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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

Coluna

Uma introdução sobre imperialismo para a Universidade de Férias

A esquerda brasileira negligencia e ainda não compreende o imperialismo como forma brutal de dominação

100 ANOS DA MORTE DE LÊNIN – O IMPERIALISMO – UMA INTRODUÇÃO PARA O DEBATE DA UNIVERSIDADE DE FÉRIAS DO PCO

Há muito, a esquerda brasileira em diferentes graus de pretensão sabichã propaga retoricamente conceitos e ideias sobre o significado do imperialismo. Me permitam emprestar a expressão usada pelo Rui Costa Pimenta – PCO sobre o grau de discernimento da esquerda brasileira de conjunto ao designá-la de “esquerda de jardim de infância” quando insistem em estabelecer analogias bastante vazias de conteúdo quando tratam do tema do imperialismo e outros tantos. Devido a uma série de lacunas de leitura ou até mesmo da ausência total dessas, a esquerda procura; com até muito esforço intelectual, transformar a abordagem “marxista” do imperialismo em algo que nunca existiu na concepção marxista; principalmente em Lenin, onde o mesmo desenvolveu essa teoria em pleno desenrolar da Primeira Guerra Mundial.

O imperialismo não pode ser pensado atualmente como se restringindo a abordagem histórica clássica da ocupação expansionista de territórios, a partir dos exemplos generalizados denominados “Império Romano”, “Império Asteca ou Inca” e “Império Otomano”, etc. Também não se trata simplesmente da fusão do capital industrial com o capital bancário desde o final do século XIX, já apontado inclusive por economistas de vertente não marxista, como Hilferding e Hobson. Karl Marx nunca escreveu uma teoria que usasse a expressão “imperialismo”; mas, certamente, influenciou diversos teóricos marxistas e outros a debruçarem-se sobre o problema do desenvolvimento do capitalismo na sua forma embrionariamente monopolista; que no final do século XIX já mostrava uma capacidade crescente de concentração elevada de capital nas mãos de grandes conglomerados econômicos e bancários, mesmo que ainda de maneira incipiente.

Marx fez vários estudos e escreveu sobre capital fictício e portador de juros, economia mundial e outros tantos e alguns desses trabalhos passaram a ser conhecidos a partir do livro 2 e 3 do Capital editado por Engels anos mais tarde após o falecimento de Marx. Outros grandes manuscritos foram descobertos a partir da década de 1930 e muitos ainda, até hoje, estão sendo colocados à disposição da sociedade por pesquisadores e militantes recuperados dos “Grundisse” escritos por Marx. A geração de marxistas que apareceu entre o final do século XIX e início do século XX como Rosa Luxemburgo, Leon Trotsky, Bukharin e Lenin conseguiram desenvolver abordagens teóricas como guias práticos na luta de classes nacional e internacional. Quando Lenin escreveu e publicou em 1916 o panfleto (livro) Imperialismo como fase superior do capitalismo, ele procurou explicar que na fase atual do capitalismo monopolista de Estado, a força econômica teria que ser assegurada pela imposição militar na fase ainda mais concentradora de riquezas garantida pelos monopólios multinacionais dos grandes conglomerados econômicos e bancários, tendo o Estado como alicerce da acumulação, reprodução e ampliação do capital ao nível global.

Entre a primeira e até o final da Segunda Guerra Mundial várias nações pertencentes as hierarquias superiores da ordem mundial entraram em conflito para garantir a sua maior fatia da superexploração do trabalho e da expropriação dos países periféricos, além do controle desse grande “condomínio fechado” das potências econômicas e militares globais. Após 1945 e a demonstração inequívoca de força com o lançamento de duas bombas atômicas sobre o Japão e a força econômica avassaladora dos EUA o imperialismo passou a ser administrado por essa potência da América do Norte e global.

A construção de um enorme aparato financeiro com instituições multilaterais como o FMI (Fundo Monetário Internacional), BIRD (Banco Internacional de Reconstrução Econômica), BID (Banco Internacional de Desenvolvimento), todos ligados a ONU (Organização das Nações Unidas) e ainda em torno do Banco BIS (Banco Internacional de Compensações) de Basileia, também conhecido como o banco central dos bancos centrais que controlam o sistema financeiro internacional e confirma a força muito imponente do imperialismo capitaneado pelos EUA. “Somente” esse aspecto já seria suficiente para explicar o poder econômico e financeiro mundial concentrado nas mãos desse “condomínio fechado” denominado de imperialismo.

