos islâmicos sunitas (Hamas) e xiitas (Jiade Islâmica e Hesbolá), fazendo avançar a Revolução Palestina para que “Israel” e o sionismo sejam destruídos de uma vez por todas.
Como exemplo recente dessa unidade prática da FPLP, vale mencionar que os combatentes das Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafá dedicaram a ação militar feita no último dia 24 de março contra o kibbutz Beeri (uma barragem de foguetes) aos “heróis da corajosa resistência iemenita, aos homens justos da resistência iraquiana livre, aos leões do Hesbolá no Líbano e a Sua Eminência Sayed Hassan Nasralá, a bússola da resistência e seu mestre”.
Breve história da Frente Democrática pela Libertação da Palestina
Publicado originalmente em 6 de maio de 2024
A Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), uma organização política e militar palestina de orientação maoísta, desempenhou um papel significativo na luta palestina pelo reconhecimento nacional e pela autodeterminação. Hoje, é um dos principais grupos que formam o eixo de resistência ao lado do Hamas, da FPLP e Jiade Islâmica.
Fundada em 1968 por Nayef Hawatmeh, um palestino de origem jordaniana e de família cristã católica grega, a FDLP se separou da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) devido a diferenças ideológicas e estratégicas – mas unindo forças na luta contra o inimigo sionista em comum. A FDLP estabeleceu sua sede em Damasco, na Síria, e tornou-se membro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), buscando uma Palestina democrática e popular, onde árabes e judeus pudessem coexistir sem discriminação – tal como a política defendida pelo Partido da Causa Operária, que defende uma Palestina laica e plural, livre das amarras dos colonos e ocupantes sionistas.
Ao longo de sua história, a FDLP manteve uma postura crítica em relação aos governos árabes, argumentando que muitos deles ignoravam as forças conservadoras dentro do mundo árabe e passavam pano para “Israel”. O grupo defendia uma autoridade nacional palestina.
A FDLP ganhou popularidade entre os palestinos na Síria, no Líbano e em outras regiões, com presença menor na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, além de entre os palestinos cristãos. Seu braço armado, as Brigadas de Resistência Nacional, esteve envolvido em algumas operações militares, embora em menor escala, desde a Primeira Intifada, e apesar de seu engajamento militar, a FDLP também desempenhou um papel político ativo. Apresentou candidatos em eleições palestinas, como Taysir Khalid nas eleições presidenciais de 2005 e formou alianças eleitorais em 2006. No entanto, seu poder político permaneceu limitado.
A FDLP manteve relações próximas com outros partidos árabes de esquerda, como a Organização de Ação Comunista no Líbano, e seu jornal semanal, Al-Hurriya, foi publicado em vários países árabes. No entanto, enfrentaram algumas divisões internas ao longo de sua história. Uma cisão ocorreu em 1991, resultando na formação de uma facção mais moderada liderada por Yasser Abd Rabbo. Além disso, a organização recusou-se a participar de conferências de paz e rejeitou os Acordos de Oslo em 1993, reconhecendo a capitulação total e completa provocada pela OLP. Embora a FDLP tenha lutado para manter sua relevância política e militar, sua influência diminuiu ao longo dos anos, especialmente após a Segunda Intifada e a mudança do cenário político regional.
Mencionado anteriormente neste artigo, Naif Hawatmeh foi o fundador da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), sendo uma figura proeminente nos movimentos de resistência palestinos. Ele esteve envolvido em lutas armadas em várias regiões, incluindo Jordânia, Líbano, Iraque, Iêmen do Sul e Palestina. Nascido em 17 de novembro de 1938, em Salt, Jordânia, Hawatmeh dedicou sua vida a causas nacionalistas e de esquerda.
A carreira política de Hawatmeh começou na década de 1950, quando se juntou ao Movimento Nacionalista Árabe (MNA) na Jordânia, representando sua ala esquerdista. Ele enfrentou perseguição das autoridades jordanianas e foi forçado a se esconder antes de buscar exílio no Líbano e posteriormente no Iraque. Ele desempenhou um papel significativo em várias atividades revolucionárias e conflitos armados durante esse período. Em 1967, Hawatmeh co-fundou a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) com Georges Habash e Ahmed Jibril. No entanto, diferenças dentro da organização levaram à já conhecida divisão.
Ao longo de sua liderança, Hawatmeh defendeu princípios nacionalistas árabes, mantendo relações próximas com os governos da Síria e da Rússia. Apesar de enfrentar desafios, incluindo tentativas de assassinato, ele permaneceu comprometido com a causa palestina e a busca por um estado democrático e secular.
Sob a liderança de Hawatmeh, a FDLP tem se envolvido ativamente na resistência armada contra Israel, colaborando diretamente com partidos políticos mais populares na própria Gaza e Cisjordânia, como o Hamas. A ala paramilitar da organização, as Brigadas da Resistência Nacional, realiza comuns operações contra alvos israelenses. Apesar de sua idade avançada e dos desafios decorrentes dos conflitos na região, Naif Hawatmeh permanece uma figura central na política palestina, advogando por uma resolução justa e equitativa para o conflito israelo-palestino.
No último mês, o atual dirigente político da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), Jamil Kasem, em entrevista ao Diário Causa Operária, destacou a importância da resistência armada palestina na luta contra a ocupação sionista em Gaza. Ele enfatizou a união das formações políticas e a unidade exemplar entre as organizações envolvidas na resistência, destacando que essa cooperação é fundamental para derrotar as forças de ocupação militar na região. Kasem também discutiu a relevância do 7 de outubro nesse contexto, considerando-o um marco histórico que impactará o futuro do povo palestino na luta contra o sionismo.
Brigadas al-Quds, braço militar da Jiade Islâmica na Palestina
Publicado originalmente em 23 de fevereiro de 2024
As Brigadas Al-Quds, também conhecidas como Saraya al-Quds em árabe, foram fundadas em 1981 como o braço militar da Jiade Islâmica Palestina (JIP). A JIP é uma organização militante islâmica palestina que visa a resistência armada contra “Israel” e, originalmente, a promoção de um Estado islâmico na região historicamente conhecida como Palestina. Atualmente, é signatária de um programa democrático que visa o estabelecimento de um Estado democrático e laico, programa que foi consenso nas negociações entre os demais grupos da resistência armada, como Hamas, FPLP e FDLP.
As Brigadas Al-Quds foram estabelecidas pelos fundadores da Jiade Islâmica Palestina, incluindo Fathi Shaqaqi, Abdul Aziz Awda e Bashir Musa, entre outros. Desde sua fundação, as Brigadas Al-Quds têm sido ativas na condução de operações militares contra “Israel”, incluindo ataques com foguetes, emboscadas contra alvos israelenses na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em outras áreas disputadas e operações de resgate.
Durante o Dilúvio de al-Aqsa, operação militar lançada pelo Hamas com a colaboração de outras forças da resistência armada, Abu Hamza, porta-voz das Brigadas Al-Quds, informou sobre a detenção de vários soldados do governo israelense, conforme relatado pela HispanTV.
Ao longo dos anos, as Brigadas al-Quds ganharam reputação por suas afirmações de que possui espiões dentro das Forças de Ocupação Israelense e por ter capacidade logística para a produção do próprio armamento e foguetes, que foram apresentados no dia 4 de outubro do ano passado, junto com veículos militares, mísseis e outros equipamentos avançados de combate, portados na marcha por 4,5 mil combatentes às vésperas da operação militar palestina.
A Jiade Islâmica Palestina, organização da qual as Brigadas al-Quds são o braço armado, foi fundada em 1979, na cidade de Gaza, como uma extensão da Irmandade Muçulmana Palestina e foi influenciada ideologicamente na sua formação pelo regime islâmico no Irã, sendo historicamente apoiado pelo Irã, Síria e Hesbolá. Seus fundadores foram três estudantes da Universidade Islâmica de Gaza: Fathi Shaqaqi, Abdul Aziz Awda e Bashir Musa. Sendo Shaqaqi também seu Secretário-Geral até sua morte, em outubro de 1995, pelas mãos do Mossad, agência de espionagem israelense.
A JIP foi estabelecida em decorrência do desenvolvimento da situação política no Oriente Médio, como a Revolução Iraniana e o aumento das tensões entre “Israel” e os palestinos, com a submissão da OLP e da Autoridade Palestina a “Israel”.
A JIP foi formada como uma alternativa ao Fatá, que, na época, era a principal facção dentro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). A JIP tinha uma ideologia islâmica radical e acreditava na resistência armada como o principal meio de alcançar os objetivos palestinos, incluindo a libertação da Palestina e a criação de um Estado islâmico na região, e avaliava que cada vez mais a OLP se distanciava da capacidade de lutar pela soberania palestina.
Durante a Primeira Intifada, um levante popular palestino contra a ocupação israelense, que ocorreu de 1987 a 1993, as Brigadas al-Quds, realizaram uma série de ataques contra alvos israelenses, incluindo ataques suicidas e emboscadas contra soldados sionistas, ganhando destaque e influência por sua decisão no momento do combate.
Atualmente, a Jiade Islâmica Palestina está principalmente localizada na Cisjordânia, nas cidades de Hebrom e Jenin, auxiliando a formação de brigadas independentes na região, como pode ser observado sua influência sobre as Brigadas Tulkarem, que surgiram de palestinos radicalizados pela situação dos bairros de Tulkarem.
Com a frustração dos esforços de guerra de “Israel” contra a resistência armada, Abu Hamza, disse que “a batalha de Gaza pode em breve se espalhar para o interior da Palestina ocupada, e não está mais limitada apenas à Faixa de Gaza. Em breve, outros teatros poderão se juntar à batalha”.
A organização nasceu com o objetivo de promover a resistência armada contra a ocupação israelense dos territórios palestinos. Desde sua fundação, a JIP tem defendido a luta armada como um meio legítimo de alcançar os objetivos palestinos, incluindo a criação de um Estado palestino independente e a libertação de terras consideradas historicamente como parte da Palestina. A Jiade Islâmica na Palestina é atualmente a segunda maior força da resistência armada palestina, atrás apenas do Hamas.
Apesar da retórica religiosa inicial, se fez claro recentemente o compromisso da organização com o programa para a Palestina da qual são signatários os integrantes da resistência armada palestina, que visa, de maneira democrática, “convocar uma reunião nacional abrangente que inclua todas as partes sem exceção para implementar o que foi acordado em diálogos palestinos anteriores e enfrentar as consequências da brutal guerra contra nosso povo na Faixa de Gaza e os ataques bárbaros por gangues de colonos e forças de ocupação, bem como projetos de assentamento e anexação na Cisjordânia, especialmente em Jerusalém”.
Brigadas dos Mártires de al-Aqsa: luta armada na Cisjordânia
Publicado originalmente em 1º de março de 2024
Em suas últimas edições, este Diário vem publicando matérias sobre os principais grupos armados do povo palestino, que travam a luta diária contra a ditadura nazista de “Israel”. Afinal, é fundamental expor a tenacidade do povo palestino e, é claro, mostrar que o único caminho para que esse povo martirizado se liberte do sionismo é através da luta armada revolucionária.
