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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

Racismo ambiental, mais um conceito importado dos EUA

 O problema das políticas identitárias está em subtrair do debate o seu elemento central, que é classe social

As fortes chuvas que provocaram enchentes na Baixada Fluminense, deixando um saldo de 12 mortos e de milhares de desalojados, deram ocasião a que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, pusesse em circulação nas redes sociais o conceito de “racismo ambiental”. A celeuma provocada em torno da publicação da ministra acabou sendo genericamente atribuída a uma suposta “burrice” ou ignorância dos críticos. Vamos tentar, então, compreender o conceito, que, naturalmente, os identitários importaram da pátria-mãe, os Estados Unidos da América.

Segundo a jornalista Cynara Menezes, apresentadora na TV Fórum, “o único ‘erro’ da ministra Anielle Franco é oferecer pérolas aos porcos ao falar em ‘racismo ambiental’. Essa gente só se informa por memes, qualquer conceito mais profundo, mais sofisticado, vai ser estopim para esse mimimi tosco, burro e racista em direção à ministra”.  Cynara, supostamente respondendo aos ditos bolsonaristas, não ajudou muito no debate. Sua postura elitista e intelectualoide é mais um indício de que a política identitária, embora se apoie nos dados estatísticos da população negra e pobre, conquistou os corações e mentes das classes médias em ascensão. Não por acaso, grandes empresas, institutos culturais de bancos (como Fundação Tide Setúbal e outras ONGs), a Rede Globo, gente à qual se podem oferecer as tais “pérolas” do saber, apoia efusivamente essa política.

Anielle, embora ministra do governo, parece falar para um grupo bastante elitizado, não para a população como um todo. Fora dos círculos identitários e decoloniais, muita gente desconhece o que seja “racismo ambiental”. O governo, então, fez publicar uma explicação, cuja base está no site da Fiocruz.

Ali ficamos sabendo que o termo foi cunhado pelo reverendo norte-americano Benjamim Chavis, um líder do movimento negro que era químico. “Racismo ambiental é a discriminação racial nas políticas ambientais. É discriminação racial na escolha deliberada de comunidades de cor para depositar rejeitos tóxicos e instalar indústrias poluidoras. É discriminação racial no sancionar oficialmente a presença de venenos e poluentes que ameaçam as vidas nas comunidades de cor. E discriminação racial é excluir as pessoas de cor, historicamente, dos principais grupos ambientalistas, dos comitês de decisão, das comissões e das instâncias regulamentadoras”, escreveu ele.

O mesmo site nos informa que “em 1983 nos oito estados do sul dos Estados Unidos (onde a segregação racial era notória), 75% dos depósitos de rejeitos eram instalados em bairros negros, embora a população negra representasse apenas 20% do total de habitantes da região”. Outros casos revelam que indústrias altamente poluentes eram instaladas em locais habitados por população majoritariamente negra ou indígena. Vê-se que o conceito, num país em que a população negra sempre foi visivelmente segregada, servia para pautar a luta dos negros contra grandes empresas.

O próprio Benjamim Chavis, de acordo com o próprio site da Fiocruz, “alertava no início da década de 1990 que, à medida que a luta contra o racismo ambiental nos Estados Unidos fosse bem-sucedida, os países pobres se tornariam depositários das grandes cargas de rejeitos tóxicos oriundos de indústrias e de outras atividades poluentes”. Segundo Tania Pacheco, citada no texto e também na nota emitida pelo governo, “isso de fato aconteceu”.

Ora, traduzindo essa discussão para os “ignorantes”, vamos chegar à súmula popular do capitalismo: “quem pode mais chora menos”. Numa sociedade de ricos e pobres, por óbvio, os ricos detêm poder e ficam com o melhor, deixando os restos para os pobres. No Brasil, existe uma maioria de negros nas populações pobres e remediadas, onde se dá também a miscigenação com brancos igualmente pobres e remediados. Nas classes mais elevadas, supõe-se que haja menos miscigenação, dado que os casamentos se dão, com raras exceções, na mesma classe social. O racismo sempre serviu aos detentores do poder, um modo fácil de garantir muita gente na pobreza. Isso não significa, porém, que só negros estejam submetidos à pobreza e às suas contingências.

O alerta de Benjamim Chavis mostra uma realidade que deveria ser observada com atenção, a qual decorre do imperialismo. O avanço da sua luta nos Estados Unidos empurra o problema para os países pobres. O problema das políticas identitárias, as quais temos criticado frequentemente, está em subtrair do debate o seu elemento central, que é classe social. No âmbito internacional, o polo de poder é o imperialismo. O máximo que esse tipo de política pode almejar é deslocar o problema.

No Brasil, um país em que a pobreza é bem democrática, ao usar a raça como explicação de todas as questões, o que se consegue é meramente que alguns negros obtenham lugares à custa do deslocamento de brancos de sua mesma classe. Enquanto isso, a burguesia continua no controle e a sociedade como um todo não avança. A política identitária tem algum efeito cosmético, mas conserva a burguesia na posição de poder. Seus próceres desejam apenas amealhar para si algum lugar na burguesia (ou perto dela), cuja existência enquanto classe pressupõe a existência de uma maioria de pobres.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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