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Uma obra de Josef Stálin

A restauração da Igreja Ortodoxa e a frente com o imperialismo

A aliança de Stálin com a Igreja Ortodoxa na II Guerra Mundial serviu, propositadamente, aos interesses da burocracia soviética e do imperialismo mundial, não do povo soviético

Batalha de Stalingrado

No último 2 de fevereiro se completaram 80 anos da Batalha de Stalingrado, que culminou com a derrota da invasão alemã à URSS e selou o destino da Alemanha nazista.

O sítio A Verdade republicou uma matéria intitulada “A batalha de Stalingrado”, escrita por Leonardo Péricles em 2013. Segundo o texto, Stálin teria escrito que “o estado moral do nosso exército é superior ao do exército alemão, pois ele defende a Pátria contra os usurpadores”. Isso é um fato, mas os soldados não fizeram isso em nome de Stálin.

Quando os nazistas iniciaram a invasão da URSS pela Ucrânia Ocidental, foram recebidos como verdadeiros libertadores, e praticamente não encontraram resistência, uma vez que a população estava ressentida com o governo de Stálin, especialmente pelos erros grosseiros de sua política agrária, que poderiam ter sido evitados, caso o mandatário desse ouvidos à oposição. A repressão seguida à guerra civil causou um enorme desgaste do governo com os camponeses. A desorganização da agricultura, a escassez de alimentos daí decorrente, podem ter levado à morte algo em torno de 2 milhões de pessoas.

Conforme a população soviética foi vivenciando os horrores do nazismo, passou a reagir e uma profusão de guerras de guerrilha saturaram a retaguarda do exército alemão conforme avançava no território.

Ao contrário do que dizem os filmes de Hollywood, o exército alemão foi trucidado na União Soviética, onde perdeu nada menos que 600 divisões, cada uma tendo em média 12 mil homens.

A igreja

Segundo o texto de A Verdade: “ao contrário do que diz a raivosa burguesia sobre a suposta perseguição dos comunistas soviéticos à religião, a Igreja apoiou o Governo Soviético contra os nazistas. Frequentemente, os padres, em suas celebrações, faziam comparação dos nazistas com os ‘Cavaleiros Teutônicos’ que foram derrotados em 1242, na planície gelada do lago Peipus, por Santo Alexandre Nevsky, patrono de Leningrado. No entanto, no livro Stálin de Jean-Jacques Marie encontramos o seguinte trecho na página 554: Nenhum setor da população deve escapar das acusações de sabotagem, desvio ou conspiração: apesar do espaço muito marginal que a Igreja Católica ocupa na URSS, desde 1933 Stálin tem todas as peças de uma conspiração católica fabricada com o objetivo de reprimi-la”.

Stálin agiu com a Igreja Ortodoxa da mesma forma que agiu com todos os que estiveram ao seu redor ao longo de sua ditadura contrarrevolucionária: conforme as suas conveniências imediatas. Durante séculos, a Igreja Ortodoxa foi um pilar fundamental de dominação do czarismo sobre o povo russo, sustentando ideologicamente a opressão da monarquia. Ela desemprenhou um papel tão reacionário que, quando os trabalhadores tomaram o poder em 1917, um dos maiores alvos de sua fúria eram os padres e as igrejas. A população, esmagadoramente religiosa, voltou-se em grande parte contra o clero e apoiou as ações do governo revolucionário no sentido de poder o poder da Igreja. Assim, em 1918, os bolcheviques separaram a Igreja do Estado e estabeleceram um Estado laico, com plena liberdade de crença para todas as religiões, mas logicamente sem nenhum apoio às instituições religiosas que antes enriqueciam com a exploração do povo.

Assumindo o poder após o golpe contra a oposição liderada por Leon Trótski, Stálin iniciou uma política de proteção da casta burocrática através da adoção de uma política ultraesquerdista, conhecida como política do 3º período, igualando todos os social-democratas, liberais e demais setores não imperialistas e de extrema-direita ao fascismo. Foi nesse cenário que a repressão antidemocrática e antibolchevista foi iniciada contra os cristãos ortodoxos, incluindo a destruição de igrejas, coisa que os bolcheviques e os marxistas antes deles jamais advogaram.

