Guerra da Ucrânia

Após ligação de Trump, Putin aceita acordo de 30 dias

O Crêmlim detalhou que Putin enfatizou a necessidade de uma solução 'sustentável e de longo prazo', que contemple os interesses de segurança russos, ameaçados pela expansão da OTAN

Na última terça-feira (18), os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, realizaram uma ligação telefônica de mais de duas horas que pode marcar o início do fim do conflito na Ucrânia. Isso porque ambos concordaram em suspender por 30 dias os ataques a infraestruturas energéticas, com Putin ordenando imediatamente o cumprimento às Forças Armadas russas, conforme antecipado pela emissora russa Russian Today (RT).

A Casa Branca (sede do governo norte-americano) anunciou que negociações para um cessar-fogo mais amplo começarão de imediato, sinalizando um avanço diplomático que exclui, por ora, a participação direta de Quieve (capital da Ucrânia). A troca de 175 prisioneiros de cada lado, agendada para quarta-feira (19), e a entrega de 23 soldados ucranianos feridos como gesto humanitário reforçam a intenção de distensionamento.

Trump descreveu o diálogo como “muito bom e produtivo” em sua rede social Truth Social, destacando que a paz está “em pleno andamento” e que tanto Putin quanto o presidente ucraniano Vladimir Zelensqui desejam o fim da guerra. Ele mencionou que discutiram “muitos elementos de um contrato de paz”, incluindo terras e usinas elétricas, e expressou otimismo ao afirmar que o processo beneficia “a humanidade”.

Já o Crêmlim detalhou que Putin enfatizou a necessidade de uma solução “sustentável e de longo prazo”, que contemple os interesses de segurança russos, ameaçados pela expansão da OTAN no Leste Europeu. A suspensão de ataques foi acompanhada de um acordo para negociar a segurança marítima no Mar Negro, tema que Trump propôs e Putin acolheu positivamente.

Assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov afirmou na terça-feira (18) ao jornal russo Kommersant que o gigante eslavo mantém a esperança de paz, apesar de ataques recentes de veículos aéreos não tripulados (VANTs) ucranianos, como o de 11 de março, que matou 11 civis em várias regiões russas, incluindo Moscou. Ele classificou o episódio como o maior ataque do tipo na história, planejado para coincidir com negociações em Jedá, na Arábia Saudita, onde a ditadura ucraniana aceitou a trégua de 30 dias proposta pelo governo norte-americano.

Ushakov insistiu que seu governo agarra “todas as oportunidades” para um acordo rápido, mesmo diante de provocações. No mesmo dia da ligação, o Ministério da Defesa russo relatou cinco tentativas de incursão ucraniana em Belgorod, entre 17h30 e 18h45 (horário local), com até 200 homens e 29 equipamentos militares, todas repelidas sem perdas territoriais.

A Casa Branca, por meio da secretária de imprensa Karoline Leavitt, informou que Trump e Putin concordaram que o conflito “deve terminar com uma paz duradoura”. Além da trégua energética, planejam negociações técnicas para um cessar-fogo marítimo no Mar Negro e discussões sobre estabilidade no Oriente Médio e controle de armas estratégicas.

Leavitt destacou que uma relação melhorada entre EUA e Rússia traria “enormes negócios econômicos e estabilidade geopolítica”. O Crêmlim confirmou que os líderes criarão grupos de especialistas russo-americanos para avançar nas propostas, incluindo a troca de prisioneiros e a segurança no Mar Negro, além de explorarem parcerias econômicas e até partidas de hóquei entre a NHL (liga de hóquei norte-americana) e a KHL (Liga Continental de Hóquei, formado por equipes da Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia e China).

Desde que assumiu seu segundo mandato em janeiro de 2025, Trump rompeu com a postura de cerco total contra a Rússia adotada por seu antecessor, Joe Biden, que intensificou as agressões da OTAN contra o país eslavo. Contrariando a política do imperialismo, Trump vem buscando o diálogo com o homólogo russo, como evidenciado nas reuniões de 18 de fevereiro em Jedá e na Turquia, que normalizaram operações diplomáticas e aceitaram Aleksandr Darchiev como embaixador russo em Washington (capital dos Estados Unidos).

Cientista político da RAND Corporation, Samuel Charap escreveu no X que o cessar-fogo por etapas é “um caminho viável” para a paz, revivendo acordos quase selados entre Rússia e Ucrânia, como o de não agressão a infraestruturas energéticas, desfeito após a incursão ucraniana em Kursk, e outro sobre navegação no Mar Negro, próximo de conclusão em 2024. A pressão sobre Quieve também mudou o jogo.

Após resistir à mediação de Trump em 28 de fevereiro, quando Zelensqui desafiou a Casa Branca e viu a ajuda dos EUA suspensa temporariamente, aceitou a trégua em Jedá. A derrota em Kursk, onde perdeu mais de 68 mil soldados desde agosto de 2024, enfraqueceu ainda mais sua posição. A retomada de Sudzha pela Rússia em março de 2025 desmontou os planos de Quieve de usar o território russo como moeda de troca, levando o comando militar a declarar a missão “cumprida” apesar das evidências de retirada forçada.

Putin condicionou a trégua à interrupção total de ajuda militar e de inteligência a Quieve, apontando o risco de rearmamento durante a pausa. Ele citou ataques “bárbaros” ucranianos em Kursk como prova de violações passadas, mas garantiu a Trump que soldados rendidos terão tratamento humanitário conforme leis russas e normas internacionais. O deputado russo Leonid Slutsky disse à RT que os 148 minutos da ligação foram uma “diplomacia eficaz”, desde que os interesses nacionais russos sejam preservados. Já Alexei Zhuravlyov, da Duma (parlamento russo), declarou que Moscou negociará apenas com os EUA, excluindo Quieve do processo principal, visão reforçada pelo analista Michael Clarke à Sky News, que alertou que a Ucrânia “está no cardápio”, sem assento na mesa.

