O youtuber Felipe Neto, que apoiou o golpe contra Dilma, fazia críticas ao PT, apoiou a Lava Jato e defendeu a prisão do ex-presidente Lula, batendo boca com Zé de Abreu na internet, está disponível em embalagem nova, quem sabe de olho em uma futura carreira política.
Ele virou o novo herói nacional ao comprar 14 mil livros com temática sobre homossexualidade, transexualidade, bissexualidade, intersexualidade etc. e mandar distribuir de graça na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, todos envoltos em um plástico preto com os seguintes dizeres: “Impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”, a milhares de adolescentes seus fãs, que não sabiam o conteúdo de cada embalagem. A iniciativa foi uma reação à tentativa de censura do prefeito Marcelo Crivella a uma história em quadrinho da Marvel, originalmente publicada em 2012, em que dois rapazes se beijam. A reprodução da cena que despertou a ira do ex-bispo da Igreja Universal, ganhou a até primeira página do jornal Folha de S.Paulo.
Foi um perfeito episódio ganha-ganha.
Todo mundo ganhou. Crivella marcou ponto com seu eleitorado conservador para concorrer à reeleição, 14 mil adolescentes levaram livros grátis, a Folha faturou a imagem de progressista, as editoras que publicaram os livros encheram a burra, e Felipe Neto fez um golaço de marketing.
O moço, agora exibindo discretos cabelos pretos e não mais multicoloridos, aos 31 anos, com 34 milhões de assinantes em seu canal no youtube e 9 milhões de seguidores (mais do que os 5 milhões de robôs que seguem Jair Bolsonaro) diz que mudou nesses 10 anos. Em entrevista ao Estadão, Felipe Neto justificou que antes ele fazia críticas ao PT e até comentários homofóbicos porque “quando comecei a gravar vídeos para a Internet, era um menino de 21 anos ainda em processo de amadurecimento, o que me fez criar um personagem reclamão que falava muito palavrão e dizia alguns clichês idiotas e preconceituosos. Dez anos se passaram e, quem me acompanhou durante esse tempo, sabe o quanto eu lutei para corrigir meus erros do passado. Espero que a minha história possa servir de inspiração para muitos jovens que também crescem cheios de preconceitos e reacionarismo dentro de si.”
A mudança de Felipe, das brincadeiras bobas que faziam sucesso entre crianças e adolescentes para uma postura política, começou no ano passado, quando aderiu ao #elenão, campanha das mulheres contra Bolsonaro, e passou a se pronunciar contra a extrema-direita. Em dezembro, ele disse à revista Piauí que se sentia com um dever a cumprir “num país onde o presidente recomenda a seus eleitores assistirem a canais no YouTube em que se diz que o Sol gira em torno da Terra e que o nazismo é de esquerda”.
Essa sua recente atitude o tornou alvo de uma hashtag #PaisContraFelipeNeto iniciada pelo deputado fluminense Carlos Jordy, do PSL, o mesmo que está sendo processado por Felipe após ter dito publicamente que o youtuber teve ligação com o ataque terrorista na escola de Suzano. “Ele criou fake news sem qualquer indício a respeito”, reclamou o youtuber. Em março, Jordy havia dito na rede, sem qualquer base, que Neto havia ensinado seus seguidores a entrar na deepweb. A hashtag contra Felipe também é impulsionada por outros parlamentares bolsonaristas como Carla Zambelli.
“Nós já esperávamos que isso fosse acontecer, porque é o modo de operar desse desgoverno. Tudo eles levam para o campo das reputações e tentam destruir os que se opõe”, disse Neto ao jornal O Estado de S. Paulo.
É um elemento de confusão total. Mais um golpista arrependido se reposicionando para se apresentar como opção “de esquerda”. E sobre o Lula, será que ele mudou de opinião?