Já foram publicadas matérias sobre as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam (Hamas), Brigadas Al-Quds (Jiade Islâmica), Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa (FPLP), Brigadas do Mártir Omar Al-Qasim (FDLP), e as Brigadas de Saladino, o Vitorioso (ala militar dos Comitês de Resistência Popular).
Todos as citadas acima atuam primordialmente na Faixa de Gaza, embora também tenha combatentes lutando contra “Israel” na Cisjordânia.
Assim, deve ser destacada também outra organização armada do povo palestino: as Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, que possui ampla atuação na Cisjordânia, lutando pelos palestinos contra a ditadura de “Israel”, seja ela exercida diretamente por suas forças de ocupação, pelos colonos sionistas, ou indiretamente pela Autoridade Palestina.
As Brigadas de al-Aqsa surgiram nos anos 2000. Embora não se possa precisar a data, seu surgimento ocorreu na conjuntura do movimento revolucionário que foi a Segunda Intifada (28/9/2000 a 8/2/2005), quando realizou inúmeros ataques contra assentamentos de colonos israelenses (em terras roubadas de palestinos) e postos militares das forças de ocupação. Ademais disto, atuou em conjunto com o Hamas e a Jiade Islâmica no ataque a cidades israelenses, segundo informações do portal sionista Yedioth Ahronoth (Ynet News).
As Brigadas de al-Aqsa eram, inicialmente, o braço armado do Fatá, o maior partido político palestino à época, cuja direção já havia capitulado perante “Israel”, ao menos desde os Acordos de Oslo (1993 e 1995). Assim, desde o seu início, muito embora tivesse sido formada por membros do próprio Fatá, as Brigadas de al-Aqsa surgiram contra a política capituladora da direção do partido. Foram um produto da mobilização revolucionária das massas palestinas.
Não foi coincidência, então, que, desde o início, a Autoridade Palestina, liderada pelo Fatá, tentou conter as ações de resistência das Brigadas. Como exemplo, em 2002, logo após o assassinato de seu fundador, Raed Al Karmi, pelas forças de ocupação, as Brigadas voltaram a realizar operações de tipo suicida em retaliação a “Israel”, operações estas que haviam cessado desde setembro de 2011. Yasser Arafat, então, tentou dissolver as Brigadas, mas sem sucesso.
No mesmo ano, outras lideranças do partido exortaram as Brigadas a cessarem sua luta armada, o que não ocorreu.
Como prova de sua atividade revolucionária em defesa dos palestinos, no ano de 2002, as Brigadas foram incluídas pelo Departamento de Estado norte-americano em sua lista de organizações terroristas estrangeiras. Com ficou notório desde o 11/9, o imperialismo utiliza-se frequentemente das acusações de terrorismo para atacar a luta dos povos e países oprimidos contra a ditadura imperialista.
Acima, mencionou-se o fundador das Brigadas de al-Aqsa, Raed Al-Karmi. Ele foi assassinado em 14 de janeiro de 2002, em um bombardeio realizado pelas forças israelenses de ocupação próximo à sua casa, na cidade de Tulcarém, Cisjordânia. Além de fundador, era também o comandante geral das Brigadas. Contudo, seu assassinato não foi o suficiente para desmantelar o grupo armado. Afinal, segundo o já citado Yedioth Ahronoth, as Brigadas são organizadas de forma descentralizada, para contornar a repressão sionista:
“ABrigada dos Mártires de al-Aqsa consiste em unidades localizadas e autônomas que atuam independentemente umas das outras e são frequentemente nomeadas em homenagem a militantes e terroristas palestinos recentemente mortos. A estrutura descentralizada do grupo funciona a seu favor, tornando os agentes e líderes mais difíceis de rastrear pela comunidade de inteligência.”
Apesar da descrição advir de um portal sionista, é crível, pois é condizente com o fato de que vários comandantes das Brigadas foram assassinados por “Israel” ao longo dos anos e, ainda assim, o grupo sobrevive.
Sendo a Autoridade Nacional Palestina um governo lacaio de “Israel”, este tentou por diversas vezes acabar com as Brigadas de al-Aqsa, enquanto estas ainda eram parte do Fatá. Uma dessas tentativas foi no acordo de anistia de 2007, em que a AP e “Israel” firmaram um acordo para 178 combatentes que estavam presos nos cárceres israelenses. Contudo, pelos termos do acordo, os combatentes deveriam abdicar da luta armada contra “Israel” e seriam permitidos fazer parte das forças de segurança da Autoridade Palestina, isto é, de um aparato de repressão que atuava a serviço dos sionistas.
Embora o acordo tenha sido aceito, as Brigadas renunciaram ao mesmo em agosto de 2007, pois as forças de ocupação prenderam dois militantes palestinos que estavam na lista da anistia.
O rompimento definitivo com o Fatá ocorreu ainda neste ano, quando Mahmoud Abbas anunciou um decreto proibindo “todas as milícias armadas e formações militares ou paramilitares irregulares, independentemente da sua filiação”.
Acima foi mencionado que, ao longo dos anos, vários dos combatentes e lideranças das Brigadas de al-Aqsa foram assassinados por “Israel”, na tentativa de desmantelar o grupo e a resistência palestina na Cisjordânia. Um dos comandantes assassinados foi Ibrahim Al-Nabulsi.
Também conhecido com o Leão de Nablus (em referência à cidade, um dos principais focos da resistência na Cisjordânia), Al-Nabulsi tinha apenas 19 anos quando foi morto em ataques das forças de ocupação a Nablus, em agosto de 2022. Apesar de jovem, já havia liderado inúmeras operações militares, o que lhe rendeu o respeito do povo palestino, de forma que seu velório foi acompanhando de uma greve geral na cidade, com estabelecimentos educacionais e comerciais em geral permanecendo fechados ao longo do dia, em demonstração de solidariedade.
Não só o assassinato do comandante das Brigadas não foi suficiente para desmantelar o grupo, mas radicalizou ainda mais o povo palestino de Nablus, que acabou criando um novo grupo armado, chamado Covil do Leão, grupo este cujos combatentes também lutaram no Dilúvio de al-Aqsa e lutam atualmente contra a ofensiva sionista contra a Palestina.
Atualmente, as Brigadas de al-Aqsa seguem enfrentando as forças israelenses de ocupação e sua ofensiva genocida sobre Gaza. Apenas nos últimos dois dias, alguns de seus feitos foram os seguintes:
- Alvejaram dois veículos militares israelenses com RPGs, a oeste da cidade de Khan Younis.
- Alvejaram um veículo blindado de transporte de pessoal (APC) israelense com um dispositivo explosivo “Storm” na cidade de Abasan Al-Kabira, a leste da cidade de Khan Younis.
- Bombardearam uma reunião de soldados e veículos israelenses em áreas a sudeste do bairro de Al-Zaytoun, na cidade de Gaza, com uma saraivada de morteiros calibre 60.
- bombardeou reuniões de soldados israelenses e seus veículos com morteiros pesados, ao sul do bairro de Al-Zaytoun, na cidade de Gaza.
- Travaram confrontos ferozes com as forças israelenses, utilizando armas automáticas e apropriadas, a leste da cidade de Khan Younis.
- Destruíram um veículo militar israelense com um dispositivo explosivo “Asif”, seguido por um foguete RPG, incendiando-o no bairro de Al-Zaytoun, a sudeste da cidade de Gaza.
- Atacaram uma reunião de soldados israelenses no eixo ao redor da Junção Doulá, ao sul do bairro de Al-Zaytoun, Cidade de Gaza, com morteiros calibre 60.
- Atacaram uma reunião de soldados israelenses no eixo norte da mesquita Musab bin Umair, a leste do bairro de Zaytoun, com morteiros calibre 60.
Da mesma forma, trava luta diária contra a ditadura sionista na Cisjordânia, seja contra as próprias forças de ocupação, sejam contra o aparato repressivo da Autoridade Palestina. Em feito recente, as Brigadas anunciaram, no dia 25 de fevereiro, que travaram combate feroz contra as tropas sionistas na cidade de Calquilia, utilizando-se de explosivos e metralhadoras, conforme divulgado pelo grupo em seu canal da rede Telegram.
No mesmo sentido, nessa quinta-feira (29), as Brigadas, junto de outros grupos da resistência palestina, impuseram uma desmoralizadora derrota às forças armadas israelenses, que tentavam invadir a cidade de Jenin, conforme noticiado por este Diário.
Brigadas Mujahideen: povo palestino em armas contra o sionismo
Publicado originalmente em 3 de março de 2024
Embora o partido político Hamas seja o principal representante do povo palestino na luta contra “Israel” e o imperialismo, e as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam (seu braço militar) a organização armada que lidera as ações da resistência palestina contra as forças israelenses de ocupação, o combate armado ao sionismo é travado por várias outras organizações, as quais formam a chamada “Sala de Operações Conjunta” da resistência.
Uma delas, cujos combatentes também lutaram na operação Dilúvio de al-Aqsa, em 7 de outubro de 2o23, e que promovem ataques diários contra as tropas sionistas, são as Brigadas Mujahideen.
Essa organização é a ala militar do Movimento Mujahideen Palestino.
Assim como várias organizações armadas recentes do povo palestino, tanto o Movimento quanto suas Brigadas foram fundadas no ano de 2001, em meio à Segunda Intifada (2000 – 2005), uma mobilização revolucionária das massas palestinas contra a ditadura nazista de “Israel”, cujo estopim foi a visita provocativa de Ariel Sharon à mesquita de al-Aqsa e a repressão sionista que recaiu sobre os palestinos que protestaram contra isso.
Fundadas por Omar Abu Sharia (Abu Hafs), as brigadas tiveram participação ativa na luta armada contra as tropas sionistas durante os anos da Segunda Intifada, utilizando-se de franco-atiradores para aniquilar os invasores, atacando-os com lançadores de mísseis e mesmo recorrendo a ataques suicidas, mostrando a abnegação dos combatentes palestinos.
Citando exemplo de ação realizada pelo Movimento Mujahideen e suas Brigadas durante a primeira metade da década de 2000, há uma operação conjunta realizada com as Brigadas al-Qassam, no ano de 2004, atacando o assentamento Netzarim, na Faixa de Gaza.
Em razão de sua luta contra o sionismo, as forças de ocupação bombardearam, em 2005, a sede da organização, em Tal al-Hawa Gaza. O ataque resultou no martírio de inúmeros quadros, inclusive lideranças. Como “Israel” não conseguiu assassinar o fundador das Brigadas, a perseguição a Omar Abu Sharia continuou.
Nova tentativa de assassinato foi realizada pelas forças de ocupação, em outubro de 2006. O veículo de Abu Hafs foi alvo de ataque aéreo. Novamente, os sionistas falharam. Mas o líder das brigadas ficou gravemente ferido. Ademais, Rajai Al-Labban, um dos comandantes das Brigadas, que o acompanhava, foi assassinado.
Omar Abu Sharia faleceu em 24 de abril de 2007 em razão de seus ferimentos, dos quais nunca havia se recuperado. Contudo, seu martírio pelas mãos dos sionistas não foi suficiente para desmantelar o Movimento e as Brigadas Mujahideen. Pelo contrário, como frequentemente ocorre na história da luta palestina, o martírio das lideranças e notórios combatentes serve apenas para impulsionar o povo palestino a lutar com ainda maior ferocidade contra “Israel”.
