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Cem dias do governo Lula. Qual o próximo passo?

A ascensão de Lula ao Planalto é uma vitória inegável, mas a batalha está longe de ganha. Mais do que comemorar, é preciso lutar e defender o governo dos trabalhadores

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa hoje seu centésimo dia de governo, dizendo-se “satisfeito com o que conseguimos”, conforme as palavras do próprio. “Todas as políticas sociais que deram certo nesse País já foram retomadas“, comentou o petista em encontro com jornalistas ocorrido na última quinta-feira (6). No mesmo dia, o sítio institucional do Partido dos Trabalhadores (PT) publicou nota antecipando que o presidente “prestará conta aos brasileiros” na data (“Lula, 100 dias: veja 10 ações que estão reconstruindo o Brasil”).

Apesar da inegável vitória popular que representa a ascensão de Lula ao Planalto – e mais ainda nas condições em que o petista voltou -, é preciso a clareza de que este é um governo de crise, pressionado por dentro e por fora, alvo de toda sorte de sabotagens e que precisa reforçar o apoio popular se quiser terminar.

Vindo de fora, com menos de uma semana de posse, o governo já enfrentou uma grande manifestação orquestrada pelos chefes militares e da extrema direita no dia 8 de janeiro, evidenciando uma dificuldade tremenda em se defender. Na ocasião, isso serviu ainda para colocar o Executivo em uma defensiva.

Refém da tutela militar sobre o regime político, o governo Lula tornou mais explícita sua debilidade institucional ao ver não apenas o veto à investigação dos militares no ato do dia 8, como também a promoção de elementos envolvidos com o ataque aos prédios do governo federal.

Em outra frente de pressão, os ataques oriundos dos monopólios de comunicação intensificam-se, a ponto do jornal golpista Folha de S. Paulo declarar que a burguesia imperialista poderia apoiar Jair Bolsonaro novamente, se ele demonstrasse modos. Cada tentativa empreendida por Lula de se libertar das amarras impostas pelos golpistas é rápida e duramente respondida nos principais órgãos de imprensa do País, seja em relação à política de preços da Petrobrás, em defesa da completa submissão do Banco Central ao imperialismo e mesmo com a política externa independente adotada por Lula.

Internamente, o governo enfrenta clara sabotagem dos setores da direita infiltrados no governo e dos setores da esquerda aliados do imperialismo. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), por exemplo, defendeu recentemente que as mobilizações do MST por reforma agrária sejam respondidas pelos latifundiários com “uma ou duas armas” e “um pouco de munição”, revelando que continua tão defensor do latifúndio quanto sempre foi.

Na mesma direção, engrandecida pela propaganda imperialista, a titular da pasta do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu uma insólita Petrobrás que não seja “uma empresa de petróleo”. A declaração parece cômica à primeira vista, mas trata-se de uma agitação golpista contra uma das mais importantes empresas brasileiras, imprescindível para o desenvolvimento do País, a autossuficiência econômica e, consequentemente, a soberania nacional.

Por sua vez, a ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara (PSOL) tem aproveitado o momento de debilidade do Planalto para retomar sua campanha golpista contra o desenvolvimento da região, em particular contra a usina hidrelétrica de Belo Monte. Em seu perfil oficial no Twitter, a ministra antecipou manobras para inviabilizar a manutenção da usina, declaração endossada pelo presidente de seu partido, Juliano Medeiros.

Isso só para citar alguns casos do primeiro escalão no qual estão presentes ministros que estiveram do lado do golpe de Estado, que apoiaram o governo Temer e até no de Bolsonaro, e apoiaram suas “reformas” contra o povo trabalhador e a economia nacional.

Há ainda os sabotadores “deixados” em postos-chave pelo governo anterior, em especial o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ainda no comando da política monetária do País, o bolsonarista é um instrumento abertamente hostil a qualquer tentativa do governo de construir uma conjuntura favorável ao crescimento econômico necessário ao País. Disto depende a criação de empregos e a valorização real dos salários no campo econômico, e também o prestígio de Lula junto aos trabalhadores no aspecto político da questão. E ambos vêm sendo deliberadamente minados pelo presidente golpista do BC, que aproveitando-se da legislação criada para atender aos articuladores do golpe de 2016, mantém sua política de inviabilizar o governo por dentro.

Eleger Lula foi uma conquista importante para os trabalhadores, mas o momento exige mais. Sendo um governo frágil e em disputa, as principais organizações de esquerda devem se mobilizar para se opor à pressão da direita sobre o governo e defender os interesses dos trabalhadores.

As organizações dos explorados da cidade e do campo precisam mobilizar suas bases para exigir reforma agrária, demarcação de terra, salários, empregos e a reversão de todos os malfeitos dos golpistas de 2016, incluindo todo o arcabouço legislativo aprovado desde então, as privatizações e etc.

Um passo importante nesse sentido é a 3ª Conferência dos Comitês de Luta, convocada para os dias 9 a 11 de junho, em São Paulo. Entre outras tarefas, o ativismo da esquerda brasileira deve usar a Conferência para reforçar a urgência da realização do Congresso do Povo, aventado pela Frente Brasil Popular em 2018, mas ainda não realizado.

Acima de tudo, é preciso a clareza de que tal como fizeram com a presidenta Dilma, a burguesia vai atuar incessantemente no sentido de desmoralizar o governo e a liderança de Lula sobre os trabalhadores, até o ponto em que ele possa ser liquidado (metafórica ou literalmente) sem custos políticos maiores para os golpistas.

A esquerda, os trabalhadores da cidade e do campo, os estudantes e todos os envolvidos nas lutas em defesa das massas exploradas e oprimidas devem entrar em campo também, o quanto antes e com o máximo vigor. A hora das celebrações!oes já passou. É preciso sair as ruas para lutar, por avanço efetivos.

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