Suposta aliada de Lula, Simone Tebet afirmou que irá apoiar o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) em sua tentativa de reeleição. Embora seja até natural o apoio, tendo em vista que ambos são do mesmo partido e Tebet. É curioso observar que a candidatura de Nunes pela prefeitura de São Paulo é um amalgamador de dois setores que diziam se odiar: a direita tradicional e os bolsonaristas.
Durante o período pré-eleitoral, o PT e uma parte da esquerda foram convencidos pela campanha da imprensa burguesa, junto com STF e o Judiciário brasileiro, que a direita tradicional, de partidos como PSDB e MDB, seria uma inimiga mortal de Bolsonaro e dos bolsonaristas. A justificativa seria que esses setores seriam democratas, inimigos do fascismo bolsonarista, e aliados de primeira ordem da esquerda e da classe operária, que também deveriam querer enfrentar os fascistas.
Foi com esse discurso absurdo que tentaram colocar Ciro Gomes e o PSDB nas manifestações pelo “Fora Bolsonaro” de 2021, foi com esse discurso que colocaram uma defensora de latifundiários e assassinos de sem-terra e índios como Simone Tebet em um ministério do governo Lula, além de muitas outras atrocidades e sabotagens do movimento popular. No entanto, fica claro, a cada dia que passa, que esse discurso é uma das maiores farsas políticas do último período.
O apoio de Tebet a Ricardo Nunes é mais uma prova dessa farsa. O atual prefeito de São Paulo é o candidato de Bolsonaro, apoiado também por Tarcísio de Freitas, o governador do Estado comandante de uma das polícias mais letais do país, responsável pela morte de mais de 50 pessoas na Baixada Santista em apenas uma operação, a Operação Escudo.
Se ambos apoiam o mesmo candidato, fica claro que a oposição entre Tebet e o MDB, e Bolsonaro, é apenas uma fachada. Ao ser questionada sobre a flagrante contradição e se subiria no palanque com Nunes ao lado de Bolsonaro, Tebet comenta, inclusive dando risadinhas, que sobe no palanque, mas separada de Bolsonaro: “Bolsonaro não estando (risos). A gente pode ir em dias diferentes”.
Ao comentar sobre o porquê do apoio a Ricardo Nunes e sobre a questão do palanque, a ministra afirma “Até agora, o Ricardo Nunes não me deu nenhum motivo para não apoiá-lo. Obviamente que nós vamos ver qual é a plataforma de governo dele. Mas se ele continuar defendendo a democracia e os valores com os quais eu comungo… O que eu me recuso é subir num palanque de bolsonarista. Eu jamais vou estar no palanque de um candidato que tem pautas que representam um retrocesso, em questões como o armamento, o desmatamento ambiental, na pauta de costumes ou contra a democracia”.
A colocação dela dá indicativo do que vem sendo dito por este Diário e pelo Partido da Causa Operária há muito tempo: a política da direita e da extrema-direita é, basicamente, a mesma. Sua disputa é uma disputa entre compadres, que não representa ruptura política real. Se Ricardo Nunes defende os valores com os quais Tebet comunga, esses valores são os mesmos com os quais Bolsonaro comunga, pois este também apoia o atual prefeito paulistano.
A ressalva de que ela não subiria no tal “palanque bolsonarista” é por uma mera questão de aparências. Subir no palanque ao lado de alguém é algo secundário diante do fato de que Tebet e Bolsonaro defendem o mesmo programa de governo para a cidade de São Paulo. O jogo de cena que Tebet está armando a respeito dessa questão não passa mesmo disso. Inclusive, é possível que toda essa farsa venha abaixo mais para frente e vejamos Tebet, Bolsonaro e Nunes, de mãos dadas, em palanques por São Paulo afora. Nunca se sabe.
A crise na Faixa de Gaza já havia demonstrado que a oposição entre bolsonaristas e a direita tradicional não passava de uma questão superficial, já que ambos os setores posicionam-se a favor do genocídio israelense, defendendo-o e perseguindo todos aqueles que se opõem a ele. A esquerda, em vez de se aproveitar desse fato para desmascarar os bolsonaristas e a direita como apoiadores de um genocídio, optou por se abster do debate e não fazer nenhuma campanha em defesa da Palestina.
Agora, com as eleições, essa aliança entre a direita tradicional e os bolsonaristas irá se materializar cada vez mais, a começar pela própria disputa na Capital paulista, mas isso irá ocorrer em diversas outras cidades.
Além disso, é importante destacar a inutilidade dos “aliados” de Lula, do ponto de vista do governo. Ao colocar direitistas, que são bolsonaristas enrustidos, nos ministérios, Lula está criando um ambiente verdadeiramente impossível para que seu governo possa seguir adiante com o que é necessário fazer para se consolidar.
Figuras como Simone Tebet, outros direitistas e os identitários de plantão, têm apenas a função de sabotar quaisquer ações populares do governo e mantê-lo submetido aos interesses da burguesia, a qual, ao mesmo tempo, procura impulsionar uma situação onde se coloque em questão a própria derrubada do governo. Para se manter, o governo deveria se livrar dos falsos aliados e recorrer ao apoio do povo, que é quem verdadeiramente tem capacidade de sustentá-lo.