Assim, após o assassinato de Abu Hafs, as Brigadas cresceram sob a liderança do Dr. Asaad Abu Sharia, irmão de Omar, que assumiu o posto de secretário-geral do Movimento Mujahideen Palestino.
Se Abu Hafs foi o responsável pela criação do Movimento Mujahideen e por mantê-lo vivo durante a dura repressão do sionismo à Intifada, Asaad foi fundamental em expandir a atuação das Brigadas em Gaza, organizando a criação de brigadas menores, batalhões e unidades especializadas.
A expansão do movimento também ocorreu na Cisjordânia, por meio das células mujahideen, as quais possuem atuação nos centros urbanos, em especial nas cidades de Jenin, Hebron, Tulcarem, Nablus e Jerusalém.
Com um nível superior de organização ao que possuíam quando da Segunda Intifada, as Brigadas Mujahideen lutaram aguerridamente pelo povo palestino durante as guerras de 2008, 2012, 2014, a Grande Marcha do Retorno, os conflitos de 2021 e, é claro, a operação Dilúvio de al-Aqsa e atual batalha pela libertação da Palestina, conforme já mencionado.
Em razão de sua liderança, as forças sionistas tentaram assassinar Asaad quatro vezes, mas sem sucesso, de forma que o líder palestino segue no comando das Brigadas.
Atualmente, na luta contra o genocídio que “Israel” perpetra diariamente contra Gaza, e contra a ofensiva sionista contra os palestinos na Cisjordânia, as Brigadas Mujahideen estão entre as organizações armadas de maior destaques, realizando feitos e promovendo baixas diárias contra as tropas sionistas, as quais são noticiadas pelo portal de notícias Press TV.
Como exemplo, apenas para citar os últimos três dias, as Brigadas Mujahideen realizaram os seguintes feitos revolucionários contra os invasores sionistas:
- Destruíram um tanque militar israelense Merkava-4, atacando-o com um míssil guiado “Saeer”, a leste de Jabalia, no norte de Gaza;
- Abateram um drone espião israelense, a sudeste de Gaza, com um foguete SAM-7;
- Bombardearam o quartel-general do comando de campo dos militares israelenses no sul e oeste de Gaza com morteiros;
- Alvejaram assentamentos ilegais no Envelope de Gaza com uma saraivada de foguetes;
- Alvejaram o destacamento e as posições de soldados israelenses, a sudeste do bairro de Al-Zaytoun, na cidade de Gaza, com foguetes de curto alcance;
- Abateram um soldado israelense no eixo sul de Zaytoun, na cidade de Gaza;
- Atacaram uma reunião de forças israelenses, a leste do bairro de Al-Zaytoun, na Cidade de Gaza, com morteiros calibre 60 mm;
- Travaram confrontos com as forças israelitas nos eixos da cidade de Khan Younis com armas adequadas.
A existência das Brigadas Mujahideen, somada à existência de inúmeros outros grupos armados, uns menores, outros praticamente um exército profissional, como as Brigadas al-Qassam, mostram que a luta armada contra o sionismo é uma luta de todo o povo palestino, e o apoio à Palestina contra “Israel” não pode ser separado dessa luta.
Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa: a ação armada da FPLP
Publicado originalmente em 26 de fevereiro de 2024
Na Faixa de Gaza a luta armada do povo palestino não é apenas organizada pelo Hamas, há diversas organizações palestinas, verdadeiros partidos políticos, que também possuem a sua ala armada. Uma das mais tradicionais e que ainda mantém um papel de destaque são as Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa, o braço armado da Frente Popular de Libertação da Palestina. Elas participaram desde o primeiro dia da operação Dilúvio de al-Aqsa no dia 7 de outubro de 2023, mas surgiram de outro momento da luta armada do povo palestino, no ano de 1967.
A FPLP foi fundada em 1967 pelo médico George Habash logo após a guerra de julho, também chamada de Guerra dos Seis Dias, quando o Estado de “Israel” ocupou todo o território da Palestina. Sendo assim, atuou na Organização de Libertação da Palestina em seu momento mais revolucionário, a guerrilha, que durou até a década de 1980. Com a decadência desse movimento a FPLP também passou por modificações. A Brigada das Águias Vermelhas no ano de 2001, em meio a Segunda Intifada, ganhou seu nome atual após o assassinato de Abu Ali Mustafa, ela se tornaria cada vez mais semelhante ao atual modelo de organização armada da Palestina.
O Mártir Abu Ali Mustafa
Abu Ali nasceu em 1938 em Jenin, durante o mandato britânico da Palestina. Aos 17 anos ele aderiu ao Movimento Árabe Nacionalista que havia sido fundado, dentre outros, por George Habash, que viria a fundar a FPLP. Ele se tornou uma das lideranças do movimento nas décadas de 1950 e 1960, que na época atuava na Cisjordânia controlada pelo reino da Jordânia e que já reprimia a luta do povo palestino. Ele foi preso pelo governo e se manteve no cárcere jordaniano por cinco anos. Seu julgamento foi feito por uma corte militar.
Em 1961 ele foi liberto da prisão e manteve sua militância no MNA. Tornou-se o dirigente na seção do distrito norte da Cisjordânia até que, junto a Habash e outros companheiros, fundou a FPLP, depois a invasão israelense de 1967. Assim ele participou ativamente de toda a luta nas décadas de 1960, 70 e 80. Acabou sendo exilado, como grande parte da direção da luta armada Palestina. Voltou para a Cisjordânia, já na conjuntura dos acordos de Oslo, em 1999. Neste momento, como secretário-geral da organização, ele declarou: “retornamos à pátria para resistir, não para negociar”. Mantendo essa política revolucionária em um território controlado por “Israel” ele rapidamente se tornou um alvo do Mossad, agência de inteligência israelense.
Em 27 de agosto de 2001, dois anos após o seu retorno à Palestina, Mustafá foi assassinado por dois mísseis israelenses que atingiram o seu escritório em al-Biré. Seu velório foi uma gigantesca manifestação política, ele aconteceu durante um período de grandes mobilizações palestinas, estima-se que ele teve a presença de mais de 50 mil pessoas. Em resposta a seu assassinato, a FPLP eliminou o ministro do Turismo de “Israel”, Renavam Ze’evi, semanas depois. Ele era um dos mais direitistas do governo, defendendo abertamente a limpeza étnica nos palestinos. A Segunda Intifada e o assassinato de Abu Ali Mustafa marcariam o nascimento dessa nova organização.
As brigadas em ação
A Segunda Intifada foi um ponto de virada da luta armada do povo palestino, agora já liderado pelo Hamas. Com a expulsão da ocupação sionista da Faixa de Gaza, as organizações armadas puderam se organizar muito mais. Esse é o motivo de que sua aparência seja tão homogênea, com o uso de máscaras e uma bandana da organização na testa. As Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafá então começariam as suas operações.
Dentre as suas operações mais famosas estão: a morte de Meir Lixenberg, conselheiro e chefe de segurança em quatro assentamentos, baleado enquanto viajava em seu carro na Cisjordânia em 27 de agosto de 2001; a morte de Rehavam Zeevi, o único ministro israelense a ser eliminado na Segunda Intifada; uma operação suicida em uma pizzaria em Karnei Shomron, na Cisjordânia, em 16 de fevereiro de 2002, matando três israelenses; um atentado suicida em Ariel em 7 de março de 2002, que deixou feridos, mas sem fatalidades; um atentado suicida em um mercado em Netania em 19 de maio de 2002, matando três israelenses; um atentado suicida na estação de ônibus em Geha Junction em Petah Tikva em 25 de dezembro de 2003, que matou quatro israelenses; um atentado suicida em Bikat Hayerden, em 22 de maio de 2004, que não registrou baixas; um atentado suicida no Carmel Market em Telavive em 1 de novembro de 2004, que matou três israelenses.
Todas essas aconteceram durante a Segunda Intifada e demonstram ainda o nível incipiente da organização, os atentados à bomba e de homens-bomba depois seriam substituídos por uma luta armada muito bem organizada. As guerras na Faixa de Gaza, após a expulsão de “Israel”, foram se tornando cada vez mais complexas, culminando na atual invasão israelense de Gaza. As brigadas da FPLP participaram de todas elas, 2008, 2012, 2014, 2021 e agora em 2023-24. O interessante é que sua base em Gaza manteve as características revolucionárias do movimento que existia na década de 1970, ao contrário do Fatá, que capitulou completamente diante do sionismo.
Agora, mesmo sendo uma organização minoritária na luta armada, as Brigadas do Mártir Abu Ali Mustafa atuam lado a lado das brigadas do Hamas, da Jiade Islâmica, da FDLP e de diversas outras organizações de luta do povo palestino que, juntas, enfrentam a ocupação sionista. O espirito de Abu Ali Mustafá, que morreu aos 63 anos de idade, inspira todos os combatentes das brigadas.
Brigadas de Saladino, braço armado dos Comitês de Resistência
Publicado originalmente em 29 de fevereiro de 2024
Em 7 de outubro de 2023, organizações da resistência palestina, lideradas pelo Hamas e seu braço armado, as Brigadas al-Qassam, realizaram com sucesso a Operação Dilúvio de al-Aqsa, ação militar que expôs a debilidade militar de “Israel”, aprofundando a crise do sionismo.
Uma das organizações armadas que realizaram a incursão nos territórios ocupados por “Israel”, naquele 7 de outubro, foram as Brigadas de Saladino, o Vitorioso, braço armado dos Comitês de Resistência Popular.
Os Comitês surgiram na década de 2000, em oposição à política conciliadora da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o Fatá em relação a “Israel”.
Fundado por Jamal Abu Samhadana, ex-membro do Fatá e de uma de suas milícias armadas, o Tanzim, os Comitês são atualmente liderados por Abu Yasser Shashnyeh (Ayman al-Shashniya).
Algo importante de se destacar sobre os Comitês é que se trata de uma coalizão de diversas organizações armadas menores que atuam na Faixa de Gaza. Assim, na prática, os Comitês e as Brigadas de Saladino, o Vitorioso, seu braço armado, se confundem em uma mesma organização.
Quando de sua formação, era uma organização formada majoritariamente por ex-membros do Fatá e das Brigadas dos Mártires de al-Aqsa. Contudo, atualmente, após mais de duas décadas de existência e enfrentamento com a ditadura sionista, há em seus quadros muitos palestinos jovens que não fizeram parte de uma ou outra organização, mas que também sofreram na pele a repressão israelense.
Apesar de ter surgido nos anos 2000, e ter realizado vários ataques pontuais contra o sionismo e representantes do imperialismo durante a primeira metade da década, a primeira grande ação das Brigadas de Saladino foi na Operação Ilusão Dissipada, da qual também participaram as Brigadas al-Qassam e o Exército do Islã (uma organização militante jihadista salafista na Faixa de Gaza).
