As eleições no Reino Unido se aproximam. A expectativa é a de que o Partido Trabalhista tenha a sua maior vitória em décadas.
A provável vitória dos trabalhistas não é, em si, propriamente um fenômeno inédito na situação política britânica. É uma oscilação comum, fruto da crise do Partido Conservador. Por mais que seja controlado por uma direção muito direitista, o Partido Trabalhista ainda é um partido bastante tradicional, ao contrário dos partidos sociais-democratas na França, o que permite ao regime lançar mão dessa organização para manter a situação sob controle. Ainda que seja ligado aos sindicatos, o Trabalhismo hoje está sob controle de uma cúpula profundamente pró-imperialista, que, inclusive, expulsou a principal liderança popular do Reino Unido, Jeremy Corbyn.
O que merece ser acompanhado com maior atenção no caso britânico é o crescimento da extrema direita, que hoje se concentra no Partido da Reforma, formado a partir do antigo UKIP, que teve papel central na campanha pela saída da União Europeia. É possível que o partido alcance, em termos de votação, o Partido Conservador. Isso, sim, seria uma reviravolta no quadro político e partidário do país.
Por parte da esquerda, o provável é que a experiência com o Partido Trabalhista no governo se esgote rapidamente. Afinal, a burguesia imperialista britânica ela preparou novamente o Partido Trabalhista para assumir o poder, realizando um expurgo gigantesco, e, uma espécie de repetição ampliada do que fez Tony Blair quase três décadas atrás, quando lançou o chamado Novo Trabalhismo. A tendência, no entanto, é que, com a crise política na Europa, envolvendo a crescente revolta contra a guerra da Ucrânia e o avanço da extrema direita, o governo trabalhista rapidamente perca qualquer apoio popular. Essa situação coloca na ordem do dia uma questão decisiva: a construção de um partido operário renovado, que não tenha nada a ver com a política imperialista do Partido Trabalhista. Isto é, de um movimento da esquerda e dos trabalhadores que se proponha a romper definitivamente com o Partido Trabalhista. Se isso não for feito imediatamente, a extrema direita acabará canalizando as tendências políticas do movimento operário britânico, como está acontecendo na França, onde Marine Le Pen é o partido mais votado entre os operários franceses.
Outro dado importante da situação britânica é o desempenho esperado entre candidatos independentes. O de maior destaque é Jeremy Corbyn, que se tornou o símbolo do expurgo realizado no último período pela direção do Partido Trabalhista. Por meio de uma campanha basicamente voluntária, enfrentando uma série de dificuldades, Corbyn deverá ser um dos mais votados para o parlamento.
Ainda que a decisão seja acertada e tenha o sentido de uma denúncia contra a direção do Partido Trabalhista, a candidatura de Corbyn em si não apresenta uma perspectiva política bem definida. Vencer a eleição e participar do parlamento não mudará substancialmente o regime político. É preciso que Corbyn e seus apoiadores decretem a falência do Trabalhismo e formem um novo partido.