O controle do sistema financeiro mundial nas mãos desses países reflete o poderio econômico ou material; real e concreto desse seleto grupo dos países do G7 e que certamente não contempla nenhum outro país considerado inimigo histórico como Rússia e China. Apesar de atualmente a China ser a segunda economia mundial, esse enorme país asiático não tem o controle dos processos de dominação do capitalismo monopolista mundial e muito menos a Rússia, que economicamente está bem abaixo. Ser rico não garante a aceitação no clube da classe dominante mundial. Uma potência imperialista não pode ser resumida no tamanho do seu território, na capacidade militar ou até mesmo econômica se não estiverem inseridos num grupo controlador e dominador dos mercados mundiais de maneira coercitiva. Para facilitar e contribuir com muitos ditos marxistas que relutam em penetrar na teoria marxista com disposição militante podemos estabelecer algumas conexões importantes entre a base material ou econômica, o poder ideológico (parte fundamental da superestrutura) e a força diplomática militar.

O imperialismo precisa controlar todas essas três grandes dimensões macroestruturantes para perpetuar o processo de acumulação, reprodução e ampliação do capital monopolista de Estado em grande escala mundial. Para colocar em prática esse poder de dominação é necessário continuar reproduzindo e ampliando a superexploração do trabalho e expropriando a esmagadora maioria dos povos e nações pelo mundo. Os Estados Unidos tornaram-se o guardião da manutenção do imperialismo pela força econômica e pelo poderio militar com cerca de 800 bases militares no planeta e ainda mantendo as parcerias estratégicas via OTAN e demais satélites do imperialismo como Israel no Oriente Médio, por exemplo. Ao mesmo tempo, cada país imperialista mantém bases ou influência militar em muitos países do mundo, em especial na África e na Ásia.

Observando o cenário mundial atual de longa data, entendemos que nenhum dos dois países apontados como imperialistas, China e Rússia possuem bases militares permanentes em outros países. Nem mesmo a Rússia, que detém a maior quantidade de ogivas nucleares do mundo e possui as mais avançadas tecnologias militares de conjunto no planeta, inclusive, já admitidas por muitos generais no interior do Pentágono. Um imperialismo que não controla o sistema financeiro mundial, sendo que para a teoria marxista é justamente a base material que é o alicerce do imperialismo. Isso serve tanto para a Rússia quanto para a China, que apesar de um gigante econômico não controla o mercado financeiro internacional. No que tange a força militar, a Rússia também detém uma força gigantesca, mas ao contrário dos EUA não penetra estrategicamente no interior dos países periféricos e até desenvolvidos como a Itália, onde mantém bases militares estratégicas. Ser um país imperialista sem o controle do sistema financeiro e da economia mundial no seu conjunto, sem ter bases militares estratégicas espalhadas pelo mundo estrategicamente não pode ser considerado um país imperialista. Para completar o eixo dos três principais pilares da dominação estratégica imperialista convergimos no papel do controle da cultura e da ideologia dominante.

Marx e Engels na obra “Ideologia Alemã” escrito em 1844, antes mesmo do Manifesto Comunista de 1848, apontavam com assertividade que os valores dominantes são produzidos e reproduzidos pela classe dominante e assim absorvidos de maneira ampla pela população mundial. Os meios de comunicação de massa da burguesia mundial, a indústria musical e cinematográfica, as redes sociais, as plataformas digitais e outras formas de pensamento, ideia, valores e princípios estão sob o controle e o domínio de grandes bancos, indústrias, plataformas de serviços de telefonia, internet, logística, o grande comércio mundial, o petróleo, energia, indústria química, biotecnológica, farmacêutica, computadores, indústria bélica ou militar e tantas outras estão associadas as agências de publicidade, propaganda, marketing, jornais, revistas científicas e outros tantos canais de informação estão nas mãos dos potentados detentores do capital como dizia Marx. Agora; como uma revisão teórica provocativa, como se fosse um exercício de aprendizagem e fixação de conteúdos para a esquerda: A China e a Rússia tem algum controle sobre esses grandes monopólios mundiais do aparato ideológico/cultural, militar expansionista mundial e econômico no sentido da sua centralidade produtiva, logística e financeira? Se tem, onde estão? Adianto que não irão encontrar. Espero que esse texto tenha contribuído para a esquerda compreender melhor o significado amplo do imperialismo.

 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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