Contudo, vendo o desastre dessa política, tanto interna como externamente (a fome causada pela repressão no campo, o fracasso da revolução na China, a ascensão do nazismo na Alemanha), a burocracia stalinista deu um giro de 180 graus. Iniciou a aproximação com a direita local e a burguesia internacional. Tentou acordos com a Inglaterra e a França e, batendo com a cara na porta, selou uma aliança com Adolf Hitler. Novamente derrotado, com a traição dos alemães que invadiram a URSS em 1941, Stálin voltou-se mais uma vez para os seus “amigos” franceses, ingleses e norte-americanos. Para conquistar o seu apoio, não viu nada de mal em fazer enormes concessões para a direita nacional, restaurando toda a simbologia e mesmo parte da política czarista, incluindo a recuperação do poder da reacionária Igreja Ortodoxa.

A relação com a igreja não era nada tranquila, como podemos atestar neste outro trecho do livro de Marie que mostra como o clero se aproximava do regime: “Internamente, Stálin reforça a orientação nacionalista marcada pelos temas patrióticos de sua propaganda. Na noite de 4 para 5 de setembro de 1943, acompanhado por Molotov, ele recebeu os metropolitas ortodoxos Serge, Alexis e Nicholas, anunciou a reabertura das igrejas e pediu-lhes que lhe fornecessem a lista de padres presos para estudar sua reabilitação e sua eventual libertação. Os três metropolitas desconfiam, temem uma armadilha e tomam cuidado para não entregar tal lista. A entrevista termina com a decisão de criar um Conselho para os assuntos da Igreja Ortodoxa, efetivamente formado um mês depois, e culmina com a promessa, que se cumprirá, de autorizar a reunião de um conselho de bispos ortodoxos encarregados de escolher o patriarca de todas as Rússias”.

Stálin, com uma política nacionalista e mesmo chauvinista, então, resolveu espoliar a Igreja Católica no benefício dos ortodoxos, sob a desculpa de que uma era a representação do povo soviético e a outra dos colaboradores do nazismo na Ucrânia – uma justificativa reacionária que deixaria Lênin se revirando em seu mausoléu na Praça Vermelha. O caráter de classe das duas Igrejas, bem como a questão política, fundamental, são ignorados olimpicamente. Com isso, a Igreja Ortodoxa foi sendo reintegrada à política soviética. É há stalinistas que hoje reclamem das ligações de Putin com essa Igreja…

Vejamos: “A vitória do Exército Vermelho liga, ainda mais do que antes da guerra, os problemas de ordem internacional aos problemas de ordem interna da URSS. A integração da Ucrânia ocidental arrancada da Polônia em 1939, ocupada pela Wehrmacht por dois anos e meio e devastada pelas bandas do nacionalista Stepan Bandera, levou Stálin a estreitar os laços com a Igreja Ortodoxa. De fato, a Ucrânia Ocidental é o reduto da Igreja Uniata, uma Igreja de rito ortodoxo que aceita a autoridade do Papa. Em 15 de março, Karpov, um agente do NKVD, colocado à frente do Conselho da Igreja Ortodoxa, a pedido de Molotov, enviou a Stálin uma nota na qual afirmava: ‘A Igreja Ortodoxa Russa, que no passado não tinha dedicado esforços suficientes na luta contra o catolicismo, pode e deve desempenhar um papel significativo hoje na luta contra a Igreja Católica Romana (e contra a Igreja Uniata) que enveredou pelo caminho do fascismo e tenta influenciar a construção do mundo depois da guerra.’ Stálin rabisca na nota: ‘Concordo’ em usar e apoiar a Igreja Ortodoxa contra a Igreja Católica”, diz J.J. Marie.

Fantasia vs Realidade

Os novos adeptos do stalinismo costumam fantasiar os feitos de Joseph Stálin, mas a realidade é que foi a população soviética, a força popular, que esmagou, com extremo sacrifício, o nazismo, apesar de Stálin.