Essa operação ocorreu em 25 de junho de 2006, por volta das 5h30 da manhã, quando 7 ou 8 militantes palestinos das organizações citadas acima atravessaram a fronteira entre Gaza e os territórios ocupados por “Israel”, e atacaram posições das forças israelenses de ocupação, perto da passagem Kerem Shalom
A travessia foi feita através de uma rede de túneis, e, no ataque, os combatentes palestinos conseguiram aniquilar dois soldados sionistas e ferir mais quatro. Um dos feridos foi o israelense Gilad Shalit, que foi capturado e levado a Gaza. Foi mantido prisioneiro pelo Hamas por 5 anos, até que o governo de “Israel” resolveu reconhecer a derrota. Em 18 de 2011, houve a troca de 1.027 prisioneiros palestinos pelo soldado sionista.
Um fato que demonstra a capacidade militar dos combatentes dos Comitês Populares, é que suas Brigadas são conhecidas por já terem destruído tanques Merkava, o principal tanque de batalha das forças israelenses de ocupação. Uma tenacidade no combate que pode ser observada durante a Batalha de al-Furqan (também conhecida como Guerra de Gaza), que durou de 27 de dezembro de 2008 a 18 de janeiro de 2009.
O estopim daquela guerra foi quando “Israel” violou um cessar-fogo que havia sido acordado entre o Hamas e o Estado sionista. Já na primeira semana, as forças de ocupação tentaram uma invasão terrestre. Contudo, assim como ocorre atualmente, a invasão falhou ao enfrentar a resistência, que respondeu atacando as cidades israelenses de Berxeba e Axidode com mísseis e morteiros, o que obrigou o governo israelense a recuar na invasão, pois os números de mortos nas tropas sionistas aumentavam, assim como o repúdio internacional ao crescente número de palestinos mortos.
Apesar de órgãos do imperialismo afirmarem que a Guerra de Gaza de 2008-2009 resultou em uma vitória militar de “Israel”, ao fim foi uma vitória estratégia da resistência palestina.
Foi uma enorme vitória para a resistência palestina, em uma operação realizada por combatentes das Brigadas de Saladino, Al-Qassam e do Exército do Islã.
As Brigadas também lutaram na Batalha da Tempestade Makoul, também conhecida como a Guerra de Gaza de 2014. Ela foi um prelúdio do genocídio que “Israel” perpetrada desde o 7 de outubro.
Na Guerra de 2014, as forças de ocupação assassinaram 2.310 palestinos, 70% dos quais foram civis. O total de feridos, por sua vez, foi de 10.626. Contudo, apesar do morticínio, a resistência palestina promoveu baixas nas fileiras das forças de ocupação: foram 67 sionistas aniquilados e 469 feridos. Apesar de o número parecer baixo, foi o suficiente para expulsar “Israel” da Faixa de Gaza e estabelecer um cessar-fogo relativo com o Hamas e a resistência, que durou até o último 7 de outubro.
Diz-se relativo, pois o sionismo continuou exercendo sua ditadura sobre os palestinos, seja de Gaza, seja da Cisjordânia, através de prisões, assassinatos e mais.
Nesse sentido, vale citar os confrontos de novembro de 2018, que ocorreram nos dias 11 a 13. A morte de um dos membros das Brigadas de Saladino foi uma das razões que desencadearam o conflito.
E, em 2023, os Comitês e seus combatentes deram sua valorosa contribuição para o sucesso do Dilúvio de al-Aqsa, uma operação que pode muito bem ter sido o começo do fim do Estado de “Israel”
Atuando em conjunto com o Hamas e a Jiade Islâmica, atualmente as Brigadas de Saladino conformam o terceiro maior exército da resistência palestina em Gaza, atrás apenas das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam (Hamas) e Brigadas Al-Quds (Jiade Islâmica).
Brigadas Izz ad-Din al-Qassam: o terror dos covardes sionistas
Publicado originalmente em 24 de fevereiro de 2024
Em 7 de outubro de 2023, a resistência palestina realizou a Operação Dilúvio de al-Aqsa, uma operação militar por terra, ar e mar em que os combatentes palestinos de várias organizações adentraram no território que “Israel” havia lhes roubado, aniquilando centenas de soldados sionistas e fazendo prisioneiros.
A operação foi um profundo golpe no Estado sionista, possivelmente o maior em toda a história do sionismo. Gerou uma crise sem precedentes em “Israel”, a qual agravou ainda mais a crise atual do imperialismo, pois resultou no enfraquecimento de sua ditadura sobre o Oriente Médio.
Foram as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam, o braço armado do Hamas, a organização que liderou essa operação revolucionária.
Sendo o Hamas o partido político mais popular entre o povo palestino, as Brigadas al-Qassam são, naturalmente, a principal, maior e mais bem equipada organização armada desse povo martirizado.
Contando com cerca de 40 mil militantes, ela foi criada por volta do ano de 1991, na conjuntura política dos Acordos de Oslo, isto é, da capitulação da OLP e do Fatá perante “Israel”. Como o Hamas se opunha à política capituladora esposada nos acordos, que, dentre vários pontos, resultava no reconhecimento de “Israel” como um Estado legítimo, as Brigadas al-Qassam surgem para impedir que os acordos fossem firmados.
Ela foi fundada por Iahia Aiash, militante palestino fundamental em elevar o poderio militar do Hamas, em especial no que diz respeito à produção de artefatos explosivos, utilizando sua formação de engenheiro para este fim. Releia matéria já publicada sobre o revolucionário:
Conforme exposto então, a fundação das brigadas ocorreu através de uma reorganização interna realizada pelo Hamas. O partido já possuía unidades armadas, quais sejam, a al-Majd e al-Mujahidun al-Filastiniun. Elas foram reorganizadas e centralizadas em uma única unidade, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
Além disto, o nome das Brigadas são uma homenagem ao Xeique Izz ad-Din al-Qassam, um revolucionário palestino que viveu na Palestina na época do Mandato Britânico. Lutou contra o domínio colonial dos ingleses e a crescente invasão do sionismo durante a década de 1930 do século XX, invasão esta que era apoiada pelo imperialismo britânico.
Seu assassinato pela polícia do Mandato, no final de 1935, foi o estopim para a Revolução Palestina de 1936, um gigantesco movimento que foi, ao mesmo tempo, um ponto de inflexão no surgimento da nacionalidade palestina e a época em que todas as organizações da resistência palestina foram destruídas pelo Império Britânico (com auxílio das milícias fascistas do sionismo). Essa repressão de tipo fascista foi fundamental para garantir a fundação de “Israel”, em 1948-49.
Graças ao seu papel revolucionário em fundar as Brigadas al-Qassam e em liderar a luta armada do povo palestino contra “Israel”, Iaiash foi assassinado pelo Shin Bet. Após seu assassinato, os principais líderes da Brigada passaram a ser Salah Shehadeh, Mohammed Deif e Adnan al-Ghoul.
Acusado de liderar inúmeros ataques contra israelenses na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e mesmo no território ocupado por “Israel” na época da Segunda Intifada, Salah Shehadeh foi assassinado em uma operação das Forças Israelenses de Ocupação, no ano de 2002.
Adna al-Ghoul, braço direito de Mohammed Deif, também foi assassinado pelas forças de ocupação. Durante os anos em que esteve à frente das Brigadas al-Qassam, deu valorosas contribuições a inúmeras operações contra o sionismo, tais como preparar o cinto explosivo que foi utilizado no atentado suicida de Purim em 1996, no Centro Dizengoff, Telavive. Igualmente, durante a Segunda Intifada, desenvolveu o foguete Qassam e os foguetes anti-tanque Al-Bana e Yasin, todos criados com parcos recursos contrabandeados através de túneis entre o Egito e Gaza. Uma amostra da criatividade revolucionária do povo palestino em sua luta contra o sionismo.
Já Mohammed Deif continua vivo e liderando as Brigadas al-Qassam, tendo sobrevivido a inúmeras tentativas de assassinato por parte de “Israel”. Seu braço direito é Marwan Issa.
Deif, junto de Yahya Sinouar, foi o principal líder por trás do Dilúvio de al-Aqsa, ação está que é o ápice da evolução da resistência do povo palestino e das Brigadas al-Qassam.
Contudo, antes de chegar a esse nível, os combatentes das Brigadas travaram um árduo caminho na luta contra a ditadura sionista, resistindo da forma que lhes era possível. Nesse sentido, durante a década de 1990, o método de resistência mais utilizado era o dos ataques suicidas. Destaque fica para os seguintes, para os quais Iahia Aiash construiu as bombas que foram utilizadas:
- O atentado à bomba na Junção de Meola;
- O atentado ao ônibus Afula;
- O atentado da estação central de Hadera;
- O atentado ao ônibus 5 de Tel Aviv;
- O atentado ao ônibus Egged 36;
- O atentado ao ônibus Ramat Gan 20;
- O atentado ao ônibus 26 em Jerusalém;
- O atentado suicida em Beit Lid.
Tais atentados, somados a outras ações, serviram para gerar crises dentro do Estado de “Israel” perante a população israelense, o que permitiu ao Hamas e às Brigadas al-Qassam avançarem progressivamente em sua organização.
Na década de 2000, com a Segunda Intifada, as Brigadas se tornaram a principal organização da resistência palestina, sendo 2004 um ponto de virada na reorganização do grupo, sob a liderança de Deif. Isto ocorreu, pois a liderança do Hamas foi transferida para líderes exilados na Síria, na capital Damasco. Essa decisão foi necessária após as forças de ocupação assassinarem Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Rantis, fundadores e então líderes do Hamas, que moravam na Faixa de Gaza.
Segundo o historiador Guy Aviad, em sua obra Hamas’ Military Wing in the Gaza Strip: Development, Patterns of Activity, and Forecast, “a Faixa de Gaza foi dividida em seis ou sete divisões regionais, chefiadas por um comandante de divisão com responsabilidade sobre sectores definidos do território. Cada comandante de divisão supervisionava os comandantes de regimento e comandantes de companhia, que eram responsáveis por pequenas áreas, como bairros”.
Além disto, foi nessa época que a guerra em túneis passou a ser o principal método do Hamas para combater as forças israelenses de ocupação.
Com isto, as Brigadas deixaram de ser uma milícia pouco organizada, para ser um verdadeiro exército do povo palestino. Tanto é assim que conseguiram resistir à invasão das tropas sionistas em 2004 no norte da Faixa de Gaza, que consistiu em ofensivas sobre a cidade de Beit Hanoun e aos campos de refugiados de Beit Lahia e Jabalia, na época da Segunda Intifada. Desde então, as Brigadas cresceram em número e se profissionalizaram ainda mais.
Segundo o think tank norte-americano Institute for the Study of War, as Brigadas se organizaram de uma forma que assassinatos de lideranças são um método ineficaz para destruir a organização. Nesse sentido, referido instituto destaca o aspecto descentralizado das Brigadas, explicando que elas “estão divididas principalmente em cinco brigadas, divididas geograficamente. Cada brigada é dividida em vários batalhões, com 30 batalhões no total. Cada batalhão está associado a um assentamento importante. Eles podem ser realocados e mudar suas áreas de responsabilidade durante os conflitos”.
