Previous slide
Next slide

Coluna

Chapa Quente, de André Kitagawa

Na HQ de Kitagawa, as drogas são mais um produto inserido no mercado burguês e nos crimes do capitalismo

A coletânea de HQs “Chapa Quente”, de André Kitagawa, produzida independentemente pelo próprio autor, foi publicada em 2006. Na época, conheci o trabalho do André Kitagawa por meio do dramaturgo e poeta Mário Bortolotto; “Chapa Quente” é formado pelas sete histórias de Kitagawa adaptadas para o palco pelo Mário também em 2006. Essa relação entre HQ e teatro é importante, ainda mais quando se trata do teatro de Bortolotto, teatro contrário à dramaturgia burguesa; nesse contexto, os quadrinhos de Kitagawa participam da mesma contestação e, para confirmar isso, vou me valer de “Super T”, a quarta história de “Chapa Quente”.

Há quadrinhos burgueses justificando as ideologias das classes dominantes? Não há dúvidas de que há quadrinhos burgueses; também não tenho dúvidas de sua maior expressão, faz algum tempo, ser os quadrinhos de super-heróis e, dentro desse gênero, os quadrinhos de Stan Lee. Apesar dos imperialismos de Tin Tin ou do Tio Patinhas, nada se compara ao neoliberalismo do Homem de Ferro e seu tráfico de armas, à ideologia tradição-família-propriedade do Capitão América, ao conservadorismo puritano dos X-Men, ao fascismo do Justiceiro. Nos quadrinhos americanos, basta comparar Robert Crumb ou os irmãos Hernandez com Stan Lee para verificar a crítica ao modo de vida burguês dos primeiros indo de encontro às ideologias justificadas pelos donos da Marvel.

Kitagawa está do lado de Crumb e dos Hernandez. Para mostrar isso em seus quadrinhos, “Super T” é uma HQ ideal, pois justamente nela os super-heróis são questionados; além disso, sua distribuição de cores explicita as diferenças entre alienação e resistência. A primeira página é colorida, nela um rapaz acende o baseado e começa a viajar em ser super-herói, o Super T.

Enquanto isso, nas páginas seguintes, as cores são substituídas pelo traço PB e são narradas as desventuras de um casal perdido durante a noite em bairros de população de baixa renda; trata-se da alta burguesia, o casal dirige uma Mercedes. A dupla é assassinada durante um assalto; o rapaz, porém, é filho de narcotraficante rico e influente, promotor de verdadeiras chacinas, quem termina assassinando o assassino do filho. A cor retorna parcialmente na hora das chacinas cobrindo a página de vermelho até retornar totalmente na retomada da cena do maconheiro, que já não se lembra mais do “Super T”.

O vermelho, semelhantemente ao sangue, substancializa a realidade social no clímax da violência durante os assassinatos, mas ela se perde nas divagações do Super T, que não combate crime nem em sua imaginação, esquecido de si mesmo, alienando-se antes em sua comodidade de classe do que pelo uso da maconha. Nesse contexto, as drogas não cumprem o papel de abrir as portas da percepção e promover estados alterados de consciência; elas apenas são mais um produto inserido no mercado burguês e nos crimes do capitalismo.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.