Luta de classes

O que o imperialismo tem a ver com a derrota da seleção?

Sempre que o Brasil colhe resultados negativos em Copas do Mundo, há o dedo do imperialismo ali

O imperialismo e o futebol

Tanto a direita quanto a esquerda costumam falar: “o PCO vê o imperialismo em todo lugar”, “Para o PCO tudo é o imperialismo”. Da parte da direita, o questionamento é até natural. É mesmo uma necessidade, afinal é a direita, aí englobados um conjunto de partidos, organizações, órgãos de imprensa etc., o agente político direto do imperialismo dentro do país, e é do interesse dela ocultar o máximo que puder esse fato e a própria existência do fenômeno econômico que lhe serve de base. 

Da parte da esquerda, a coisa já soa mais estranha. Se cabe à esquerda, de maneira genérica, defender, com maior ou menor consequência, com maior ou menor vigor, valendo-se deste ou daquele método, os interesses e necessidades dos trabalhadores, das massas pobres e exploradas, por que então não falar, ou mesmo ironizar, o papel e a atuação do imperialismo nas mais diversas esferas da vida social. Ou será que essa esquerda acredita que o imperialismo não tem nenhum interesse no futebol, o esporte mais popular do planeta, que mobiliza bilhões de pessoas em todo o mundo e movimenta bilhões e bilhões de dólares toda semana? Será mesmo que os grandes monopólios capitalistas internacionais, que controlam mercados e dominam nações, abdicaram pura e simplesmente de controlar essa mina de ouro? Seja como for, existe, sim, uma esquerda que não desconfia do seu inimigo de classe, o imperialismo. Ainda mais quando se trata de futebol.

No entanto, a realidade tem as suas próprias leis e não se subordina às opiniões deste ou aquele agrupamento político. Se o capitalismo encontra-se na sua fase monopolista, também chamada fase imperialista, então é necessário concluir que tudo, em maior ou menor grau, encontra-se submetido aos interesses dos monopólios que dominam a sociedade de conjunto. O futebol, obviamente, não escaparia dessa lei.


O imperialismo contra o futebol brasileiro

Como não veem ou subestimam a ação do imperialismo, a esquerda burguesa e pequeno burguesa não entende que, sempre que o Brasil colhe resultados negativos em Copas do Mundo, há o dedo do imperialismo ali. Isso porque o imperialismo europeu e o norte-americano dominam os negócios do futebol. São vários os estudos que mostram o impacto da vitória numa Copa do Mundo sobre as economias dos países. Para os países capitalistas avançados, países que sediam os monopólios que dominam a economia mundial, não é algo irrelevante o país que sairá vencedor numa Copa do Mundo. A vitória de um país europeu como França ou Inglaterra não traz os mesmos resultados que a vitória de um país atrasado como o Brasil. Os lucros em várias áreas sobem quando um time europeu ganha a Copa. O mesmo não acontece quando o Brasil ganha. A Copa é um grande negócio, e os capitalistas não podem deixar solta uma atividade da qual os negócios dependem. 

A pressão dos monopólios capitalistas do futebol contra o Brasil é enorme. Não há Copa sem a interferência deles. Isso significa então que a derrota do Brasil será sempre uma certeza? Obviamente que não. Mas, na maioria das vezes, sim. A Copa no Catar é a 22ª edição do torneio e, mesmo o Brasil se tornando a maior potência da modalidade desde meado dos anos 1940 e 1950, o país do futebol só conseguiu vencer em cinco oportunidades.

Essa pressão se manifesta de várias formas. Uma das mais comuns é pelo juiz, esse elemento exterior ao jogo propriamente, mas que tem poderes para definir, para o bem ou para o mal, o destino de cada partida. As interferências da arbitragem são um dado ao longo da história. A figura do “juiz comprado”, mais do que simples folclore, é uma realidade presente. Faltas marcadas ou não marcadas, pênaltis marcados ou não marcados, impedimentos apontados ou não, expulsões de jogadores ou não ― as armas de que dispõe o juiz são poderosíssimas e seria pura ingenuidade acreditar que as forças sociais que dominam a sociedade nunca as tenha utilizado. Acreditar que o juiz simplesmente “erra”, e que não está submetido às mesmas forças que governam a sociedade, é acreditar no mundo da fantasia.


