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Maria Agüero

Congressista Peruana denuncia ditadura de Dina Boluarte

Em entrevista exclusiva ao DCO, a congressista reafirma o interesse o povo peruano em lutar por uma nova Constituição

A indignação do povo peruano segue acumulada há anos […] nós vamos lutar pela justiça social e pela bandeira do povo, que é a nova Constituição […] para recuperar nossas empresas, nossos recursos naturais, para os peruanos; uma Constituição mediante uma Assembleia Constituinte com a participação do povo, para o povo”.

É assim que Maria Agüero, congressista Peruana recém-eleita, descreve o estado de espírito da classe trabalhadora de sua terra natal, que segue a luta contra o golpe de Estado imperialista que derrubou Pedro Castillo do poder.

A entrevista foi concedida a Eduardo Vasco, correspondente internacional do Diário Causa Operária, em Havana, Cuba, por ocasião das comemorações do Dia Internacional dos Trabalhadores, o 1º de Maio.

A congressista também denunciou a rapina feita pelas empresas mineradoras transnacionais, a contaminação que sua atividade predatória causa sobre a população local e sua participação no golpe de Estado que levou Dina Boluarte ao poder.

Apontou também a política repressiva levada adiante pelo regime que se instaurou após o golpe. Veja abaixo a entrevista na íntegra.

Diário Causa Operária: Então você é congressista no Peru? Foi eleita nas últimas eleições?

Maria Agüero: Exato.

Diário Causa Operária: Como esta o Peru depois do golpe de Dina Boluarte? Dos protestos e da repressão?

Maria Agüero: Bem, a indignação do povo peruano segue acumulada há anos. Há mais de 30 anos são firmados contratos com empresas transnacionais, especialmente empresas mineiras. Agora que os contratos chegam ao fim, buscam renová-los. Mas o povo não quer isto. E eles sabem disto, os políticos da direita, tanto no Congresso como no governo. E a gente acumula essa indignação. Temos uma presidente que está se impondo. Ela dizia estar junto de Pedro Castillo e que se ele fosse removido do cargo, ela renunciaria. Contudo, ela o traiu, pois Pedro a nomeou como Ministra (do Desenvolvimento Social e da Inclusão), apesar de ela ser vice-presidente. Ela tinha muito influência nos programas sociais e sempre foi rodeada de políticos da direita tradicional, em especial do Apra. E essa gente sempre esteve no governo, sempre associado com os grupos de poder econômico no governo. Esses ministros que eram do Apra sempre estiveram no governo, tomando decisões. No período mais recente, estiveram rodeando tanto a Pedro como a Dina, e seguem governando.  E o povo segue muito mais indignado, pois depois de 30 anos aprendeu a identificá-los, a reconhecê-los, a saber quem são esses políticos, quem são essas empresas que contaminam, que não pagam impostos, que não favorecem ao povo.

Diário Causa Operária: O povo ainda se encontra nas ruas nesse presente momento, contra o golpe?

Maria Agüero: Nesse momento a mobilização diminuiu, pois já se acumularam mais de 70 assassinatos pelas mãos do governo. Chamamos de genocídio, pois se dedicaram a disparar contra povos originários como os Chanca, na região Apurimac; os Quechuas, na região Cusco; os Aymaras, na região Puno.

Diário Causa Operária: E Pedro Castilho permanece preso?

Congressista: Pedro Castilho permanece preso, apesar de já ter sido demonstrada que sua remoção do cargo se deu de forma ilegal, que não houve o devido processo. Não houve um devido processo. Digamos que ele tenha decretado o fechamento do Congresso. Contudo, ele apenas leu um papel. Não houve forças armadas na rua, nada, ao contrário do que acontece agora com Dina Boluarte, em que o exército está nas ruas. Agora sim podemos dizer que há uma ditadura, pois as forças armadas e a polícia estão a serviço do governo.

Diário Causa Operária: E por que derrubaram Pedro Castillo?

Maria Agüero: Penso que é porque ele pensava em rever os contratos os as mineradoras transnacionais, que praticamente não estavam deixando nada de bom para nosso país. Muito pelo contrário, nas zonas onde essas empresas atuavam, as crianças estão contaminadas por metais pesados. A contaminação é óbvia, não? Nos demos conta dessa situação. E elas não pagam impostos. Sou de uma região chamada Arequipa. Aqui atua uma transnacional chamada Cerro Verde a qual, em plena pandemia, disse que pagou seus impostos ao Estado peruano. Contudo, a imprensa não informa que a empresa pagou os impostos sob protesto. O que significa sob protesto? Significa que ela não reconheceu a dívida. Uma dívida milionária ao Estado. Assim que o dinheiro foi pago, a mineradora Cerro Verde denunciou o Estado peruano a um organismo internacional para resolver conflitos referentes a contratos internacionais.

Diário Causa Operária: Acredita que Pedro Castillo traiu o Partido Peru Libre e seu eleitorado?

Maria Agüero: Penso que sim, pois queríamos uma nova Constituição, que garantisse os direitos fundamentais. Recordem que Peru tem prata, precisa de saúde, educação, vivenda, trabalho etc. Outra razão por que queríamos uma nova Constituição era para recuperar nossas empresas, nossos recursos naturais, para os peruanos, e não para as empresas transnacionais. E Pedro Castillo não fez isto.

Diário Causa Operária: E mesmo assim o golpearam? Está pior agora, com Dina?

Maria Agüero: Sim, está pior agora. Com Pedro não havia assassinatos, essas matanças, esses massacres, não havia esses genocídios.  Com Dina, agora temos genocídios.

Diário Causa Operária: E agora por que razão vocês estão lutando?

Maria Agüero: Bem, nós vamos lutar pela justiça social e pela bandeira do povo, que é a nova Constituição. Repito o que disse: para recuperar nossas empresas, nossos recursos naturais, para os peruanos; uma Constituição mediante uma Assembleia Constituinte com a participação do povo, para o povo. Essa nova Constituição mediante uma Assembleia Constituinte com a sua participação; queremos que o povo, nós, de uma maneira organizada, participemos na elaboração dessa Carta Magna, que irá redigir os destinos do país.

Diário Causa Operária: Perfeito.

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