A violência do futebol-força

1966: a selvageria sem precedentes em reação ao fenômeno Pelé

A copa na Inglaterra apresentou as unicas armas contra Pelé e o futebol brasileiro: Violência e arbitragem cega

Ao se aproximar da oitava edição da Copa do Mundo organizada pela Federação Internacional Futebol Associado (FIFA), todos os participantes, principalmente os europeus, queriam impedir que o Brasil conquistasse a taça Jules Rimet (francês, fundador da FIFA), o que significava a sua posse em definitivo.  Algo que parecia extremamente difícil visto que Pelé tinha conduzido o Santos a duas Copas da Libertadores e dois mundiais de clubes no período.

A Copa da Inglaterra também foi marcada pelo boicote dos países membros africanos que exigiam o acesso direto de uma seleção da sua confederação e repudiavam o reingresso da África do Sul na FIFA desconsiderando a expulsão da confederação africana em 1958 devido ao apartheid sul-africano.

No Brasil, estava se procedendo um momento de transição, pois muitos dos bicampeões mundiais já sentiam a passagem do tempo enquanto os jovens talentosos que estavam surgindo ainda não tinham se afirmado totalmente.

Isto se comprovou na preparação da Copa quando o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, decidiu assumir o controle da delegação e afastou o Paulo Machado de Carvalho que era o responsável pela preparação nas duas copas anteriores. Chamou como técnico Vicente Feola para substituir Aimoré Moreira, que tinha realizado uma excursão à Europa muito ruim sem saber a renovação necessária.

Infelizmente, o técnico campeão na Suécia sofria pressões das principais federações para convocar jogadores das suas federações. Desta forma, 47 jogadores foram convocados. Divididos em 4 grupos, o Azul, o Verde, o Branco e o Grená em março de 1966. Os treinos se dividiram em cinco cidades: Lambari, Caxambu, Teresópolis, Três Rio e Niterói.

Mesmo com todos estes problemas o Brasil tinha ele. O melhor jogador do Mundo que, aos 26 anos, estava no auge das condições físicas e técnicas. Na temporada de 1965, ele tinha marcado 96 gols pelo Santos, foi artilheiro em todos as competições e as excursões das quais participava. Antes da Copa de 1966, o time santista fez uma excursão pela África e pela América Latina. Chegando na capital marfinense, o público presente no estádio gritava “O Rei! O Rei!” cada vez que o jogador pegava na bola.  

Logo, o Brasil era um dos favoritos para a Copa. E poderia ter sido campeão já que, além de Pelé, cinco outros jogadores brasileiros estariam no México. Contudo, acima da desorganização, outros dois fatores tiraram as chances de vitória: a violência e a retranca das seleções europeias e a conivência da arbitragem com a marcação implacável e desleal.

Logo na estreia em Liverpool, em 12 de junho de 1966, o Brasil enfrentou uma quase desconhecida Bulgária na segunda participação em Copa do Mundo. Contudo, os búlgaros sabiam qual era a única forma de parar a habilidade dos grandes craques brasileiros: por meio das faltas e da violência. Segundo os relatos do jogo, o volante Jetchev e seu parceiro Kitov deram 23 “entradas criminosas” sobre Pelé com a complacência do “apitador de apito”, o alemão Kurt Tschenscher. Mesmo assim, ele conseguiu fazer um gol de falta aos 15 minutos de jogo. Esta partida marcou a última vez que Garrincha e Pelé jogaram juntos e estabeleceu a marca que a Seleção Brasileira nunca perdeu com os dois em campo. Com o gol de Garrincha também de falta, o Brasil estreava com uma vitória.  

No segundo jogo, contra a Hungria, Pelé estava completamente sem condições de jogo. O Brasil, mesmo com a entrada de Gerson e de Tostão, sentiu a falta do Rei, ainda que tinha acabado empatando de um a um ao final do primeiro tempo. Mas no segundo tempo, acabou levando dois gols sendo um de pênalti.

A classificação do Brasil passava pela vitória sobre Portugal. Por isso, Pelé voltou mesmo sem as condições, o técnico Feola fez outras oito substituições, incluindo o corte de Garrincha. Ainda que a seleção portuguesa era um grande time liderado pelo moçambicano Eusébio, eles adotaram a mesma tática da Bulgária de parar os jogadores brasileiros. Com todo o tipo de bordoadas possíveis, Pelé foi caçado pelos  zagueiro Vicente e pelo meia Coluna com a total tolerância do juiz inglês George Mc Cabe.

É icônica a sequência de imagens em que os portugueses atingem por duas vezes seguidas o Rei do Futebol. Depois dessa sequência, ele precisou sair do campo carregado. Ainda assim, ele retornou ao jogo mesmo mancando porque não era possível fazer substituições. O Brasil acabou eliminado ao ser derrotado por 3 a 1. Toda a grandeza de Pelé se revela quando ele cedeu a sua camisa ao “jagunço” Vicente e cumprimentou todos os jogadores portugueses que pareciam reconhecer a diferença na qualidade de futebol entre os times. Praticamente um pedido de desculpa coletivo.

Pode-se dizer que a vingança brasileira contra os portugueses aconteceria na abertura de um torneio em Nova Iorque, que teve o confronto entre Santos e Benfica quando Pelé garantiu a vitória com duas assistências e um gol que encobriu um zagueiro – Pelé driblou outro antes de arremeter para o gol no ângulo oposto do zagueiro. Segundo a reportagem do Jornal dos Sports, de 21 de agosto de 1966, a torcida invadiu o campo para abraçá-lo, precisando que ele fosse substituído para o jogo recomeçar.

Ainda que bastante revoltante, a Copa de 66 deu o estofo e o aprendizado necessário para que, quatro anos depois, Pelé, reconsiderando sua decisão tomada pela frustração de suas violências sofridas na competição, liderasse a melhor seleção de futebol de todos os tempos e conquistasse em definitivo a Taça Jules Rimet.   

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