No artigo O que fazer com Pablo Marçal?, Hélio Schwartsman, um dos mais importantes articulistas do jornal Folha de S.Paulo, expressa bem o sentimento da burguesia brasileira em relação à candidatura de Pablo Marçal, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB): o de preocupação. Afinal, por que um articulista precisaria se preocupar em “fazer” alguma coisa com um candidato? Marçal é nada mais que isso, um entre vários candidatos de uma eleição municipal. Quem gosta dele, que faça campanha para ele. Quem gosta de outro, que faça campanha para outro.
Segundo Schwartsman, o problema seria que Marçal estaria atrapalhando o processo político em si: “para a porção do público que ainda vê debates como uma oportunidade para discutir propostas e avaliar o desempenho de candidatos em condições de mundo real, Marçal não passa de um estorvo”. É realmente grotesco como um articulista de um dos jornais de maior circulação do País seja capaz de formular isso. Da forma como ele fala, é como se Marçal chamasse uma orquestra sinfônica para tocar a toda vez que um candidato falasse. Como se ele impedisse alguém de, de fato, se expressar e apresentar as suas propostas.
Mas não é isso que Marçal faz. Tudo o que o candidato do PRTB fez foi falar, foi fazer uma espécie de espetáculo durante os seus discursos, chamando os adversários de “aspirador de pó”, “benzendo” Guilherme Boulos (PSOL) com uma carteria de trabalho etc. Quem se sentiu incomodado com a candidatura, basta não votar nele. Quem acha que ele cometeu algum crime eleitoral porque caluniou alguém, basta entrar com um processo. E ponto final, não há porque considerar o candidato um “estorvo”.
A afirmação de Schwartsman tem, no entanto, um outro sentido. Quando ele fala em “estorvo”, ele não está falando em algo que atrapalhe o processo democrático em si. Isto é, não está falando em algo que atrapalhe a população de escolher os seus candidatos. Até porque esse cidadão nunca protestou contra os debates organizados pela grande imprensa, no qual os candidatos de partidos ideológicos não podem participar. O articulista vê o Partido da Causa Operária (PCO) como um “estorvo”, por exemplo, não porque chama alguém de “vagabundo”, mas simplesmente porque fala aquilo que a burguesia não quer ouvir de jeito nenhum.
Marçal está muito longe de ser um candidato operário, está muito longe de ser um revolucionário. É um direitista, pode-se dizer até que é um bolsonarista. Uma figura tosca, grosseira, que não tem nada a propor e que, caso eleito, será apenas mais uma marionete dos grandes bancos. No entanto, ele é um “estorvo” porque atrapalha o jogo político montado para as eleições municipais.
Para a burguesia, não basta vencer as eleições. Isso é uma questão relativamente fácil, uma vez que ela detém o poder econômico. Não é difícil comprar milhares de cabos eleitorais, pressionar os juízes para que persigam adversários, imprimir milhões de santinhos, fazer boca de urna etc. A questão é que, além disso, é preciso manter um controle sobre a situação política de conjunto. É preciso vencer e convencer uma parcela da população de que o candidato vencedor realmente representa os seus interesses.
Caso contrário, abre-se o caminho para a revolta social. É muito custoso eleger alguém que, no mês seguinte, seja tão contestado nas ruas que seu governo entre em crise. Os principais candidatos da eleição formaram uma espécie de pacto, sea ele oficial ou não, para que os maiores problemas da população não sejam discutidos. Trata-se de um pacto para manter a estrutura política tal como está.
Mas esqueceram de combinar com Marçal. E ele, por está de fora do “esquema”, está denunciando as coisas como verdadeiramente são: uma conspiração para deixar a gestão municipal nas mãos de amigos que não ligam a mínima para o povo. Marçal não faria nada de diferente caso fosse eleito. No entanto, a sua ação de “melar o esquema” de Tabata do Amaral, Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e José Luís Datena poderá dificultar que eles governem futuramente.