Ainda segundo o think tank norte-americano, essas brigadas e batalhões seriam os seguintes:
Brigada Norte – Governatorato de Gaza Norte
- Batalhão Beit Lahia
- Batalhão Beit Hanoun
- Batalhão al Khalifa al Rashidun
- Batalhão Mártir Suhail Ziadeh
- Batalhão Jabalia al Balad (Abdul Raouf Nabhan)
- Batalhão Imad Aql (Ocidental)
- Batalhão de Elite
Brigada de Gaza – Governadoria de Gaza
- Batalhão Sabra-Tal al Islam
- Batalhão Daraj Wal Tuffah
- Batalhão Radwan (al Furkan)
- Batalhão Shujaiya
- Batalhão Zaytoun
- Batalhão Shati
- Possível batalhão de elite, segundo relatos da mídia árabe, não confirmado pelo Hamas ou pelas IDF.
Brigada Central – Província Central
- Batalhão Deir al Balah
- Batalhão Al Bureij
- Batalhão Al Maghazi
- Batalhão Nusairat
- Possível Batalhão de Elite
Brigada Khan Younis – Província de Khan Younis
- Batalhão do acampamento (West Khan Younis)
- Batalhão do Norte Khan Younis
- Batalhão do Sul Khan Younis
- Batalhão Oriental (Khan Younis)
- Batalhão Qarara
- Batalhão de Elite
Brigada Rafá – Província de Rafá
- Batalhão Leste
- Batalhão Khalid bin al Walid (Acampamento Yabna)
- Batalhão Shaboura
- Possível quarto batalhão, nome desconhecido.
- Batalhão de Elite
Vale ressaltar que mesmo com “Israel” bloqueando a Faixa de Gaza há mais de uma década, tornando o enclave o maior campo de concentração a céu aberto que já existiu, o Hamas segue conseguindo armar as Brigadas com poder de fogo suficiente para conquistar vitórias contra as forças israelenses de ocupação.
Nesse sentido, além de possuir grande quantidade de rifles de assalto, granadas, morteiros e foguetes improvisados, as Brigadas também estão armadas com uma ampla gama de mísseis anti-tanque, tais com o Kornet-E , Konkurs-M, Bulsae-2, 9K11 Malyutka e MILAN; e. igualmente, MANPADS, isto é, mísseis antiaéreos lançados pelo ombro, tais como o SA-7B, SA-18 Igla, SA-24 e Igla-S.
Não é coincidência então que, em janeiro de 2024, as Brigadas já haviam destruído mais de mil veículos militares das forças israelenses de ocupação desde o 7 de outubro. Um exemplo de luta abnegada e que jamais poderá ser contida pela repressão do sionismo. Afinal, segundo informações de porta-voz das Brigadas, 85% de seus integrantes são órfãos que perderam parentes na guerra.
Assim, o Hamas, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam e seus militantes são um exemplo notório de resiliência e de como o oprimido (os palestinos), através de uma luta abnegada e persistente, que pode até mesmo durar décadas, conseguirão, inevitavelmente, derrotar seus opressores (no caso, “Israel” e o sionismo).
Que é exatamente o que se está vendo desde o dia 7 de outubro.
Brigadas do Mártir Omar Al-Qasim: o braço armado da FDLP
Publicado originalmente em 28 de fevereiro de 2024
Apesar do Hamas ser o principal partido político do povo palestino, e as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam o principal exército desse povo martirizado na luta contra a ditadura nazista de “Israel”, há outros partidos e organizações armadas que também fazem parte da resistência palestina. Um desses partidos é a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP).
O presente artigo é sobre seu braço armado, as Brigadas do Mártir Omar Al-Qasim, também conhecidas como Batalhões da Resistência Nacional Palestina (ou Brigadas de Resistência Nacional), nome que recebeu na época da Segunda Intifada, quando se organizou efetivamente como uma brigada a serviço da frente.
A FDLP foi fundada no ano de 1968 por Naief Hawatmé, como um racha da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), ambos partidos que se declaram marxistas.
Foi no ano seguinte, em 1969, que as Brigadas no Mártir Omar Al-Qasim foram fundadas, também por Hawatmé, sendo seu nome uma homenagem a Omar Mahmoud al-Qasim, militante palestino nascido em 1941 e membro do Comitê Central da FDLP.
Segundo informações do portal The Palestinian Museum Digital Archive, Al-Qasim era conhecido por lutar pelos direitos dos prisioneiros palestinos, sendo uma das principais lideranças no seio do movimento pela libertação dos presos. Um teórico erudito e um intelectual, sua militância permanece sendo um legado para muitos ativistas palestinos pelos direitos dos presos. Foi em razão de sua luta política contra o sionismo que ele foi preso em 1967, sendo assassinado nos cárceres israelenses no ano de 1989. Um verdadeiro mártir do povo palestino.
Tendo em vista que a FDLP era um partido pequeno, durante muitos anos sua atuação na luta armada se deu através de pequenas unidades de guerrilheiros palestinos, os chamados fedaim. Apesar disto, seus combatentes deram valorosas contribuições na luta contra “Israel”.
Cita-se como exemplo a atuação da frente na Guerra Civil do Líbano. Nessa época, já avançado em sua organização, os combatentes da frente se organizaram nas Forças Armadas Revolucionárias, que forneceram cerca de 2.500 homens para atuar junto à resistência palestina contra os maronitas e os sionistas. Assim, era, no início da guerra, o terceiro maior grupo armado dentro da resistência palestina, atrás apenas do Fatá e da As-Sa’iqa (Vanguarda da Guerra de Libertação Popular – Forças Relâmpago).
Segundo a Enciclopédia Interativa da Questão Palestina, durante a Guerra Civil do Líbano, as Brigadas “lutaram em batalhas para defender a resistência palestina na Jordânia”. Igualmente, lutaram “na Invasão Israelense ao Líbano em 1982, e na ‘Guerra dos Acampamentos’”.
Explicando sucintamente seu método de atuação, a Enciclopédia expõe que “ao longo da história da FDLP, os seus combatentes realizaram operações de alto nível nas profundezas da Palestina ocupada, lançadas a partir de ‘pontos de ancoragem’ que foram estabelecidos na Jordânia, nas Colinas de Golã e Sul do Líbano”. Nesse sentido, também atuaram ao longo dos anos para “repelir os ataques militares israelenses na Faixa de Gaza”.
Apesar de, a partir da década de 1980, a FDLP ter procurado se envolver mais na luta política, a resistência armada nunca foi deixada de lado. Tanto é assim que durante a Primeira Intifada (1987 – 1993), a frente formou unidades armadas com o nome de Forças da Estrela Vermelha.
Foi então no ano 2000, com a Segunda Intifada, que os combatentes armados da frente foram organizados efetivamente em um braço armado do partido, que ficou conhecido como Brigadas da Resistência Nacional Palestina.
Permaneceu sendo um agrupamento militar pequeno, mas seus combatentes nunca deixaram de atuar contra a ditadura de “Israel” e em defesa do povo palestino, seja em Gaza ou na Cisjordânia.
Então, em 7 de outubro de 2023, sob liderança das Brigadas Al-Qassam, braço armado do Hamas e principal exército do povo palestino, as Brigadas do Mártir Omar al-Qasim participaram da Operação Dilúvdio de al-Aqsa. Não se sabe ao certo quantos de seus militantes atuaram, mas certamente foi uma contribuição importante. A participação das Brigadas foi declara por Abu Khaled, comandante militar e porta-voz do grupo.
Desde então, as al-Qasim segue combatendo as tropas sionistas, tanto na Faixa de Gaza, quanto na Cisjordânia, valendo listar alguns de seus feitos mais recentes contra as forças de ocupação:
- Numa operação conjunta com as Brigadas Al-Qassam e Saraya Al-Quds, bombardearam três grupos de soldados israelenses e seus veículos com morteiros em Biyara Saqallah, a leste do bairro de Al-Zaytoun;
- Entraram em confrontos com forças israelenses, disparando RPGs contra veículos que penetraram no bairro de Khan Younis e Al-Zaytoun na Cidade de Gaza;
- Dispararam RPGs contra veículos do exército israelense a noroeste do bairro Al-Amal, na cidade de Khan Younis, causando danos diretos;
- Detonaram um dispositivo explosivo e dispararam um RPG contra veículos do exército israelense nas proximidades do sitiado Hospital Nasser, a oeste da cidade de Khan Younis.
Eixo da Resistência: coalizão anti-imperialista e antissionista
Publicado originalmente em 1º de maio de 2024
Desde o dia 7 de outubro de 2023, quando foi deflagrada a operação Dilúvio de al-Aqsa, o Hamas e demais organizações da resistência palestina, o Hesbolá, as Forças Populares de Mobilização, o Iêmen, a Síria e o Irã vêm lutando de maneira cada vez mais intensa pelo fim da ditadura nazissionista. Eles formam o chamado Eixo da Resistência.
Como se pode notar, o Eixo da Resistência é uma coalizão de países e organizações do Oriente Próximo que travam a luta anti-imperialista e antissionista na região.
Não se sabe ao certo quando ele foi criado, ou mesmo se houve uma data específica de fundação. Contudo, a luta internacionalista contra o colonialismo e o imperialismo se fez presente em discursos de Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana, e primeiro chefe de Estado da República Islâmica do Irã. Khomeini dizia que “a verdade em nossa política externa e internacional islâmica [é] que buscamos expandir a influência do Islã no mundo e reduzir a dominação dos colonizadores” e que “o significado de exportar nossa revolução é que todas as nações acordem e todos os governos acordem e se libertem dessa situação difícil que enfrentam e dessa dominação em que estão presos e se salvem do fato de que seus recursos estão sendo saqueados enquanto eles vivendo na pobreza”.
Assim, o triunfo da Revolução Iraniana impulsionou a luta dos povos muçulmanos da região por sua libertação nacional, seja das garras diretas do imperialismo ou de “Israel”. Uma organização que surgiu influenciada pelo triunfo revolucionário no Irã foi a Jiade Islâmica Palestina, em 1981, a partir da Irmandade Muçulmana. Seu braço armado são as Brigadas al-Quds, que estão na linha de frente da atual guerra contra “Israel”.
A luta contra o sionismo e os EUA em meio à população xiita no sul do Líbano também foi impulsionada pela Revolução Iraniana. Entre 1982 e 1985, o Hesbolá foi criado e organizado, contando com o auxílio de vários especialistas e combatentes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Na mesma época, igualmente no Líbano, a Organização Jiade Islâmica foi criada por Imad Mughniyeh. A organização esteve à frente de importantes ações de resistência contra o imperialismo, tais como as explosões dos quartéis das tropas imperialistas e da embaixada norte-americana em Beirute, ambas em 1983.
Pode-se considerar essa época um prelúdio do Eixo da Resistência, termo que foi mencionado pela primeira vez em 2002 em matéria publicada no jornal diário líbio Al-Zahf Al-Akhdar. Era uma resposta ao então presidente norte-americano George Bush, que difamava o grupo de países Iraque, Irã e Coreia do Norte como parte de um “Eixo do Mal”. A matéria publicada no jornal líbio tinha como título Eixo do mal ou eixo da resistência e dizia que “o único denominador comum entre o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte é a sua resistência à hegemonia dos EUA”. Com a invasão dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003, o termo foi utilizado pelo jornal iraniano Jomhuri-ye Eslami, em 2004, para se referir à resistência popular iraquiana, em especial à resistência xiita aos invasores norte-americanos.
