O comentarista de economia do grupo empresarial de comunicação Rede Globo, Carlos Alberto Sardenberg, um notório liberal-direitista que aparece nos jornais noturnos da emissora para defender de forma passional o chamado “mercado”, nunca escondeu seu descontentamento e sua insatisfação com os governos petistas, desde quando o Partido dos Trabalhadores se tornou governo, na figura de sua maior expressão política, o presidente Lula, eleito pela primeira vez ao cargo máximo do país em 2002.
Nesse momento, o assalariado da família Marinho busca criticar a postura atual do presidente Lula, inequivocamente mais à esquerda do que foi em seus dois mandatos anteriores. Mas Isso não chega a ser novidade, pois mesmo durante os mandatos anteriores, em que Lula conduziu sua passagem pelo governo adotando um tom mais conciliador, os serviçais da Globo nunca deixaram de atacar os governos petistas, sempre se colocando em defesa do chamado “mercado”, vale dizer, dos capitalistas especuladores, sanguessugas da nação e do povo brasileiro.
Aqui, no entanto, queremos nos deter, de maneira mais pontual, num contraponto que Sardenberg fez à entrevista de Lula à Rede TV. O comentarista de economia dá início às suas “críticas” buscando fazer a defesa do mega empresário e bilionário, o brasileiro radicado na Suíça, João Paulo Lemann, protagonista recente, junto com seus dois outros sócios, de um gigantesco escândalo envolvendo fraude contábil em uma das suas múltiplas empresas, a varejista Lojas Americanas.
Na entrevista, onde abordou diversos outros assuntos, Lula atacou o bilionário Lemann dizendo que o “acionista principal das Lojas Americanas) joga fora R$ 40 bilhões de uma empresa que parecia ser a mais saudável do planeta Terra, e esse mercado não fala nada, ele fica em silêncio”. O presidente fazia alusão à chiadeira do mercado quando são anunciadas medidas que beneficiam o povo, como o aumento do salário mínimo; a proposta de correção do imposto de renda; etc.
Não parece ter sido somente o “mercado” que ficou irritado com as declarações do presidente, que mesmo antes de sua posse vem despertando o furor dos liberais direitistas endeusadores do “mercado”, pois não poupou críticas e ataques aos que nunca deram uma palavra contra o receituário liberal-entreguista do ministro Paulo Guedes, o posto Ypiranga do governo anterior derrotado nas urnas pela mobilização popular.
Sardenberg se insurgiu contra as palavras que Lula dirigiu ao “benfeitor” Lemann dizendo que não é porque o bilionário fraudador cometeu um erro enorme nas Americanas que isso tira o mérito de outras coisas que faz. Entre esses “méritos”, buscando exaltar os feitos de Lemann, Sardenberg diz que “é uma pena que o senhor (Lula) não conheça o trabalho da Fundação Lemann. Aplica bastante dinheiro para financiar o desenvolvimento de projetos pedagógicos e de gestão no ensino público. Toma também iniciativas para instalar internet de alta velocidade nas escolas públicas. E, sim, manda estudantes para Harvard. O bilionário poderia abrir uma escola privada e se aproveitar dos financiamentos do governo, mas, em vez disso, coloca seu dinheiro para apoiar o ensino público. Ajuda a reduzir a desigualdade”. Seria o apoio de Lemann ao ensino público uma ação desinteressada? Obviamente que não. O mega empresário tem o foco no mercado, e sua “ajuda” ao ensino público tem por propósito, não formar cidadãos com uma perspectiva crítica da sociedade, do capitalismo, da sociedade burguesa, mas está dirigida à formação de “jovens talentos” para atuar no “mundo dos negócios”. É para esses objetivos que são feitos os financiamentos.
Indo um pouco mais além na exaltação às supostas virtudes sociais do bilionário fraudador, Sardenberg cita artigo do cientista político Fernando Schuler – um notório inimigo das teses de esquerda – em artigo de sua autoria publicado na revista porta-voz oficial da direita chorume (Veja), onde o cientista busca destacar a “importância das iniciativas dos ricos muito ricos. Certamente, o dinheiro que Lemann gasta na fundação rende mais benefícios à sociedade do que se todos esses recursos fossem para o governo na forma de impostos. Também duvido que o setor público fosse mais eficiente”. É possível perceber claramente que para essa gente do mercado e seus defensores, tudo que é público e estatal precisa ser desacreditado, precisa ser destruído. Sardenberg chega mesmo a defender a sonegação, quando diz que o dinheiro que Lemann gasta na fundação dele rende mais dividendos à sociedade do que se os recursos fossem para o Estado em forma de impostos. Ele ainda duvida que o setor público fosse mais eficiente do que a sacrossanta iniciativa privada, vale dizer, o “mercado”.
Mas ainda não acabou. Lula – na mesma entrevista – atacou o famigerado teto de gastos, dizendo que é contra o povo e não funciona. Lá foi novamente o nosso ilustre comentarista de economia dos canais Globo elogiar o mecanismo, dizendo que o teto de gastos – instituído no governo do vice traíra e golpista Michel Temer – foi bom e funcionou. Ou seja, nada de gastos para as demandas populares, para atender as necessidades do povo trabalhador. Dinheiro bom é aquele que vai para o pagamento dos juros extorsivos da dívida pública que é drenado para os bancos, que consomem mais de 50% do orçamento nacional.
Esses e outros esperneios do mercado, dos seus representantes e defensores de plantão expressam, inequivocamente, a franca oposição que os exploradores capitalistas devotam ao governo Lula, particularmente a esse seu terceiro mandato, onde o presidente vem se colocando à esquerda não só nas declarações, mas se vê claramente que há um desejo de Lula em realizar um mandato voltado para a defesa e o atendimento das reivindicações populares. É contra isso que o “mercado” vem se insurgindo.
Lemman e outros capitalistas, que buscam se apresentam como homens com alguma “preocupação social”, nuca fizeram nada de bom para o país. Ao contrário, pois há inúmeras denuncias de abusos contra trabalhadores em suas empresas, assédio moral, pressão psicológica para cumprimento de metas e outras denúncias do gênero.