O imperialismo contra o jogador brasileiro

Uma das principais ferramentas de que se vale o imperialismo contra o futebol brasileiro é a imprensa, nacional ou internacional. As empresas que controlam as comunicações do país, como é sabido, são intimamente ligadas ao capital estrangeiro monopolista. Globo,Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Band, entre outras, são conhecidas por serem defensoras fiéis dos interesses imperialistas dentro do país.

A campanha voraz contra a seleção e os jogadores brasileiros que esses órgãos colocam em marcha a cada Copa do Mundo é algo já antigo. Basta ler as crônicas de Nelson Rodrigues sobre a jornada da seleção de 1970, a que garantiu o tricampeonato para o Brasil, para ver do que se trata. O cronista e dramaturgo fluminense falava do “complexo de vira-lata” e de como a seleção era uma exilada em seu próprio país. Composta por verdadeiros carniceiros e abutres, essa imprensa desencadeia uma verdadeira caça às bruxas contra a seleção, em especial contra as figuras mais importantes da equipe.

Essa campanha surte efeito, inegavelmente. A pressão estimulada por ela é tão grande que consegue criar um clima, um estado de espírito que afeta quase sempre os jogadores.

Nascidos num país atrasado, os jogadores brasileiros acabam desenvolvendo uma estrutura emocional e psicológica que dificulta o enfrentamento desses ataques. É como se o time brasileiro entrasse no jogo da mesma forma que o negro diante da abordagem policial ― já entra perdendo. Qual o fator que desequilibra a questão? O jogador de futebol brasileiro é em 90% dos casos uma pessoa pobre. Alguém com uma educação totalmente diferente da maioria dos jogadores do mundo. O futebol é o esporte da classe trabalhadora. A transformação do futebol de esporte de elite para esporte massas se deu quando a classe operária se apoderou dele. O futebol é uma paixão dessa classe social. Os jogadores, na sua massacrante maioria, são oriundos do setor mais pobre, mais oprimido, mais sem cultura dessa classe. Na comparação, os jogadores europeus, mesmo quando provenientes da classe operária, seriam no Brasil alguém como que de classe média. As condições de vida em que os jogadores se formam conduz a que eles não desenvolvam a estabilidade emocional necessária para enfrentar os problemas que a ofensiva imperialista coloca diante deles. 

Se se analisa novamente o jogo que ocasionou a derrota do Brasil, o jogo contra a Croácia, isso fica cristalinamente claro. Quando o Brasil inaugurou o placar já na prorrogação, o jogo já deveria estar ganho. Mas houve algo como um lapso, um vacilo, uma brecha que foi aproveitada pelo adversário. 

Não é por outro motivo que, em todas as vezes em que fomos campeões, havia um traço em comum: eram seleções dotadas de jogadores experientes, a maioria dos quais já com experiência de outras Copas. Numa situação em que há uma desvantagem, digamos, em termos emocionais, a questão da experiência adquire uma importância ainda maior.

A defesa do futebol brasileiro é parte da luta contra o imperialismo

As vicissitudes enfrentadas pela seleção brasileira na sua luta para ganhar a Copa do Mundo não são senão uma expressão particular da luta geral do povo brasileiro para se livrar do jugo imperialista. 

O que acontece no futebol não é diferente do que acontece em outros terrenos da vida do país. O Brasil é um país de recursos imensos. Peguemos o exemplo do petróleo. Há estudos que indicam que o Brasil teria em seu território reservas de petróleo maiores do que as da Venezuela. No entanto, por que o povo brasileiro não consegue desfrutar dos benefícios que toda essa riqueza poderia gerar? Porque o país é permanentemente saqueado pelo imperialismo. O país não consegue controlar os recursos do seu próprio território. Em compensação, quem se beneficia disso? Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobras foi sendo desmontada, privatizada, entregue aos acionistas e abutres estrangeiros. A maior parte do seu lucro é destinado a pagar esses controladores estrangeiros. E o que acontece com o petróleo acontece com quase todos os ramos econômicos fundamentais.

Assim como o imperialismo promove guerras, golpes, derrubam governos, para melhor controlar os recursos econômicos fundamentais e melhor controlar as nações, o imperialismo trabalha ativamente para controlar os negócios do futebol e sufocar as tendências que buscam superá-lo. O Brasil, nação oprimida, criou algo verdadeiramente genuíno, portanto revolucionário ― o seu futebol. Para o imperialismo, isso é um obstáculo e uma ameaça.

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