O que deve ficar marcado nessa invasão foi a ferocidade do imperialismo alemão contra o povo russo. Se o Holocausto judeu foi um crime hediondo, o que fizeram na URSS foi ainda pior. Há uma estimativa de que tenham morrido vinte milhões de pessoas, mais de três vezes o que se estima de judeus exterminados nos campos de concentração. Não se sabe ao certo o número mortos, pois Stálin, sua omissão, foi um dos fatores desse morticínio, e, portanto, interessava ao seu governo ocultar o tamanho do estrago.

Ainda que se atribua toda essa violência ao fascismo, não podemos nos esquecer que o fascismo é um dos modos de atuação do capitalismo. Se olhamos a política brasileira atual, facilmente se comprova essa realidade. Jair Bolsonaro, um protofascista, que, embora não fosse o candidato preferencial da burguesia em 2018, chegou ao poder com um golpe orquestrado pela burguesia. Nas eleições de 2022, o apoio burguês foi amplo por sua reeleição. A grande imprensa – exceção para o grupo Globo, que tinha interesses particulares a tratar com Bolsonaro – resolveu atacar os dois candidatos o que, na prática, significou apoio à extrema-direita.

Um outro fator inequívoco de que a burguesia se utiliza do fascismo é o apoio dos grandes jornais à atuação da bancada bolsonarista no Congresso, que faz uma ferrenha oposição a Lula. Segundo esses porta-vozes da burguesia, essa atuação colocaria certos freios ao governo e “equilibraria o jogo democrático”.

O caráter de classe do fascismo não está desconectado da realidade, basta ver a destruição que o imperialismo tem feito na Iugoslávia, no Iraque, na Líbia, na Síria, no Iêmen.

O feito do povo russo, as guerrilhas que lutaram contra os invasores foi uma proeza ainda maior se considerarmos que tiveram que lutar, simultaneamente, contra a inépcia de Stálin e a poderosa máquina de guerra nazista.

A derrota do lado fascista do imperialismo, ou a vitória do setor ‘democrático’, abriu caminho para uma feroz atuação do imperialismo sobre o mundo, com o esmagamento da esquerda em diversos países da Ásia, da África, bem como a instauração de ditaduras, de governos fantonches alinhados com os interesses do grande capital. Para isso, tiveram que liquidar com toda a oposição que esses governos sofriam em seus países, ou seja, exterminaram boa parte da intelectualidade. A censura instaurada nos países coibiu o desenvolvimento cultural dos países atrasados. O dinheiro sangrado para o exterior também contribuiu para a perpetuação do atraso.

O antifascismo combate uma forma política, o que faz com que os ‘ferrenhos antifascistas’ se tornem ferrenhos defensores da democracia burguesa, de políticas de frente ampla com setores da burguesia, como vemos na defesa apaixonada que setores da esquerda fazem às instituições do Estado burguês, como o Supremo Tribunal Federal, peça fundamental para que a extrema-direita subisse ao poder. A luta contra a burguesia fica em segundo plano,

Boa parte dos partidos comunistas, sob o stalinismo, ajudaram a estabelecer partidos direitistas na Europa, o restabelecimento da dominação imperialista sobre o mundo em um de seus momentos de maior fraqueza.

O fascismo não vai ser derrotado pela democracia porque essas duas políticas são faces da mesma classe social. A derrota efetiva do fascismo só pode vir das mãos da classe operária. E a alternativa ao fascismo é o socialismo, não ao democracia. Isso tem que ficar muito claro porque é uma questão estratégica vital da política.

O stalinismo foi uma política profundamente antipopular, sua atuação desastrosa impediu o pleno desenvolvimento da revolução mundial que estava madura com o pós guerra. A política de Stálin permitiu ao capitalismo se recuperar e se instar por todo o mundo. Não podemos deixar que a bravura do povo russo, que derrotou a face raivosa da capitalismo fique em segundo plano. É ela que deve receber os créditos desse grande feito, não Stálin.

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