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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Cinema e Política

A fragilidade da religião em Nazarin, de Luis Buñuel

Filme mostra um padre que confronta seu idealismo abstrato com a realidade social concreta

Nazarin (Nazarín, 1959) é um filme dirigido pelo cineasta espanhol Luis Buñuel ainda em sua fase mexicana, país onde produziu vários longas. Trata-se de um dos mais importantes filmes de sua carreira e ainda conserva uma enorme atualidade pelos temas abordados.

Na história, o Padre Nazário (Francisco Rabal) é o nosso protagonista. Ele vive em comunidades extremamente carentes e presta auxílio espiritual aos necessitados.

Um dia, acaba se envolvendo em uma trama de assassinato. A prostituta Andara (Rita Macedo) briga com uma colega a quem acusa de ter-lhe roubado botões e acaba matando-a com uma facada.

Desesperada e também ferida, ela decide se esconder no modesto apartamento do Padre, que lhe oferece abrigo, sem julgar seu ato.

(Quando não se tem nada, prosaicos botões podem valer mais do que a vida).

A polícia se coloca no encalço da mulher e acaba envolvendo o Padre como cúmplice. Sem saída, ele abandona sua modesta vida e parte em peregrinação.

O filme gira em torno de questões morais. O Padre é jovem e extremamente idealista. Seu cristianismo dogmático está na linha do de São Francisco de Assis.

Ele tem uma visão idealizada da função da Igreja na comunidade e da caridade que deve ser praticada.

É como uma figura sacrificial que vemos em tantos filmes religiosos, na sua acepção de amar ao próximo como a si mesmo e no altruísmo de ser despossuído de vaidades ou de bens.

Em sua peregrinação, como o próprio nome do filme aponta, ele passa por diversos encontros com pessoas muito pobres em situações precárias e tenta levar seu conforto de cristão.

O objetivo de Buñuel é apresentar as contradições que essa atitude bem intencionada gera quando confrontada com a materialidade das situações sociais reais. Ele aponta as contradições do messianismo.

Em um dado momento, por exemplo, Padre Nazário se oferece para trabalhar, em troca de comida, em um canteiro de obras de uma ferrovia.

Inesperadamente, os trabalhadores se revoltam contra ele. Trabalhar em troca de comida faz com que todos sejam desvalorizados, diminuindo ainda mais os salários já ruins.

Informado sobre o assunto, ele entende e vai embora.

No entanto, o conflito entre os trabalhadores e o chefe da obra já está instalado. Tiros são ouvidos à distância, enquanto vemos nosso Padre observar uma árvore na estrada. Aparentemente, ele não se dá conta do conflito trabalhista que ele mesmo despertou.

Volta e meia o Papa Francisco aparece na TV, principalmente na Páscoa ou no Natal, lavando pés de mendigos de Roma. É esse tipo de sacerdócio que o filme representa.

Na sua ilusão de ser bom, o Padre não questiona a origem da pobreza e das péssimas condições de vida das pessoas.

Tanto no filme, quanto na vida real, é óbvio que você até pode acreditar em um Deus com todas as suas forças e seguir todos os passos de seu filho sacrificial que o resultado será o mesmo: sempre haverá mais pés de mendigos a lavar para mostrar, contraditoriamente, quanto é importante ser bom.

Contudo, uma crítica ao capitalismo, que limita as pessoas de forma violenta, nunca é o foco do trabalho do evangelizador.

A única conclusão que podemos chegar é que esse tipo de atitude caridosa, como a filantropia de tantas empresas e institutos, é cúmplice da perversidade do sistema econômico capitalista e ajuda a mantê-lo.

O capitalismo é o verdadeiro dogma: o criador onipresente e onisciente da pobreza moderna há mais de 250 anos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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