Sobre essa resistência, recentemente, este Diário publicou matéria sobre o Hesbolá do Iraque, uma das principais milícias populares xiitas que compõem a coalizão chamada Forças Populares de Mobilização, esta, por sua vez, representante do Eixo de Resistência no Iraque. Vale ressaltar que o Hesbolá do Iraque foi fundado por Amal Jafaar al-Ibrahim, também conhecido como Abu Mahdi al-Muhandis, militar assessor da Força Quds e próximo de Qassem Soleimani, o arquiteto do Eixo da Resistência e líder da Quds de 1998 a 2020. Ambos estavam no mesmo veículo quando foram assassinados por um ataque aéreo dos Estados Unidos, em fevereiro de 2020.
Se antes da década de 2000 o Eixo da Resistência já vinha se desenvolvendo, manifestado especialmente na atuação do Hesbolá no Líbano, foi a partir dessa década, com a ofensiva generalizada do imperialismo contra o Oriente Próximo, marcada pelas invasões do Iraque do Afeganistão, que foi imposta a necessidade de acelerar o desenvolvimento do Eixo. Em entrevista datada do ano de 2019, o general Qassem Soleimani apontou ainda que a presença massiva dos EUA e demais forças imperialistas na região era uma oportunidade para “Israel” realizar uma ofensiva contra a Palestina:
“Depois do 11 de Setembro […] cerca de quarenta por cento das forças armadas à disposição dos EUA entraram na nossa região; e mais tarde […] até forças de reserva e de prontidão, bem como a guarda nacional, envolveram-se. Isto é, aproximadamente mais de sessenta por cento do Exército dos EUA, incluindo forças internas e extraterritoriais, foram destacados para a nossa região. Portanto […] só no Iraque havia mais de 150 mil soldados e mais de 30 mil militares dos EUA estavam presentes no Afeganistão.
[Incluindo] as forças da coligação, que eram cerca de 15.000 no Afeganistão, […] uma força de 200 mil membros, especializada e treinada, esteve presente em nossa região, próxima à Palestina. Esta presença proporcionou naturalmente oportunidades ao regime sionista. Ou seja, a presença dos EUA no Iraque foi um obstáculo ao dinamismo dos sírios na Síria, bem como uma ameaça ao governo sírio, e uma ameaça ao Irã.”
Em outras palavras, a própria existência do Eixo teve como razão de ser também a luta pela libertação da Palestina.
Nessa conjuntura, Imad Mughniyeh, o já citado fundador da organização Jiade Islâmica, um revolucionário libanês que era, igualmente, Chefe do Estado-Maior do Hesbolá, planejou e liderou operação militar que serviu de isca para que “Israel” desatasse mais uma invasão ao Sul do Líbano, dando início à Guerra de Julho, ou à Guerra do Líbano de 2006. Qassem Soleimani também esteve envolvido na Operação Promessa Verdadeira. Contudo, como relata o mesmo, foi Mughniyeh seu principal artífice:
“Uma operação especial foi realizada e foi comandada por alguém chamado mártir Imad Mughniyeh […] esta operação não durou um dia; pelo contrário, foi uma operação de alguns meses em que o regime israelense foi monitorizado. […] Uma das características de Imad Mughniyeh era sua meticulosidade e atenção aos detalhes. Assim, como ele geralmente planejava as operações de perto, o esboço do plano era dele, assim como a implementação dele. E Imad saiu vitorioso.”
O confronto, que durou 33 dias e terminou com a vitória do Hesbolá sobre as forças israelenses de ocupação, mostra que o poderio militar de “Israel” poderia ser derrotado por outro exército, de menor tamanho, e com menor tecnologia. Um ponto de virada na luta contra o sionismo. Embora não se possa precisar quando o Eixo da Resistência foi formado, é seguro dizer que sua consolidação se deu com a derrota de “Israel” na Guerra de Julho.
Não coincidentemente, o ano seguinte viu um avanço do Hesbolá do Iraque e demais milícias xiitas do Iraque, ligadas ao Irã. Foi neste mesmo ano que os EUA passaram a organizar a retirada de suas tropas do país, a qual terminou em 2011 (muito embora bases militares tenham sido mantidas no território iraquiano).
Após deixar o Iraque, o povo iraquiano e suas milícias populares ainda tiveram de lutar contra o Estado Islâmico, que estava sendo impulsionado pelo imperialismo. Nessa conjuntura, em 2014, foram criadas as Forças Populares de Mobilização, uma coalizão de cerca de 67 grupos armados e 230 mil homens, a maioria dos quais xiitas. Abu Mahdi al-Muhandis, como líder do Hesbolá do Iraque, foi um dos comandantes das Forças Populares na luta para derrotar a insurgência dos Estado Islâmico (EI). O Irã, através da Força Quds, liderada por Soleimani, foi fundamental nessa vitória contra o grupo, que atuava como força de procuração dos EUA, isto é, um substituto das tropas norte-americanas, cuja presença havia ficado insustentável.
Assim, o Eixo de Resistência se expandiu, dele fazendo o Irã, o Hesbolá e as Forças Populares de Mobilização.
De forma semelhante ao que ocorreu no Iraque, os EUA utilizaram o EI como principal força de procuração para tentar derrubar o governo nacionalista de Bashar al-Assad na Síria. Na guerra que foi desatada no país em 2011, é conhecido o papel da Rússia em garantir que o jogo virasse a partir de 2015, garantindo a vitória síria. Contudo, isto não seria possível sem o Irã, que, desde o início da guerra, treinou milícias populares para lutar contra as forças imperialista, seja o Estado Islâmico, seja setores da população síria que haviam sido impulsionados pelo imperialismo para se levantar contra seu próprio povo. Novamente sob a liderança de Soleimani, o Eixo da Resistência se expandiu, e milícias populares xiitas como as Brigadas Fatemioun, Zainebioun, Al-Abbas se destacaram.
Por fim, mas não menos importante, estão o Ansar Alá, partido revolucionário que governa o Iêmen e que chegou ao poder em 2014 na conjuntura da Primavera Árabe, época revolucionária no Oriente Próximo. Sendo o Ansar Alá uma força popular, os EUA não aceitaram sua tomada do poder e, já naquele ano, utilizou a Arábia Saudita para desatar uma guerra de agressão contra o Iêmen. Após cerca de oito anos de guerra e mais de um milhão de iemenitas mortos, o imperialismo foi derrotado. Embora tenha sido o povo do Iêmen o responsável por sua própria libertação, o Irã contribuiu fornecendo armamento e apoio logístico.
Desde então, o Iêmen, sob liderança do Ansar Alá, faz parte do Eixo de Resistência, e sua principal ação desde outubro de 2023 vem sendo o bloqueio de embarcações sionistas e imperialistas no Mar Vermelho e no Golfo de Adém, sufocando a economia do Estado nazista de “Israel”.
Com o fim do poder dissuasório de “Israel” e dos EUA no Oriente Próximo, o que foi marcado com o sucesso da Operação Promessa Cumprida, do Irã, a tendência é que o Eixo se expanda no próximo período para incluir novas organizações e países, fortalecendo a luta da resistência e do povo palestino por sua libertação nacional e pela destruição de “Israel”.
Força Quds e a luta pela libertação dos povos oprimidos
Publicado originalmente em 17 de abril de 2024
Neste sábado, 13 de abril de 2024, o Irã realizou a “Operação Promessa Cumprida”, ocasião em que lançou contra o território “israelense” centenas de VANTs (veículos aéreos não tripulados) e mísseis balísticos com o objetivo de atingir alvos militares envolvidos no ataque criminoso que a força aérea de “Israel” realizou contra o Consulado Iraniano em Damasco, Síria, em 1º de abril.
Naquele ataque, foram assassinadas 16 pessoas, várias das quais militares do Exército dos Guardiães da Revolução Islâmica, isto é, as forças armadas do Irã, popularmente conhecida como Guarda Revolucionária Iraniana. O principal alvo foi o Brigadeiro General Maomé Reza Zaedi, membro de grande importância da Força Quds, especialmente no que se refere às ligações de Teerã com o Hesbolá e com a Síria, partido e país que travam luta diária contra o sionismo e o imperialismo no Oriente Médio.
Zaedi não foi o primeiro militar da Força Quds assassinado covardemente por “Israel” e/ou pelo imperialismo. Antes dele, o general Qassem Soleimani, que era o comandante da força, foi assassinado pelos Estados Unidos em 2020, igualmente em ataque aéreo. Conforme já exposto por este Diário, Soleimani foi o arquiteto do Eixo da Resistência, grupo de países, partidos e milícias que lutam contra o sionismo e o imperialismo em apoio à libertação nacional da Palestina.
Fica clara, então, a importância da Força Quds para a luta antissionista e anti-imperialista do povo árabe e muçulmano. Essa unidade especial da Guarda Revolucionária Iraniana foi criada oficialmente há 36 anos, em 1988, ao término da Guerra Irã – Iraque, uma guerra fomentada pelos Estados Unidos para conter a Revolução Iraniana, que havia triunfado em 1979.
A Força Quds é um dos cinco ramos de atuação da Guarda Revolucionária Iraniana, e é especializada em guerra não convencional e operações de inteligência militar, funções que possui desde seu surgimento, quando da Guerra Irã-Iraque.
Apesar de ter sido criada oficialmente com este nome apenas após o fim da guerra, ela já existia durante o conflito, quando a unidade especial de inteligência Departamento 900 foi mesclada ao Departamento de Operações Especiais Externas.
Em 1982, quando do auge da Primeira Guerra do Líbano, uma guerra de agressão desencadeada por “Israel” e o imperialismo para destruir a resistência palestina, especialmente a OLP; unidades da Força Quds, totalizando cerca de 1.500 combatentes da Guarda Revolucionária Iraniana, foram enviados para o Líbano para auxiliar combatentes libaneses do Hesbolá a lutar contra a agressão sionista. Naquele ano, o quartel-general das forças israelenses de ocupação em Tire, Líbano, foi alvo de dois ataques suicidas, que resultaram na eliminação de mais de 160 pessoas, das quais 103 sionistas. Relata-se que o ataque foi realizado pelo Hesbolá e pela Força Quds.
No ano seguinte, dois ataques ainda maiores foram realizados contra o imperialismo e o sionismo. Fala-se do ataque a bomba à embaixada norte-americana em Beirute e do ataque ao quartel norte-americano em Beirute. Mais de 300 soldados norte-americanos e funcionários do imperialismo dos EUA e da França foram eliminados. Dentre eles, Robert Ames, principal analista da CIA para o Oriente Médio e diretor do Oriente Próximo e a maior parte do pessoal de Beirute da CIA. O principal comandante das Forças Quds por trás das ações de resistência era Ali-Reza Asgari. Já o chefe de operações do Hesbolá era Imad Mughniyeh, sobre o qual este Diário já escreveu. Ainda como parte da Guerra Irã-Iraque, no mesmo ano, a embaixada dos EUA no Cuaite, Iraque, foi alvo de um ataque a bombas que eliminou 17 serviçais do imperialismo. A ação de resistência foi realizada pelas Brigadas Badr, liderada por Abu Mahdi al-Muhandis, e pelo Hesbolá, através de Mustafa Badreddine, primo de Imad Mughniyeh. A Força Quds prestou auxílio nessa ação.
