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Editorial

Para que arranjar confusão com a Nicarágua?

Governo brasileiro segue em guinada muito direitista na política externa

Circula na grande imprensa um boato de que o governo brasileiro irá se juntar a oito governos direitistas para denunciar supostas violações de direitos humanos que teriam sido cometidas pelo governo da Nicarágua. Ainda que a informação não tenha sido confirmada – e ainda que a grande imprensa vem estimulando muitos boatos acerca desse assunto -, o próprio fato de que o boato existe já é um indicativo de que a relação entre o presidente Lula e o presidente nicaraguense Daniel Ortega vai muito mal.

Não é para menos. No último período, a Nicarágua expulsou o embaixador brasileiro do país. O Brasil, em retaliação, fez o mesmo.

O rompimento de relações diplomáticas com a Nicarágua é culpa do Brasil. Diante da pressão crescente do imperialismo contra o governo Lula, o embaixador brasileiro não foi a um evento de comemoração da Revolução Sandinista. O embaixador não deu nenhuma explicação, e o governo Ortega, naturalmente, ficou extremamente irritado com isso.

Por pior que tenha sido a atitude do governo brasileiro, não era necessário um rompimento. Mas esse acabou acontecendo por sua falta de vontade de contornar a situação. O mesmo Lula que é capaz de fazer acordos com Deus e o mundo, que é capaz de apertar a mão de ditadores como Alexandre de Moraes, se mostrou incapaz de colocar panos quentes em uma situação causada junto a um amigo. O que custaria dar uma satisfação, dar um telefonema, emitir uma declaração conjunta?

Além de criar confusão com quem não deveria estar causando, em um momento no qual o imperialismo está aumentando a sua ofensiva contra os governos de esquerda na América Latina, qualquer crítica ao regime de Ortega por parte do governo brasileiro é, no mínimo, hipócrita. Afinal, criticar o governo Ortega por aprovar leis repressivas como forma de tentar se defender das provocações do imperialismo é ridículo quando o Estado brasileiro, por meio de figuras como Alexandre de Moraes, está levando adiante uma perseguição brutal aos direitos democráticos de todo o povo, em nome de uma “democracia” que interessa tão somente ao grande capital.

A atitude de Lula diante da Nicarágua, ao mesmo tempo em que há uma indisposição em reconhecer a vitória de Nicolás Maduro e de defender a Venezuela de um golpe de Estado orquestrado pelo imperialismo, indica uma mudança significativa na política externa do governo brasileiro. Seja como for, é um péssimo sinal diante do enfrentamento entre os países oprimidos e o imperialismo que deverá se desenvolver no próximo período.

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