No dia 18 de março de 2022, Jones Manoel enforcou a geografia.
Em um delírio “Mai 68 Style” , misturado ao desatino stalinista, o youtuber escreveu no Twitter: “O comício chauvinista de Putin é expressão de uma tendência perigosa para o povo trabalhador russo: a mobilização de sentidos ultranacionalistas de ‘grande potência’. Adaptando uma famosa pichação francesa do maio de 68: que Zelensky seja enforcado com as tripas de Putin.”
Contaminado pela imprensa capitalista, Jones Manoel utilizou dois termos equivocados para atribuir à Vladimir Putin e ao povo russo: “chauvinista” e “ultranacionalista”. A aberração proferida por Jones Manoel é muito absurda, pois a Rússia é uma confederação de 200 nacionalidades, e o Presidente da Rússia está comprometido com as nacionalidades viventes.
De acordo com Igor Barinov, chefe da Agência Federal Russa para Assuntos Étnicos: “O caráter multinacional e multilíngue da Rússia é uma característica fundamental do nosso país. Cerca de 200 nacionalidades vivem na Rússia, mais de 100 delas são indígenas. De Kaliningrado a Chukotka, os grupos étnicos mencionados nas primeiras crônicas russas antigas desde o início do século XII”. revelou Barinov em 2018, comentando sobre a estratégia renovada da política nacional da Rússia.
Putin foi ex-chefe do Serviço de Segurança Federal (FSB), instituição que substituiu a antiga KGB na Rússia. A nomeação de Putin ocorreu em função do alto posto militar que ele ocupava, não propriamente por alinhamento político ao ex-Presidente Boris Yeltsin.
Embora Vladimir Putin tenha sido escolhido por Yelsin para substituí-lo após sua renúncia, foi uma escolha pelo reconhecimento tardio ao trabalho do atual Presidente, em demonstrar a aceleração da OTAN, sobre as fronteiras do território russo. Fato que também colaborou para a destruição econômica da Rússia durante a década de 1990.
Putin, mesmo sendo atacado pela União Europeia e Estados Unidos, manteve-se na condução do país, com alta popularidade entre os povos de 85 entes federativos e 22 Repúblicas. A mais importante de demonstração de popularidade de Putin foi o voluntarismo do exército da Chechênia (uma República Islâmica), liderado pelo lendário Ramzan Kadyrov, à campanha da Ucrânia.
Lênin, durante a Primeira Guerra Mundial, demonstrou que o chauvinismo é a “aliança de uma parte dos pequenos burgueses radicais e de uma ínfima parcela de operários privilegiados com a ‘sua’ burguesia nacional contra a massa do proletariado” (Marxismo e Social-Chauvinismo, Obras Escolhidas, 1914-15). Portanto, o comício de Putin no estádio lotado, não tem nada a ver com essa política denunciada por Lênin. Putin foi celebrar os 8 anos do Plebiscito da Crimeia, que voltou a pertencer à Rússia, após decisão popular.
Outra questão desconsiderada por Jones Manoel é o apoio do Partido Comunista da Federação Russa (PCFR), autor do projeto de lei que reconheceu a independência das Repúblicas de Donetsk e Lughansk.
Em mensagem no Twitter, o PCFR escreveu: “A carreata vermelha foi realizada em toda a Rússia sob o slogan ‘Pare a OTAN! Pelo nosso Exército, pelo renascimento da Rússia! Seus participantes observam que a desnazificação da Ucrânia deve ser o início de mudanças fundamentais na própria Rússia, que deve retornar ao caminho socialista do desenvolvimento!“. [O “renascimento” da Rússia tem a ver com a defesa do povo russo da região do Donbass].
A sentença de “chauvinismo” se dissipa aqui, juntamente com a sentença de “ultranacionalismo”, já que essa palavra é utilizada na Europa para um “nacionalismo” com características fascistas evocada por potências imperialistas em períodos de profunda crise, ou políticos ligados a essa tendência como Jean-Marie Le Pen, na França. Putin, de nenhum modo expressa essa tendência. Aos países oprimidos pelo imperialismo, o nacionalismo frente ao opressor, é elemento necessário para o enfrentamento.
Na realidade, um país oprimido como a Rússia, vítima de sanções econômicas em escala jamais vista, nem mesmo Cuba ou Venezuela, pela extensão e rapidez. Mesmo com sob sanções, Putin também recebe apoio popular. Ao contrário de seu algoz imperialista, os Estados Unidos, a Rússia não impõe sanções a ninguém, a não ser para responder com aquilo que lhe é possível, de modo assimétrico.
No “grand finale” do “fio”, Jones Manoel, como quem joga RPG propõe:
- O fim da OTAN dependeria, em parte, da vitória russa em sua guerra defensiva;
- A retirada das bases militares dependeria da capacidade dos países oprimidos, progressivamente se armarem contra o imperialismo;
- A “autonomia” não é possível, pois o princípio que governa a Rússia é a autodeterminação dos povos, que reconheceu a INDEPENDÊNCIA de Donetsk e Lughansk;
- A “morte ao Batalhão Azov” depende da força dos exércitos comandados pelo chefe maior das forças russas, Vladimir Putin (a quem Jones Manoel chama de “ultranacionalista”) ;
- A “legalização das organizações comunistas” se dará, automaticamente, com o fim do regime de exceção imposto pelo Euromaidan, OTAN e, sobretudo, pelos Estados Unidos (Nota: desde a criação do Partido Svoboda, em 1994, ocorre a liquidação da esquerda institucionalizada – O Euromaidan foi a pá de cal).
É preciso que a esquerda volte a estudar, volte a ser anti-imperialista e rejeite as “teses” de pessoas que se vendem como intelectuais promovidos pela imprensa burguesa.
*A opinião dos colunistas não representam, necessariamente, a posição deste Diário