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Egito

Ditadura de Sisi já prendeu mais de 120 apoiadores da Palestina

Após chamar atos pró-Palestina, ditadura egípcia passou a reprimi-los, uma política vinda dos EUA, mas que pode acabar impulsionando uma revolta popular ainda maior

Segundo um relatório da Iniciativa Egípcia para Direitos Pessoais (IEDP), pelo menos 120 ativistas que protestavam em apoio à Palestina foram detidos pelas autoridades egípcias desde 7 de outubro, data em que a Resistência Palestina empreendeu a mais ousada ação da luta pela libertação do país, atacando bases militares de “Israel” e raptando israelenses para trocá-los por presos políticos palestinos. Apesar dos protestos massivos que ocorrem no Cairo (capital do Egito), a ditadura egípcia liderada pelo atual presidente, Abdel Fattah el-Sisi, escancara sua total submissão ao imperialismo ao reprimir manifestações do tipo.

Exemplificando a situação, uma cena testemunhada pelo órgão do imperialismo francês Le Monde retrata o tratamento dispensado por Sisi e pela repressão egípcia aos simpatizantes do povo vizinho:

“’Qual é a sua nacionalidade? Você é palestino ou egípcio?’ Um policial vestido com roupas civis intimida um jovem torcedor de futebol que ergueu uma bandeira palestina no meio das arquibancadas. A cena, capturada por telefone, ocorreu no estádio do Cairo na sexta-feira, 26 de abril, durante a semifinal da Liga dos Campeões da África, vencida pelo Al-Ahly SC, um dos clubes mais emblemáticos da capital egípcia. Poucos minutos depois, a multidão estava entoando slogans em apoio ao povo de Gaza.” (“En Egypte, les voix propalestiniennes bâillonnées”, Eliott Brache, 7/5/2024).

Semanas antes, outros dez ativistas foram presos após manifestações pacíficas, ocorridas em frente ao Sindicato de Jornalistas do Cairo, contra o genocídio palestino. No dia 23 de abril, 16 foram presos por participarem de um ato de mulheres em solidariedade à Palestina, ocorrido em frente ao escritório da ONU Mulheres, também na capital egípcia. Finalmente, no 1º de Maio, seis egípcios foram presos em Alexandria por levantar uma bandeira em apoio ao país vizinho, submetido a uma ditadura monstruosa, responsável pela morte de mais de 35 mil pessoas, das quais 15 mil são crianças.

Nas ruas”, continua a análise publicada na supracitada matéria de Le Monde, “qualquer tentativa de protesto contra a ofensiva israelense e o bloqueio da ajuda humanitária tem sido rigorosamente impedida pelas autoridades. O exemplo mais recente disso ocorreu em 23 de abril, quando uma reunião de cerca de 20 feministas, especialistas em direito e jornalistas em apoio às mulheres palestinas e sudanesas vítimas do conflito foi violentamente dispersada. As ativistas tinham ido entregar uma carta ao Escritório das Nações Unidas para a Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher, exigindo ações concretas para proteger as mulheres em Gaza e no Sudão.” (Idem).

Tendo assumido o governo do país em 2014, na esteira da derrota da insurreição revolucionária da “Primavera Árabe”, o regime de Sisi já colocou cerca de 60 mil ativistas políticos opositores na prisão desde então, muitos sem julgamento. Dezenas de milhares mais foram sujeitos a proibições de viagem, prisões arbitrárias ou forçados ao exílio.

Para a imprensa imperialista, a ditadura egípcia empreende tão severa repressão por medo de que as manifestações em defesa da Palestina evoluam para atos públicos pela derrubada do regime. A explicação aparece em matéria do órgão árabe em inglês The New Arab, que, analisando a periclitante situação do governo egípcio, descreveu-a como “frágil demais”. “Mesmo após uma década de poder inigualável, o regime de Sisi no Egito é frágil demais para permitir qualquer demonstração significativa de liberdade de expressão política”, escreveu o órgão, acrescentando que “o regime do Egito está ciente de que qualquer protesto, mesmo em apoio à Palestina, poderia aumentar e ameaçar sua estabilidade” (“How Egypt’s crackdown on Gaza protests shows the fragility of Sisi’s regime”, Lara Gibson, 6/5/2024).