O diálogo entre Trump e Putin reflete uma virada contra o cerco da OTAN, que, desde 2014, pressiona a Rússia com a expansão para o Leste, que, por sua vez, respondeu aos ataques do imperialismo anexando a Crimeia após o golpe imperialista do Euromaidan na Ucrânia naquele ano e, em 2022, enfrentando uma guerra total após a tentativa de integrar Quieve à aliança militar dos países desenvolvidos. Para a Rússia, agredida por esse avanço imperialista, a negociação com Trump, um líder avesso à política dos monopólios, é uma chance de reverter a ditadura que sofre. A Casa Branca afirmou que a paz “nunca esteve tão próxima”, enquanto Putin e Trump planejam se encontrar pessoalmente, possivelmente na Arábia Saudita, para selar os próximos passos.

Abaixo, o resumo de telefonema entre Putin e Trump divulgado em caráter oficial pelo Crêmlim:

“Os dois líderes abordaram questões-chave, incluindo um cessar-fogo de 30 dias, uma troca de prisioneiros e segurança marítima.

O presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo dos EUA, Donald Trump, conversaram por telefone por mais de duas horas, discutindo uma resolução pacífica para o conflito na Ucrânia.

O Crêmlim informou que os dois líderes falaram sobre um cessar-fogo de 30 dias, uma troca de prisioneiros e segurança marítima, com Putin respondendo positivamente às propostas de Trump. Ambos manifestaram interesse na normalização das relações entre EUA e Rússia, concordando em continuar as discussões sobre segurança global, cooperação econômica e até intercâmbios culturais, como partidas de hóquei entre a NHL e a KHL.

O Crêmlim publicou um resumo do telefonema:

Uma conversa telefônica entre Vladimir Putin e o presidente dos EUA, Donald Trump, ocorreu em 18 de março de 2025.

Reafirmando seu compromisso com uma resolução pacífica do conflito, o presidente Putin expressou disposição para trabalhar de perto com os parceiros americanos em um acordo amplo e detalhado. Ele enfatizou que qualquer solução deve ser sustentável e de longo prazo, abordando as causas fundamentais da crise e considerando os legítimos interesses de segurança da Rússia.

Sobre a iniciativa de Trump para um cessar-fogo de 30 dias, o lado russo destacou preocupações essenciais, incluindo a necessidade de monitoramento eficaz ao longo de toda a linha de frente, a interrupção da mobilização forçada na Ucrânia e o fim do rearmamento das forças ucranianas. A Rússia também alertou sobre os riscos decorrentes do histórico de Quieve em violar acordos anteriores e chamou a atenção para ataques terroristas de militantes ucranianos contra civis na região de Kursk.

Foi enfatizado que uma condição fundamental para evitar uma escalada maior e avançar em uma solução político-diplomática é a cessação total da assistência militar estrangeira e do compartilhamento de inteligência com a Ucrânia.

Em resposta ao recente pedido de Trump para garantir a segurança das tropas ucranianas cercadas na região de Kursk, Putin confirmou que a Rússia age guiada por princípios humanitários. Ele assegurou a seu interlocutor que soldados ucranianos que se rendessem teriam sua segurança garantida e seriam tratados segundo as leis russas e normas humanitárias internacionais.

Durante a conversa, Trump propôs um acordo mútuo para evitar ataques à infraestrutura energética por 30 dias. Putin recebeu a iniciativa positivamente e ordenou imediatamente que as forças russas cumprissem a medida.

Putin também respondeu de forma construtiva à proposta de Trump sobre segurança marítima no Mar Negro, e ambos os líderes concordaram em iniciar negociações para definir melhor os detalhes desse arranjo.

Putin informou Trump de que, em 19 de março, Rússia e Ucrânia realizariam uma troca de prisioneiros envolvendo 175 detentos de cada lado. Além disso, como um gesto de boa vontade, a Rússia transferiria 23 soldados ucranianos gravemente feridos que estão atualmente recebendo tratamento em hospitais russos.

Ambos os líderes reafirmaram o compromisso de continuar os esforços para resolver o conflito na Ucrânia bilateralmente, incorporando as propostas discutidas. Para isso, serão estabelecidos grupos de especialistas russos e americanos.

Putin e Trump também discutiram questões internacionais mais amplas, incluindo a situação no Oriente Médio e na região do Mar Vermelho. Eles concordaram em coordenar esforços para estabilizar áreas de crise e ampliar a cooperação na não proliferação nuclear e na segurança global, o que contribuiria para melhorar o estado geral das relações entre Rússia e EUA. Um exemplo positivo dessa cooperação foi o voto conjunto de ambos na ONU sobre uma resolução relacionada ao conflito na Ucrânia.

Os dois presidentes manifestaram interesse mútuo na normalização das relações bilaterais, reconhecendo a responsabilidade compartilhada de Rússia e EUA na garantia da segurança e estabilidade globais. Nesse contexto, exploraram possíveis áreas de cooperação, incluindo parcerias econômicas e energéticas de interesse mútuo.

Trump apoiou a ideia de Putin de organizar partidas de hóquei nos EUA e na Rússia entre jogadores da NHL e da KHL.

Os presidentes concordaram em manter contato sobre todos os assuntos discutidos.”

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