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Liberdade de expressão

Não existia mentira e picaretagem antes da Internet?

Colunista do 247 aponta as redes sociais como a grande geradora do fascismo e das mentiras

No dia 18 de setembro, o Brasil 247 publicou um artigo intitulado O fascismo é um dos grandes negócios do século 21, em que Moisés Mendes discorre sobre a existência de um comércio de mentiras, ódio e outros “produtos” mantido pelos “fascistas” brasileiros na Internet.

Entre muitas bobagens, Moisés Mendes apresenta uma ideia muito frequente no interior da esquerda brasileira: a de que a Internet é um retrocesso para uma humanidade muito desenvolvida, pura, sem mentiras, sem ódio, sem calúnias, difamação e crimes. Um verdadeiro paraíso, como os pintados nas capas de jornais religiosos, com humanos, tigres e alces vivendo em comunhão. Um verdadeiro mito do Éden.

O autor não se dá conta que, em primeiro lugar, está ele mesmo publicando um texto na Internet, esse mecanismo tão maléfico para toda a humanidade. Seu texto, como todos os textos do 247, jornal online, serão compartilhados e lidos nas redes sociais, incluindo o tão demonizado X de Elon Musk.

Nunca, em toda a história da humanidade, a esquerda teve tanta chance de crescer quanto no atual momento com a Internet e as redes sociais. Prova disso é a denúncia onipresente dos crimes israelenses contra os palestinos, algo que inunda as maiores redes sociais, criando um caos para a imprensa tradicional que tenta esconder o que se passa. No entanto, Mendes prefere dizer que o terreno é completamente ocupado pela extrema direita raivosa (a mansa não, essa não importa para o autor).

O motivo disso é justamente a falta de uma política real para a população na Internet. Se a esquerda, ao invés de perder seu tempo discutindo a proibição de palavras, qual dieta é mais politicamente correta e com quem as pessoas deveriam ou não se relacionar, e sim se preocupasse com questões reais da população brasileira e mundial, como, por exemplo, a luta contra a polícia que assassinou um índio guarani-caiouá no Mato Grosso do Sul, talvez a população não caísse na rede online da extrema direita.

Um segundo ponto importante é: realmente não existia mentira antes da Internet? Foi com a criação da Iinternet que surgiu o fascismo, o ódio e a chamada desinformação? Só existe mentira nas eleições de hoje em dia?

Nas eleições presidenciais de 1989, a imprensa burguesa, que havia se firmado no Brasil durante a ditadura e estava acostumada a sempre mentir de acordo com o que os militares ordenavam, mentiu absurdamente contra Lula para garantir a vitória de Fernando Collor.

Já existia internet no Brasil? Não. Então, como é possível ligar o desenvolvimento da internet às mentiras, se elas já existiam antes? A realidade é que, apesar de demonizar a internet, tanto Mendes quanto toda a esquerda pequeno-burguesa caíram no conto do vigário da… imprensa burguesa tradicional. A campanha contra a Internet parte principalmente das redes de televisão, dos jornais e das rádios da burguesia imperialista que, não conseguindo conter ou controlar a internet, vê seu reinado chegando ao fim. Não é possível para o imperialismo manter o controle sobre a informação com o desenvolvimento atual da internet, em que cada pessoa com um celular se transforma em um cinegrafista e, segundos após a postagem de uma foto, vídeo ou texto nas redes sociais, as postagens são vistas e compartilhadas por milhares de pessoas, muito mais do que as notícias que aparecem no Jornal Nacional.

É óbvio que, dentro da Internet, existe campanhas com mentiras e notícias falsas, assim como em todos os meios de comunicação, principalmente os controlados pela burguesia. Da mesma forma, não foi a Internet que criou os crimes, os contos do vigário e os coaches.

“Ah, mas com a internet essa escória ganha ouvidos”, diz o pequeno-burguês com zero espírito democrático e capacidade para convencer a população de suas ideias. Não estaria, portanto, nosso pequeno burguês “passando pano”, para usar uma expressão da moda, para a escória muito mais rica e poderosa que produz tudo o que há de ruim para os trabalhadores em todo o planeta? Qual a grande diferença ideológica de um Marçal, que conseguiu popularidade na internet, e de um Datena, que passa as tardes na televisão comemorando os crimes cometidos pela polícia contra a população brasileira?

Isso tudo, no entanto, não é novo. Todo desenvolvimento material, toda invenção, são progressos para a humanidade e aqueles que não querem seu progresso, os atacam. Foi assim com a televisão, com a rádio e até com a circulação de jornais após a invenção da prensa. Basta ver o clássico de Vitor Hugo, o Corcunda de Notre Dame, para se ter noção de como a igreja da época, se vendo ameaçada com a nova invenção, demoniza a prensa dizendo que, com a fabricação de livros em larga escala, não existiriam mais catedrais.

As redes sociais não podem ser cerceadas. A população se organiza através delas, lê, se educa. As mentiras estão presentes nas vidas das pessoas muito antes de as redes sociais existirem, e os empresários que hoje promovem o fascismo pelas redes sociais, também faziam a mesma coisa antes. Os golpes de Estado já existiam antes e duas guerras mundiais provam que a Internet não é o que gera o mal no mundo.

É preciso abandonar as ideias reacionárias de combate e censura à Internet. Vivemos um período em que se coloca uma terceira guerra mundial, que pode reduzir às cinzas países inteiros. Ao mesmo tempo, o imperialismo busca voltar a história para trás, acabando com a liberdade na Internet para impedir que notícias contrárias a seus interesses circulem no meio da população. Quem deseja imputar à Internet todos os crimes atuais dos fascistas, no mínimo, não verá as denúncias dos crimes imperialistas num futuro muito próximo.

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