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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Coluna

Paraíso Agora e a resistência palestina no cinema

Filme palestino de 2005 ajuda a entender os dilemas da resistência ao sionismo

Paraíso Agora (Paradise Now, 2005) é um filme de produção europeia e palestina. Foi dirigido pelo cineasta palestino Hay Abu-Assad, que nasceu em Nararé em 1961. É um dos títulos mais conhecidos de sua carreira, agora internacional, e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte ao seu lançamento.

Na história, os amigos Said (Kais Nashef) e Khaled (Ali Suliman), habitantes de Nablus, na Cijordânia ocupada, são recrutados por um grupo de resistência para se tornerem homens-bomba e explodirem a si mesmos em um ônibus em Tel Aviv. Acompanhamos os dois últimos dias de vida desses palestinos, suas dúvidas e seus dilemas diante da possibilidade iminente de morte.

O objetivo de Abu-Assad foi o de colocar o “homem-bomba” como protagonista, com o intuito de mostrar para a audiência quem é essa pessoa e porque realiza atos tão desesperados. De alguma forma, o filme funciona como uma ferramenta contra a propaganda sionista que naquela época já invadia nossas TVs e jornais acusando-os de “monstros” e de “fanáticos religiosos”.

Na forma, o cineasta utiliza o estilo hollywoodiano de narrar, criando uma espécie de suspense sobre se os personagens vão ou não atingir os objetivos, ou se vão sobreviver. Com isso, ficamos grudados no filme até o final. Em 2005, o Hamas ainda não era a organização que vemos hoje e os suicidas eram uma das formas de chamar atenção para o colonialismo brutal dos israelenses. O cineasta, que tem cidadania holandesa, não deixa de questionar essa opção e retrata a resistência daquele momento como frágil, que de certa forma iludia jovens. Talvez esse apelo tenha contribuído para a indicação ao Oscar.

No entanto, há um momento que é excepcional e vale por toda a película. É o monólogo de Said tomando a decisão de ir em frente com seu destino fatal. É um texto duro, frio e extremamente consciente da conjuntura histórica e de seu papel, como indivíduo, nesta conjuntura. É uma escolha lúcida que, ao contrário do que podemos pensar, passa longe de um discurso religioso.

Se as condições coletivas estivessem colocadas, seria um discurso revolucionário. Em um dado momento ele pergunta, de maneira atual, “o que eu sou se meu algoz também diz que é a vítima? Não, eu sou a vítima”. Para nós que estamos acompanhando o genocídio em Gaza parece que foi escrito ontem e não há 20 anos.

Recentemente, Abu-Assad concedeu uma entrevista que contém um relato comovente sobre a Palestina. Atores de seus filmes perderam todos os parentes nos bombardeios, alguns estão morando em tendas. Ele está tentando ajudar como pode.

O cineasta não se apresenta como um revolucionário, mas se define como um otimista. Deixou essa frase muito interessante em que aponta para uma ruptura transformadora no capitalismo como desenrolar dos acontecimentos em Gaza.

Ele diz:

E tal como aconteceu com a queda da Bastilha na Revolução Francesa em 1789… Gaza é a Bastilha dos nossos dias. Sim, vai haver muito sangue, mas a Bastilha está caindo e depois disso muita coisa vai mudar.

Além disso, a atual administração dos EUA é tão estúpida. Sinto muito, mas é tão estúpido. E o governo israelense é ainda mais estúpido. Perigoso, mas estúpido. É exactamente como aconteceu na França em 1789. A mudança está a chegar. E veremos um sistema melhor, um mundo melhor, com certeza.

Interessante notar que ele não é o único a afirmar o tamanho da revolução que se aproxima.

Paraíso Agora pode ser assistido no Prime Video.

A entrevista pode ser lida neste link.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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