A operação militar na Ucrânia, da Rússia contra a OTAN, já dura quase um ano, provocando, entre outros efeitos, um aprofundamento da política pró-imperialista de setores da esquerda brasileira e da esquerda internacional.
Foi o caso do Partido Operário Revolucionário, POR, que definiu a Ucrânia como a grande vítima da agressão russa e do imperialismo e não como uma agente controlada pelo imperialismo para atacar os russos. Agora que o mundo já viu a disposição da OTAN para atacar os russos, os batalhões nazistas, os laboratórios de armas biológicas, não é tão fácil sustentar a tese da “pobre coitada Ucrânia”, mas o POR segue a defendendo, de forma mais tímida, em seu artigo “Onze meses de guerra na Ucrânia”, publicado no dia 22 de janeiro no sítio do partido.
O texto começa afirmando que a OTAN se envolve cada vez mais no conflito: “A retomada de posições pelas forças russas na região de Donbass e o plano dos Estados Unidos de reforçar ainda mais a resistência ucraniana, com envio de tanques ingleses e alemães, indicam o prolongamento e uma maior ferocidade da guerra. Os poderosos tanques conectados com o sistema de mísseis Patriot aumentarão a capacidade de defesa e ataque das Forças Armadas da Ucrânia. Esse plano dá um passo no sentido de materializar a presença direta da OTAN no confronto, que se desenvolve há onze meses em solo ucraniano. Eis por que há discórdia no interior da aliança comandada pelos Estados Unidos.”
Ele segue nessa linha por um bom tempo abordando a possibilidade da OTAN entrar na guerra formalmente para além do financiamento bilionário, treinamento de soldados e sanções econômicas contra os russos. O problema aqui consiste que a denúncia da OTAN não se desenvolve em apoio a Rússia. Se a OTAN, aliança militar dos principais países imperialistas, está agredindo um país atrasado, é obrigação de todo marxista se colocar em defesa do país oprimido. Não basta denunciar o imperialismo, essa é a posição do “nem nem”, a mesma que fez um grande setor da esquerda não defender Dilma Rousseff contra o golpe de Estado do imperialismo. Não há como tergiversar, a única política correta é se por abertamente a favor da Rússia de Vladimir Putin.
Após muito falar sobre os problemas da OTAN, o texto destila seu ataque à Rússia: “O imperialismo se move quase que livremente, uma vez que não se depara com a resistência do proletariado e das massas que compõem a maioria oprimida. O mesmo faz a Rússia restaurada, que se vale de sua condição de potência regional para oprimir as ex-repúblicas soviéticas, que são atraídas pelo imperialismo e que não podem manter as suas independências.” Primeiro é preciso deixar claro que o imperialismo não se move livremente. Há uma revolta latente de todos os povos do mundo, o Talibã derrotou o imperialismo no Afeganistão, Putin é um entrave para o imperialismo, na América Latina os regimes golpistas em sua maioria entraram em impasses, Lula conseguiu voltar a presidência, a própria classe operária europeia se levanta contra a guerra.
Mas o maior problema é o que foi dito sobre a Rússia. O país é taxado de opressor, que oprime as ex repúblicas soviéticas. Quem destrói esses países é o imperialismo, a Ucrânia antes da guerra sofreu um golpe de Estado organizado pelos EUA que impôs um regime neoliberal. Os demais países passaram pelo mesmo ou por tentativas. As três nações do báltico se tornaram colônias da OTAN, houve tentativas de golpe na Bielorrússia e no Cazaquistão. A Rússia nesse sentido é uma proteção à agressão imperialista, um aliado importante que impede que o imperialismo controle totalmente essas repúblicas menores que deveria se reintegrar para formar novamente um país maior com mais capacidade de se defender.
A Rússia como potência regional não tem capacidade de oprimir nem os países vizinhos, é o mesmo caso do Brasil. Quem oprime o Paraguai, o Uruguai, a Bolívia e o Peru não é o Brasil, mas sim os EUA, chega a ser uma ideia ridícula. O Brasil consegue no máximo ter uma influência econômica nesses países, mas o controle é todo dos EUA. A Rússia tem uma posição melhor, pois antes existia a URSS, mas mesmo assim está longe de ser um “império regional”. Nem a Ucrânia, a mais importante ex república soviética, ela consegue manter como sua aliada dada a ferocidade do imperialismo. O que acontece é o oposto, o imperialismo cerca a Rússia por meio das ex republicas e por isso ela tomou iniciativas para se defender. É essa posição de atacar a OTAN e Putin que torna a política do POR como pró imperialista. Ao se colocar contra ambos, na prática, se coloca ao lado do mais forte, a OTAN.
O texto então segue: “Somente por meio da luta de classe, será possível combater pelo fim da guerra na Ucrânia, e evitar uma catástrofe maior, que se apresenta no horizonte da crise mundial.” Aqui há mais um grande erro, toda guerra é uma luta de classe. Neste caso a guerra se dá entre a burguesia dos países imperialistas e a burguesia da Rússia, que se apoia sob a classe operária, que também se opõe ao imperialismo. A ideia do fim da guerra também é algo muito citado que não faz sentido, a maioria das guerras acaba com a vitória de um dos lados. A vitória da Rússia seria um desfecho positivo para todos os povos do mundo, o imperialismo sairia enfraquecido, o que é bom para a luta da classe operária, que tem o imperialismo como seu maior inimigo.
O artigo fecha com a proposta mais bem acabada: “É por meio da luta que os oprimidos sentirão, verão e descobrirão os motivos da guerra, seu conteúdo de classe e seu caráter de dominação. Acabarão por se livrar da cegueira imposta pela política burguesa, que os impede de tomar consciência da necessidade de lutar pelo fim da guerra”. A incompreensão das classes que lutam nessa guerra faz o POR definir essa proposta sem sentido. Os oprimidos já estão lutando, o povo russo, e de certa forma também o povo ucraniano. Os russos, principalmente, têm mais noção que o conteúdo de classe da guerra que o POR, entendem que a OTAN é o grande problema do mundo. E fazem novamente proposta da luta pelo fim da guerra, que, na prática, tanto a OTAN quanto a Rússia desejam, um fim em que sejam vitoriosas.
A classe operária não tem como reivindicação o fim das guerras e sim o fim do imperialismo. Se isso for possível sem guerras é o ideal visto que são os oprimidos os soldados que lutarão, contudo, é quase impossível a burguesia imperialista cair sem lançar uma guerra. Essa é a classe social que está disposta a deixar 1 bilhão de pessoas passarem fome, que reduziu países inteiros como a Síria, a Somália e a Líbia a escombros, que impede que o presidente Lula aumente o salário mínimo em mais que 17 reais quando há dezenas de milhões de pessoas passando fome no Brasil. A guerra é uma forma que assume a luta de classes e na guerra da Rússia contra a OTAN a classe operária está indiscutivelmente do lado da Rússia.