Já no século XXI, a Força Quds e o Hesbolá, nas pessoas de Soleimani e Mughniyeh, supervisionaram o fornecimento de armas para o Hamas e a Jiade Islâmica quando da Segunda Intifada, a partir do ano de 2002, segundo informações do militante libanês Anis al-Naqqash.
Igualmente, inteligência militar e equipamentos (especialmente explosivos) foram fornecidos pela Força Quds às organizações iraquianas que se levantaram contra o imperialismo norte-americano após a invasão de 2003. O auxílio prestado pela força iraniana foi de grande valia para que a resistência iraquiana combatesse a coalizão de países imperialistas que havia invadido o Iraque e também os mercenários da empresa Blackwater. Acontecimentos notáveis são a Emboscada de Faluja, em 2004, em que quatro mercenários foram eliminados; e a Emboscada de Bagdá, também em 2004, quando oito serviçais do imperialismo, dentre militares e funcionários, foram mortos.
Ainda no que diz respeito ao Iraque, a Força Quds, sob a liderança de Soleimani, foi fundamental no combate ao Estado Islâmico no país, em 2014, acabando com o controle territorial que essa organização a serviço do imperialismo detinha sobre grande parte do país. O mesmo já estava sendo feito na Síria desde 2011, em auxílio ao governo de Bashar al-Assad, que desde aquele ano, vinha resistindo à guerra de agressão desatada pelos Estados Unidos contra o país. Assim como no Iraque, o Estado Islâmico, ao que tudo indica, estava sendo utilizado pela CIA e por “Israel” para manter a ditadura imperialista sobre o Oriente Médio. A Força Quds foi fundamental para acabar com a ofensiva do imperialismo, através do Estado Islâmico, que durou de 2014 a 2019, aproximadamente.
No ano de 2018, o general Abdolreza Shahlaei, da força, foi enviado ao Iêmen para auxiliar o Ansar Alá na luta de libertação nacional do povo iemenita contra guerra de agressão dos EUA, que era realizada através da Arábia Saudita.
Em face deste papel revolucionário que a Força Quds possui no Oriente Médio e, vale dizer, em todo o mundo, não é coincidência que ela seja designada como uma organização terrorista pela Secretaria de Estado dos Estados Unidos, da mesma forma que é feito com a Guarda Revolucionária do Irã. A razão para isto? Seu “apoio contínuo e envolvimento em atividades terroristas em todo o mundo”. Em outras palavras, o apoio contínuo e envolvimento nas lutas dos povos oprimidos por sua libertação nacional da ditadura imperialista em todo o mundo.
Conheça a Frente Popular para a Libertação da Palestina – CG
Publicado originalmente em 14 de junho de 2024
A Frente Popular para a Libertação da Palestina – Comando Geral (FPLP-CG) é uma organização militante palestina que desempenhou um papel significativo na luta pela libertação da Palestina desde a sua fundação, em 1968. Originária de uma divisão interna na Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), a FPLP-CG tem sido uma força importante na resistência armada contra a ocupação israelense, comprometida com a luta pela libertação total da Palestina.
A organização foi fundada por Ahmed Jibril, um ex-oficial do exército sírio, após se desentender com a liderança da FPLP. Jibril, nascido em 1938, na Palestina, acreditava na necessidade de uma abordagem mais direta e militarizada para a luta pela libertação palestina, o que levou à criação do Comando Geral como uma organização separada.
A fundação da FPLP-CG ocorreu em um período de grande agitação no Oriente Médio, logo após a Guerra dos Seis Dias de 1967, que resultou na ocupação israelense de Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Gaza, e outras áreas. Esse período foi marcado por uma intensificação da luta armada palestina, com várias forças surgindo e buscando diferentes estratégias para alcançar seus objetivos.
A FPLP-CG é uma organização que se considera marxista-leninista e que advoga a luta armada como o principal meio de libertação. A organização tem um forte componente militar, com uma estrutura hierárquica e disciplinada. A ideologia da FPLP-CG é influenciada pelo nacionalismo árabe e pelo marxismo, defendendo a unidade dos povos árabes e a luta contra o imperialismo e o sionismo.
A liderança de Ahmed Jibril foi central para a organização, mantendo uma aliança próxima com a Síria e recebendo apoio significativo de Damasco. Essa relação permitiu à FPLP-CG operar bases na Síria e no Líbano, facilitando suas operações militares contra “Israel”.
Ao longo de sua história, a FPLP-CG esteve envolvida em numerosas operações militares e ataques contra alvos israelenses. Entre suas ações mais notáveis estão:
Ataques de Comandos e Sequestros: A FPLP-CG realizou vários sequestros de aeronaves e ataques de comandos. Um dos incidentes mais conhecidos foi o sequestro de um avião da El Al em 1968, que demonstrou a capacidade e a determinação do grupo em levar a luta para além das fronteiras da Palestina.
Operações Transfronteiriças: Utilizando bases no Líbano e na Síria, a FPLP-CG lançou ataques transfronteiriços contra forças e assentamentos israelenses. Essas operações eram projetadas para infligir danos e manter a pressão sobre Israel.
Aliança com Outras Facções: Embora tenha operado de maneira independente, a FPLP-CG manteve alianças táticas com outras facções palestinas e movimentos de resistência, participando de operações conjuntas e conferências para coordenar esforços na luta comum contra “Israel”.
A FPLP-CG enfrentou intensa repressão por parte de “Israel” e outras potências regionais. Suas bases no Líbano foram alvo de ataques aéreos e operações militares israelenses, especialmente durante a Guerra Civil Libanesa e as invasões israelenses ao Líbano em 1978 e 1982. Além disso, a organização teve que lidar com desafios internos, incluindo disputas de liderança e pressões políticas de seus patrocinadores regionais.
Frente de Libertação Árabe, o partido baath da Palestina
Publicado originalmente em 15 de junho de 2024
A Frente de Libertação Árabe é um pequeno partido político palestino que estava anteriormente sob o controle do Partido Baath liderado pelo Iraque, estabelecido por Ahmed Hassan al-Bakr em 1969 e posteriormente liderado por Saddam Hussein. A FLA é integrante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).
Ela oi criada em abril de 1969 como a frente do Partido Baath dirigido pelo Iraque e seguia rigorosamente as políticas do governo iraquiano em todas as questões. Em alinhamento com a ideologia árabe do Baath, a FLA inicialmente se opôs ao “caráter palestino” da guerra contra “Israel”, preferindo promover uma guerra mais ampla do mundo árabe contra “Israel”, que considerava sob a liderança natural do Iraque.
A Frente de Libertação Árabe era o principal grupo ativo na pequena população palestina no Iraque, de cerca de 34.000 pessoas, mas era extremamente pequeno em outras comunidades palestinas. Mantinha um pequeno grupo em campos de refugiados no Líbano e tinha uma presença mínima nos territórios palestinos. Samir Sanunu é o representante da FLA no Líbano.
Seu primerio líder foi seu secretário-geral, Zaid Haidar. Haidar nasceu na Síria na década de 1930 em uma família de nacionalistas árabes. Em 1956, ingressou no Partido Baath na Síria. Em 1968, foi para o Iraque após o golpe e se tornou parte do Partido Baath no Iraque. Em 1969, o governo iraquiano o nomeou secretário-geral do Partido Baath na Palestina, Frente de Libertação Árabe.
Em junho de 1969, a FLA tornou-se membro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), dirigida por Iasser Arafat. Era um meio pelo qual o Iraque poderia influenciar a OLP e os eventos na Palestina. Em 1974, juntou-se à Frente de Rejeição, inicialmente apoiada pelo Iraque, formada por facções palestinas radicais que rejeitaram o que consideravam a crescente moderação da OLP.
Após a OLP entrar nos Acordos de Oslo com “Israel”, a Frente de Libertação Árabe se opôs a esses acordos, em consonância com a política do governo iraquiano. Isso resultou em uma divisão na Frente de Libertação Árabe em 1993, com uma ala pró-Arafat se transformando na Frente Árabe Palestina e se mudando para os territórios palestinos; enquanto o restante da Frente de Libertação Árabe permaneceu na Frente de Rejeição.
Entre outros líderes da FLA estavam Munif al-Razzaz, Abdul Wahab al-Kayali e Abdul Rahim Ahmed. Al-Kayali foi secretário-geral pelo menos entre 1972-74 e serviu no conselho executivo da OLP a partir de janeiro de 1973. Foi assassinado em Beirute em 1981 por atiradores desconhecidos. Ahmed foi secretário-geral de 1975 (talvez 1974) até sua morte em 1991 e foi membro do conselho executivo da OLP a partir de 1977. O atual secretário-geral é Raqad Salem (Abu Mahmoud), que foi mantido em uma prisão israelense entre 2001 e 2006.
A FLA ganhou alguma importância durante a Segunda Intifada, que começou em 2000, como distribuidora de contribuições financeiras do governo iraquiano para as famílias dos “mártires”, com bônus adicionais para as famílias dos “homem-bomba”.
Após a invasão norte-americana do Iraque em 2003, a derrubada do governo de Saddam Hussein e a dissolução do Partido Baath, muitos refugiados palestinos que viviam no Iraque foram forçados a fugir do país, e muitos membros da FLA fugiram para o Líbano e a Cisjordânia por razões de segurança.
Hoje, o secretário-geral da FLA ainda é Raqad Salem, que possui cidadania iraquiana. Ele foi preso por “Israel” em 2001 por distribuir fundos iraquianos às famílias dos perpetradores dos ataques suicidas. Foi um dos 57 palestinos libertados em 2006 como um gesto de boa vontade. A FLA ainda mantém um assento no comitê executivo da OLP desde 1993, ocupado por Mahmoud Ismail.
A sede da FLA está localizada em Ramalá, na Cisjordânia ocupada. Ela publica o jornal mensal “Sawt al-Jamahir”, editado por Raqad Salem. O governo iraquiano financiava o jornal até 2003.
A Frente de Libertação Árabe não participou de ataques armados contra “Israel” desde pelo menos o início dos anos 1990 e acredita-se que não possua mais nenhuma capacidade militar significativa. Os Estados Unidos não a designam como uma organização terrorista estrangeira, e ela não está listada nas listas de terroristas das Nações Unidas, da União Europeia ou de qualquer outro país.
Liua al-Quds, a brigada de guerrilheiros palestinos na Síria
Publicado originalmente em 30 de abril de 2024
As Brigadas de Jerusalém, ou Liua al-Quds é uma milícia popular síria, formada principalmente por refugiados palestinos que vivem naquele país. Surgiu no ano de 2012, na conjuntura da chamada Guerra Civil Síria, ou seja, a guerra da Síria contra a intervenção imperialista. Fundada pelo engenheiro Muhammad al-Sa’eed, seu principal território de atuação vem sendo nas cidades de Alepo e Daara.
