Desde mesmo antes do golpe de 2016 no Brasil, a esquerda brasileira percorria um caminho de quase total ausência de senso crítico combativo e de princípios democráticos basilares, mesmo diante de uma “democracia burguesa” ou, do que podemos denominar muito claramente de ditadura da burguesia com um fino véu aparente de democracia; já que a verdadeira democracia deveria passar transitoriamente pelo que chamamos de ditadura do proletariado de acordo com a denominação marxista. Lembrando de maneira bastante incisiva de que o marxismo não se limita a construir conceitos e teorias revolucionárias sobre a luta de classes. O marxismo só pode existir de fato quando combina teoria e ação para a construção sociopolítica na direção da mobilização popular do povo e dos trabalhadores. A esquerda liberal se afasta cada vez mais do povo e dos trabalhadores, principalmente no bojo do golpe de Estado no Brasil que teve a sangria ultraliberal estancada pela tomada de poder institucional no governo Lula, mesmo que de forma limitada. Digo principalmente devido à passividade que aceitou e ainda aceita as investidas golpistas no interior do próprio governo Lula e as medidas antidemocráticas da coalizão burguesa pela direita e pela esquerda que minam a capacidade de governar do atual governo para o povo e os trabalhadores e ainda fragilizam propositalmente ou não a legitimidade popular de parte importante da população que apoia o presidente Lula.
Principalmente num momento onde a esquerda deveria se organizar para defender o mandato popular do presidente Lula a despeito da sua já conhecida coalizão burguesa. A defesa de um mandato popular em um governo nacionalista pequeno burguês nesse contexto de golpe de Estado serve como ponte para o avanço dos movimentos populares na direção mais à esquerda na luta política. A necessária e urgente aproximação com o povo e os trabalhadores se faz através de um movimento de rua e de uma leitura política lastreada pela realidade, concreta e determinada pelas relações sociais de produção; parafraseando o próprio Marx, onde o diagnóstico desse se pautar pelas determinações concretas na luta de classes. E é por isso que o Manifesto Comunista continua atual desde 1848 quando foi apresentado pela primeira vez em meio a um turbilhão pré revolucionário na Europa de meados do século XIX.
O que seria ainda mais atual do que a afirmação de que a história de todas as sociedades, até hoje existentes, é a história da luta de classes? Ainda mais se refletirmos sobre a atual crise bastante aguda do combalido imperialismo. Portanto, essa guerra é ininterrupta, ora franca, ora disfarçada com distintas gradações sociais. Se aquela sociedade no período medieval em transição passou a carregar o embrião das transformações profundas que eclodiram nas revoluções burguesas, o que dizer da atual crise profunda na entrada da terceira década do século XXI? Se a incipiente sociedade burguesa do período das revoluções industrial e política na Europa fez brotar o progresso industrial, urbano e material de modo geral, ao mesmo tempo que abriu espaços para a maior visibilidade dos antagonismos de classe como a única classe revolucionária poderia empurrar o imperialismo do século XXI definitivamente para o precipício “infinito”?
Muitas dessas provocações já estavam lá em 1848 quando o Manifesto foi lançado, mas a recuperação desse manuscrito revolucionário deve dialogar com o povo e os trabalhadores e ressurgir na prática concreta da mobilização popular afim de aperfeiçoar a organização da sociedade preparando-a para um confronto na disputa da luta de classes. A esquerda liberal ou pequeno burguesa está a reboque da burguesia a partir do que Marx e Engels já explicavam na Ideologia Alemã, poucos anos antes do Manifesto. A “ideologia dominante com seus valores, ideias, culturas, entre outros; através dos meios de produção estão em poder e são reproduzidos pela classe dominante”. A classe média de esquerda propagava esses meios de produção e de circulação das ideias e dos princípios políticos dominantes da burguesia, assim como a pequena burguesia em geral, assim como o povo de maneira geral. Mas o povo ainda está aberto ao diálogo e a organização política como alguns da esquerda liberal sob determinadas circunstâncias ou condições. Apesar do pensamento e da prática reacionária e conservadora de grande parte da classe média o povo e os trabalhadores são em grande medida aqueles que ascendem a chama da mobilização por serem uma classe legitimamente revolucionária e terá no Manifesto a sua inspiração e na prática de sua organização a força propulsora para impulsionar a chama da mobilização revolucionária. Viva os 175 anos do Manifesto do Partido Comunista no mundo e no Brasil!