O que não fica explicado pela colocação é o fato de o próprio governo egípcio ter convocado manifestações em favor da Palestina em um primeiro momento. Um dos principais órgãos de imprensa do imperialismo norte-americano, o The New York Times, chama atenção para o fenômeno:

Como outros governos do Oriente Médio, o Egito não tem sido tímido em relação à sua posição sobre o conflito israelense-palestino. Suas denúncias contra Israel por causa da guerra em Gaza são altas e constantes. Os meios de comunicação estatais transmitem imagens de longas filas de caminhões de ajuda esperando para atravessar do Egito para Gaza, destacando o papel do Egito como o principal canal de entrada de ajuda no território sitiado.” (“As Anger Grows Over Gaza, Arab Leaders Crack Down on Protests”,  Vivian Yee, Vivian Nereim e Emad Mekay, 29/4/2024).

A política de apoio à causa palestina colocou Sisi em uma posição tão popular que criaram um problema para a oposição à ditadura. Uma reportagem do órgão do Catar Al Jazeera expressa a preocupação dos opositores de Sisi com os atos convocados pelo ditador em apoio à Palestina:

Eles [o governo Sisi] estão basicamente explorando nossa raiva, frustração e falta de liberdade política – e liberdade de expressão, pensamento e expressão – para persuadir, manipular e até mesmo nos subornar para que nos manifestemos a favor deles“, disse ao sítio da rede um manifestante (“Angry Egyptians denounce staged pro-Palestine rallies amid Israel-Hamas war”, 21/10/2023).

Segundo a matéria, críticos ouvidos por Al Jazeera acusavam o governo de organizar os protestos para angariar apoio popular para ao seu governo, aproveitando-se da simpatia despertada pelos palestinos. Outro manifestante destacou à reportagem a importância da questão palestina para a população egípcia:

‘A causa palestina é o fator de politização mais impactante para a juventude e para a opinião pública egípcia’, acrescentou el-Hamalawy [Hossam el-Hamalawy, jornalista egípcio]. ‘Afinal, a revolução de 2011 foi o clímax de um processo de dissidência que começou no país no ano 2000, com a segunda Intifada palestina.’” (Idem).

Em um determinado momento, no entanto, o regime Sisi teria dado guinada de 180 graus em sua política, indo ao outro extremo, de ataque frontal às populares manifestações, como evidenciado na supracitada reportagem do francês Le Monde. Nenhum dos órgãos trata da questão, mas é evidente que uma  força externa atuou para guiar a política egípcia, o que não poderia ser outra coisa além do imperialismo.

Pressionados por uma severa crise dentro dos próprios países do bloco (incluindo os dois principais, EUA e Reino Unido), as potências imperialistas têm buscado terceirizar a crise política desencadeada por “Israel”, usando os governos fantoches como de Sisi. Alçado ao poder no país árabe justamente para atender os interesses da ditadura mundial, sua forma de fazê-lo antes era sufocando o levante revolucionário do povo egípcio, porém se traduz agora em reprimir o apoio aos palestinos em seu próprio país.

Por um lado, isso ajuda o sionismo a dar ao mundo a impressão de que os palestinos estariam isolados e que “Israel” tem aliados em países árabes importantes, como o Egito. Por outro, diminuem também a tensão popular por mais ajuda aos palestinos, o que seria natural a todo governo árabe, exceto os completamente dominados pelo imperialismo.

A ditadura egípcia, por sua vez, nada tem a ganhar com a repressão crescente à mobilização popular, sendo mais provável que termine por inflamá-la. Caso isso ocorra, são grandes as chances de estarmos diante de uma nova Primavera Árabe, porém mais radicalizada e em um momento de crise mais profunda para o imperialismo.

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