Desde as eleições legislativas de julho de 2024, a França vive um impasse político inédito. Com um parlamento altamente fragmentado, o bloco da Nova Frente Popular (esquerda) ocupa a dianteira, seguido pelo partido de Macron e pelo Reagrupamento Nacional, da extrema-direita liderada por Marine Le Pen. Nesse cenário, sucessivos governos ruíram: Michel Barnier caiu após propor um orçamento austero; François Bayrou foi rejeitado por setores da esquerda e por sua postura em temas como imigração e políticas sociais; e Sébastien Lecornu, que chegou a renunciar, acabou sendo reconduzido em uma manobra orquestrada por Macron — vista por parte do parlamento francês como um golpe.
Mesmo com o cenário interno em frangalhos, Macron anunciou nesta segunda-feira (13), durante visita ao Egito, que a França terá um “papel particularmente importante” na reconstrução política de Gaza. O presidente declarou apoio a reformas na Autoridade Palestina (AP) e reafirmou que o Hamas deve ser excluído da governança. “Teremos um papel particularmente importante em questões de governança”, afirmou Macron em Sharm el-Sheikh, sinalizando envolvimento direto em iniciativas de cessar-fogo e planos de reconstrução.
Esse tipo de proposta, no entanto, não será aceita pela Resistência Palestina. Um de seus líderes, Basem Naim, afirmou que figuras como Tony Blair “não são bem-vindas” em qualquer solução pós-guerra, relembrando seu envolvimento direto nas guerras do Iraque e do Afeganistão, que resultaram em centenas de milhares de mortes civis. O Hamas rejeita qualquer tipo de administração estrangeira, incluindo o plano proposto por Donald Trump, que exclui o grupo e tenta impor uma “autoridade transitória” vinda de fora. Para o movimento palestino, isso equivale à negação da soberania nacional e ao esmagamento da resistência.
Enquanto isso, Macron se apresenta como estadista global, mas é incapaz de garantir estabilidade no próprio território francês. Sua tentativa de protagonismo em Gaza não apenas se revela inviável, como ecoa a arrogância imperialista da França e de seus aliados. A insistência em impor uma governança à revelia da vontade palestina ignora a resistência e a autodeterminação de um povo submetido a décadas de ocupação e violência.





