Em cerimônia de posse realizada nessa quarta-feira (11/01) no Palácio do Planalto, em Brasília, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de vários ministros do novo governo, parlamentares, representantes indígenas e da luta pela igualdade racial, Sonia Guajajara e Anielle Franco tomaram posse dos Ministérios dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, respectivamente. Durante o discurso, Guajajara condenou os ataques dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) que aconteceram no último domingo (08/01).
A liderança indígena “fake” também chegou a comentar sobre o golpe de 2016 contra a então presidenta Dilma Rousseff e afirmou que trabalhará contra outras tentativas de golpe no país: ˜E aqui, Sonia Guajajara e Anielle convocam todas as mulheres para dizer, juntas, que nunca mais vamos permitir um outro golpe no nosso país˜. A declaração em si aparenta ser bonita, no entanto, na prática, o caminho é mais complicado. Mesmo dizendo ser contra o golpe, Guajajara já assumiu diversas vezes que é financiada pela Fundação Ford, uma das principais responsáveis pelo golpe de 2016.
A pretensa representante dos povos indígenas pertence ao povo Guajajara/Tentehar, que mora nas matas da Terra Indígena Arariboia, no estado do Maranhão. Paparicada pela chamada “comunidade internacional” (isto é, os representantes políticos do imperialismo), ela já integrou a Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (Coapima), da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), sendo também coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Também fez parte do GT dos Povos Originários e participou do relatório que mapeou as principais necessidades desse povo, como a demarcação de terras. Guajajara também atua como conselheira da Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais, Conselho ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) e participa, desde o ano de 2009, das Conferências Mundiais do Clima (COP). Há anos ela atua junto ao Parlamento Europeu e outros órgãos imperialistas, o que prova que ela tem várias ligações com interesses externos.
Com sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Fundação Ford, criada em 1936, é uma organização privada, oficialmente sem fins lucrativos, que visa ao suporte financeiro para instituições, projetos e pessoas em todo o planeta que estejam engajadas com a “defesa da democracia”, com a “diminuição da injustiça social e da pobreza”, assim como com o “desenvolvimento humano”. Publicamente, parece-se com uma instituição filantrópica.
A entidade possui dez escritórios espalhados pelo mundo inteiro, sendo um deles localizado no Rio de Janeiro, no Brasil, onde a atuação da entidade no país é mediada. A organização, desde o começo da década de 1980, tem se infiltrado no meio dos povos indígenas brasileiros, fingindo contribuir com projetos destinados à defesa dos direitos territoriais e humanos. Além disso, a fundação também trabalha com a inclusão de indígenas “de elite”, que em nada se assemelham com os verdadeiros indígenas brasileiros, no ensino superior no Brasil através de programas de auxílio ao acesso e apoia o edital Concurso de Fondos do Proyecto de Diversidad Cultural y Interculturalidad en Educación Superior en América Latina, que está relacionado a iniciativas de criação para desenvolver o ensino superior indígena em toda a América Latina e no Caribe. Porém, por detrás dessas boas intenções, há outros fatores a serem destacados.
Assim como o Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), a Fundação Ford é uma organização que pertence à burguesia com a finalidade de servir aos interesses políticos do imperialismo. Foi ela quem organizou o movimento Não vai Ter Copa de 2014, uma vez que os principais envolvidos eram ONGs financiadas por ela. Como revelou Frances Stonor Saunders em seu livro “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, a Fundação Ford não passa de um braço da CIA desde a década de 1950. E é a essa entidade com quem atual ministra da pasta dos Povos Indígenas está relacionada e já reconheceu essa ligação por diversas vezes.
Durante a realização da COP23, em Bonn, na Alemanha, em novembro de 2017, Guajajara revelou que a presença dos povos indígenas no evento só foi possível a partir do financiamento de Organizações Não-Governamentais (ONGs), citando, na ocasião, nominalmente, a Fundação Ford. Ou seja, ela tentou disfarçar, mas não conseguiu esconder quem contribui com a viagem da comitiva de 12 índios.
A partir dessa ligação com a entidade, Guajajara já protagonizou diversos episódios inusitados com figuras importantes do imperialismo norte-americano. Após o crescente aumento da violência contra os índios e o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips no Amazonas, ela chegou implorar a John Kerry, atual secretário para Assuntos Climáticos dos EUA e ex-presidente do país no governo Obama, para que ele ajudasse os índios no Brasil. E não parou por aí. Por meio da sua conta oficial no Twitter, ela solicitou que Joe Biden interferisse na política nacional para barrar as investidas do agora ex-presidente Jair Bolsonaro. Ela também bajulou aquele que hoje é o rei da Inglaterra, Carlos III, durante evento climático na Escócia.
Dessa forma, como ela pode dizer que vai lutar contra o golpe, sendo financiada por um dos principais culpados pelo que aconteceu no Brasil nos últimos anos? É preciso ver como Guajajara seguirá a sua política junto ao governo Lula, pois é bastante complicado, para não dizer impossível, defender as principais causas do país estando relacionada aos interesses imperialistas, cujos anseios são sugar o patrimônio nacional, passando por cima dos direitos da população, ou seja, as pautas dos povos indígenas deveriam ser resolvidas sem a influência de entidades internacionais.