A Guerra na Síria começou em 2011, quando da Primavera Árabe, uma época de mobilização generalizada dos povos árabes e muçulmanos do Oriente Próximo e da África do Norte, mobilização surgida da crise geral do imperialismo, que havia se aprofundado em 2008.
Mobilizações populares também ocorreram na Síria, cobrando o governo por melhores condições de vida. Contudo, ante a ausência de uma direção revolucionária para a revolta das massas, os Estados Unidos interviram impulsionando parte da população Síria contra o governo de Bashar al-Assad. Assim o imperialismo organizou grupos armados para derrubar o governo. O mais famoso foi o Exército Livre da Síria, mas o próprio Estado Islâmico surgiu dessa forma.
Desde que foi criada, as Brigadas de Jerusalém, participaram de inúmeras batalhas combatendo tais forças pró imperialistas. Foram elas:
- Batalha de Alepo (2012–2016)
- Operação Canopus Estrela
- Operação Arco-Íris
- Ofensiva de Alepo (julho de 2015)
- Ofensiva Ithriah-Raqa (fevereiro de 2016 até os dias atuais)
- Ofensiva de Alepo (outubro-dezembro de 2015)
- Campanha Sul de Alepo 2016
- Ofensiva do Norte de Alepo (2016)
- Ofensiva de Aleppo (junho a dezembro de 2016)
- Campanha no Deserto da Síria (maio a julho de 2017)
- Ofensiva do sul de Raqa (junho de 2017)
- Campanha da Síria Central (2017)
- Ofensiva Rif Dimashq (fevereiro-abril de 2018)
- Ofensiva do Noroeste da Síria de 2019
- Campanha no Deserto da Síria (dezembro de 2017 até os dias atuais)
A população de palestinos da Síria foi duramente afetada nessa guerra. O princial local onde viviam, o campo de refugiados de al-Iarmuc foi palco de uma violenta batalha. No fim, a Liua al-Quds venceu, mas não lutou sozinha. Outra organização palestina também atuou, a FPLP, Frente Popular para a Libertação da Palestina, que agora luta na Faixa de Gaza ao lado do Hamas.
Nessas batalhas, não combateu apenas milícias pró imperialistas ditas de oposição à Assad. Lutou contra o Estado Islâmico, organização através da qual os Estados Unidos e “Israel” atuaram para desestabilizar e destruir governos nacionalistas e movimentos de libertação nacional no Oriente Próximo, especialmente a Síria e o Iraque. Por exemplo, em maio de 2018, as Brigadas, em colaboração com as Forças de Defesa Nacional (milícia síria nacionalista), fez ofensiva contra o território controlado pelo EI no deserto de Deir ez-Zor. Durante essa operação conjunta, a vila de Faidat Umm Muuainah foi conquistada,
Travando a luta aintiimperialista na Síria contra o EI e outras milícias, as Brigadas de Jerusalém receberam apoio da Rússia e do Irã, países atrasados cujo auxílio vem sendo fundamental ao governo Bashar al-Assad e o povo sírio a derrotar a agressão norte-americana contra o país.
Mas o envolvimento do Irã na guerra contra o imperialismo na Síria não foi apenas um auxílio. O país persa, através da Força Quds, unidade especial da Guarda Revolucionária liderada pelo general Qassem Soleimani, no combate ao Estado Islâmico, expandiu o Eixo da Resistência, de forma que as forças nacionalistas sírias do governo Al-Assad, e milícias populares como as Brigadas de Jerusalém passaram a fazer parte dessa coalizão de forças aintiimperialistas e antissionistas no Oriente Próximo, da qual também fazem parte o Hesbolá, o Ansar Alá e as Forças Populares de Mobilização iraquianas.
Quanto à estrutura militar das Brigadas de Jerusalém, ela possui quatro batalhões, nomeadamente, o Batalhão dos Leões de Jerusalém, o Batalhão dos Defensores de Alepo, o Batalhão de Dissuasão e o Batalhão dos Leões de al-Shaba.
Em demostração da derrota dos EUA em sua tentativa de derrubar o governo nacionalista sírio, no ano de 2018, combatentes sírios que inicialmente haviam pegado em armas contra o governo passaram a ser recrutados pelas Brigadas de Jerusalém. Em 2019, 150 combatentes que haviam deixado o Exército Livre da Síria, passaram a fazer parte das brigadas palestinas. No mesmo ano, as brigadas foram incorporadas ao Quinto Corpo de Assalto, do exército sírio, mas mantendo sua autonomia. Atualmente, possui algo entre 5 mil a 7 mil combatente, os quais se referem a si como Guerrilheiros Palestinos (Fedaim) do Exército Sírio Árabe.
Cataebe Hesbolá, grupo que liderou a expulsão dos EUA do Iraque
Publicado originalmente em 24 de abril de 2024
Incapaz de atacar o Irã, em resposta à Operação Promessa Cumprida, ação militar histórica que enterrou de vez o poder de dissuasão de “Israel” e dos EUA no Oriente Próximo, o Estado Sionista perpetrou ataque criminoso contra posições das Forças Populares de Mobilização (FPM), inclusive o quartel-general do Chefe do Estado-Maior. Contudo, mostrando que a resistência iraquiana não vai se curvar perante os ataques covardes dos sionistas, as FMP responderam bombardeando a base aérea de Ovda, no sul de “Israel”, e o porto de Eilat, um de seus mais movimentados portos, localizado no Golfo de Aqaba.
As Forças Populares de Mobilização são uma coalizão de organizações armadas iraquianas que travam a luta para expulsar o imperialismo norte-americano definitivamente do Iraque. Sendo elas um dos membros do Eixo de Resistência, igualmente luta contra “Israel”, em defesa do povo palestino. Um das principais organizações das FPM é o partido Cataebe Hesbolá, ou simplesmente Hesbolá do Iraque.
Não é o mesmo Hesbolá que surgiu e continua lutando no Líbano em apoio aos palestinos. A coincidência dos nomes é o seu significado: Partido de Alá. Além disto, ambos foram formados pela população de seus respectivos países para repelir a invasão do imperialismo. No do Líbano, a invasão foi feita primariamente por “Israel”. No caso do Iraque, fala-se da invasão norte-americana e britânica, que teve início em 2003.
Foi neste ano que o Cataebe Hesbolá foi criado, a partir do agrupamento de várias organizações armadas menores que resistiam aos invasores imperialistas. Seu fundador foi Jamal Jafaar al-Ibrahim, também conhecido como Abu Mahdi al-Muhandis, que significa “Pai de Mahdi, o Engenheiro”
Combatente iraquiano que também possuía cidadania iraniana, al-Muhandis fora membro das Brigadas Badr, milícia xiita iraquiana que lutou ao lado do Irã na Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Quanda da criação do Cataebe Hesbolá, Al-Muhandis era um conselheiro da Força Quds, grupo de operações especiais e de inteligência da Guarda Revolucionária do Irã, de forma que o grupo, desde sua criação, já fazia parte do Eixo de Resistência, travando uma luta consequente contra os EUA e “Israel”, não só para a libertação do Iraque, mas de todo o Oriente Próximo.
Uma vez organizado, e após anos combatendo os invasores imperialistas do Iraque, sem que a coalizão militar liderada pelos EUA conseguisse derrotá-lo, em 2007 o Cataebe Hesbolá não podia mais ser ignorado. Nessa época, suas ações militares de resistência contra bases norte-americanas no Iraque, assim como contra comboios de soldados da coalizão imperialista, eram filmadas e divulgadas. Por exemplo, em 15 de março daquele ano, quatro soldados norte-americanos foram aniquilados no leste de Bagdá (capital do Iraque) por explosivos improvisados feitos pelo Cataebe Hesbolá.
A resistência iraquiana, após oito anos de luta, e mais de um milhão de mortos, derrotou a invasão. O imperialismo teve de retirar as tropas do país, embora os EUA tenham mantido algumas bases lá. É impossível listar aqui todas as ações do Cataebe Hesbolá, que, junto das ações dos demais grupos armados, tornaram impossível que a invasão continuasse. Contudo, é certo que foram muitas e intensas, pois em 2 de julho 2009, a milícia popular xiita foi designada uma organização terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA. Conforme noticiou a agência de notícia Reuters à época, a justificativa dada pelo governo norte-americano foi que “a organização foi responsável por numerosos atentados com dispositivos explosivos improvisados, ataques com granadas lançadas por foguetes e operações de franco-atiradores, incluindo um ataque com foguetes em Novembro de 2008 que matou dois funcionários da ONU”. Isto é, o Cataebe Hesbolá foi considerado pelos EUA como terrorista por lutar pela libertação nacional do Iraque, contra os invasores norte-americanos.
Após os EUA fugirem do Iraque, o país ainda continuou sendo acossado por guerras provocadas pelo imperialismo, que se utilizou do Estado Islâmico para desestabilizar a região e eventualmente retomar o controle. Nesta época, o Cataebe Hesbolá fez parte da coalizão de forças que lutou contra o Estado Islâmico, sendo uma das organizações que assumiu a dianteira da luta. Participou das seguintes batalhas:
- Campanha de Saladino
- Levante do Cerco de Amirli
- Libertação de Jurf Al Sakhar
- Ofensiva Dhuluiya
- Batalha de Baiji (2014–2015)
- Segunda Batalha de Tikrit
A luta contra o Estado Islâmico no Iraque foi de 2013 a 2017. Foi nessa época, especificamente no ano de 2014, em que o Cataebe Hesbolá, junto de outras seis organizações armadas xiitas, formaram as Forças Populares de Mobilização.
Assim como atualmente a luta do grupo não fica restrita ao Iraque, mas é travada também em apoio à Palestina, naquela época, sua luta anti-imperialista se expandiu para além de seu território: o Cataebe Hesbolá participou da chamada Guerra Civil da Síria, combatendo a agressão do imperialismo e de seus agentes (por exemplo, o Estado Islâmico) contra o governo nacionalista de Bashar al-Assad e o povo sírio. Segue, abaixo, a lista de algumas das batalhas em que o grupo lutou:
- Cerco de al-Fu’ah e Kafriya
- Ofensiva de Aleppo (outubro-dezembro de 2015)
- Ofensiva do norte de Aleppo (fevereiro de 2016)
- Ofensiva de Palmira (março de 2016)
- Campanha no deserto da Síria (maio a julho de 2017)
- Ofensiva de Abu Kamal 2017
- Ofensiva Rif Dimashq (fevereiro a abril de 2018)
Desde que o Hamas, liderando a resistência palestina, realizou a Operação Dilúvio de al-Aqsa, no dia 7 de outubro, o Cataebe Hesbolá já realizou 243 ações militares em apoio à Revolução Palestina, sendo 90 contra alvos no Iraque, 88 contra alvos na Síria e 65 contra alvos em “Israel”. Isto que entre o Iraque e o Estado sionista está a Jordânia e a Arábia Saudita, dois países árabes subservientes ao imperialismo na região.