– Por Antônio Carlos Silva, da Direção Nacional do PCO
Falando no principal ato nacional do 1º de Maio, em São Paulo, o presidente Lula criticou em seu discurso seus ministros e (indiretamente) a burocracia sindical, responsável pelo evento, afirmando que o “o ato foi mal convocado“, e acrescentou: “não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”.
Sem dúvida esse foi um dos problemas do ato, mas não o único. A própria convocação capenga da CUT e demais “centrais sindicais” que trataram de inúmeros aspectos burocráticos da organização, mas “se esqueceram” de chamar o povo trabalhador para participar do evento, resultou em um dos menores públicos das últimas décadas. Foi um dos atos mais insossos e em total desacordo com a tradição da data e as reais necessidades dos trabalhadores neste momento de agravamento da crise capitalista em todo o mundo e da crise política no Brasil.
Sem mobilização e sem política para mobilizar
O ato tratado como um ato oficial do governo, não só pela tradicional presença de Lula, mas pelo destaque dado a inúmeros ministros presentes, a quem foi dispensado mais tempo do que aos próprios sindicatos e aos trabalhadores que seriam os “donos” da atividade, não teve em sua convocatória nenhuma reivindicação concreta capaz de mobilizar os trabalhadores. Dominaram as generalidades sem conteúdo real tais como “trabalho decente”, “reconstrução dos direitos”, “valorização do servidor”, “aposentadoria digna”, coisas com as quais até os governos liberais e os patrões escravocratas se dizem de acordo, desde que colocado nesses termos, sem nenhum concretude.
No momento em que o mundo inteiro encontra-se dividido em torno da questão central da defesa do povo palestino contra o genocídio promovido por “Israel”, questão central da luta contra o imperialismo, ou seja, contra os vorazes apetites do capitalismo, isso sequer foi lembrado na convocação e na fala de 99% dos oradores.
Quando está em curso a combativa greve dos servidores das universidades e institutos federais, nada se falou da luta do funcionalismo e de nenhuma outra, e o ato se ateve em exaltar supostas realizações do governo, quando este – na realidade – encontra-se sob um intenso cerco da direita, que impede qualquer avanço real, significativo, que mude algum aspecto essencial da vida do povo.
Demagogia e campanha eleitoral
O que restou foi fazer demagogia anunciando medidas pífias como a sanção do reajuste da tabela do Imposto de Renda para isentar de desconto quem ganha até míseros R$2.800, quando ninguém deveria pagar imposto sobre salários, que não é renda, como os lucros dos capitalistas, auferidos às custas da exploração do trabalho alheio.
Ao invés de lembrar os mártires e heróis da luta dos trabalhadores, como o líder negro da Revolta da Chibata, João Cândido, aviltado nestes dias pelo ministro escravocrata da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, que não só se colocou contra a inscrição do nome do “almirante negro” no livro dos heróis da Pátria, como condenou a “insubordinação” dos marinheiros negros que, liderados por Cândido, se levantaram de forma magistral contra os castigos corporais aplicados contra os marujos (de maioria negra) mais de 20 anos após a abolição da escravidão no Brasil.
Com tal política, nem sequer seria possível uma convocação para valer, para que milhares de trabalhadores participassem do que deveria ser o ato do Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores. Não havia no ato pelo que efetivamente lutar. No máximo, aplaudir as limitadas ações do governo.
Mas a burocracia sindical, como é seu costume, não mobilizou, não convocou nos locais de trabalho, nos bairros operários… quem sabe com medo de que uma presença massiva dos trabalhadores pudesse dar um destino diferente, como nas assembleias sindicais massivas em que os trabalhadores se revoltam com a moleza e a paralisia das direções sindicais.
Assim, sobrou para o ato, em que, pela primeira vez em mais de 40 anos, os partidos de esquerda (incluindo o PT, PCdoB e PCO), convidados e presentes, não tiveram direito à palavra por meio de seus representantes, ser usado como espaço da
campanha pré-eleitoral do deputado Guilherme Boulos (PSOL), defensor da campanha impopular do “não vai ter Copa” (que teve amplo apoio da direita golpista) e da política de divisão da esquerda diante da luta contra o golpe quando criou a “sua” frente, para dividir a Frente Brasil Popular (criada pela CUT, MST, CMP, etc.). O mesmo Guilherme Boulos que tem como candidata a vice a golpista que Marta Suplicy, que traiu Dilma Rousseff, o PT e todo o povo brasileiro e votou na destituição da primeira mulher eleita presidenta e integrou o governo golpista de Michel Temer, entre outros crimes contra os trabalhadores.