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Senegal

Imperialismo arranja mais um problema para resolver na África

Presidente, que tem histórico de ser lacaio do imperialismo, adiou as eleições presidenciais e agora enfrenta protestos populares com dura repressão

No último dia 3 de fevereiro, o presidente do Senegal, Macky Sall, anunciou que as eleições presidenciais de 2024, previstas para o dia 25 de fevereiro, haviam sido suspensas.

Conforme já noticiado por este Diário, a decisão do presidente foi validada pela Assembleia Nacional senegalesa, remarcando as eleições para o dia 15 de dezembro através de um projeto de lei que recebeu o apoio de 105 dos 165 membros do parlamento. Contudo, a sessão foi marcada por episódios de repressão, pois parlamentares da oposição foram removidos a força por tentativa de obstruir a votação.

A justificativa dada pelo presidente para adiar as eleições foi que a exclusão de dois candidatos opositores do pleito presidencial poderia levar a distúrbios no país. Ele se refere à exclusão de Ousmane Sonko e Karim Wade, cujas candidaturas não foram validadas pelo Conselho Constitucional do Senegal, órgão responsável pela publicação da lista final dos candidatos.

No caso de Sonko, ele foi impedido de concorrer pela Suprema Corte Senegalesa por ter sido condenado por difamação. Já Wade foi impedido de concorrer por ter dupla cidadania, uma delas francesa.

Ao decidir adiar as eleições, Macky Sall também anunciou a criação de comissão parlamentar para investigar dois juízes do Conselho Constitucional, cuja integridade para conduzir o processo eleitoral seria contestável.

Esta justificativa, por si só, é bastante contraditória, pois tanto Sonko quanto Wade são opositores de Sall e seu partido, podendo ser fortes adversários no pleito.

A título de exemplo, o partido de Sonko, o PASTEF (Patriotas Africanos do Senegal pelo Trabalho, Ética e Fraternidade) é muito popular entre a juventude senegalesa, a ponto de ter sido dissolvido pelo Ministério do Interior e Segurança Pública em 2023, sob a acusação de “convocar frequentemente os seus apoiantes para movimentos insurreccionais, o que levou a graves consequências, incluindo perda de vidas, muitos feridos, bem como atos de saque de propriedade pública e privada”.

Macky Sall em si não está se candidatando à reeleição. Contudo, lançou Amadou Ba para concorrer ao pleito, sendo que seus principais adversários que concorrem são Idrissa Seck (do partido Rewmi, coligação BBY); e Khalifa Sall (do partido MTS, coligação YAW). Diga-se de passagem que este último candidato não possui parentesco com o presidente, apesar do mesmo sobrenome.

Tais candidatos opositores, naturalmente, colocaram-se contrários à decisão que resultou no adiamento das eleições.

Khalifa Sall a classificou como um “golpe constitucional”, exortando a população a sair às ruas. Nesse sentido, sua coalizão, a YAW, informou que iria recorrer ao poder Judiciário contra a decisão do presidente.

Outro candidato, Thierno Alassane Sall (também sem parentesco com o presidente), disse que o adiamento das eleições configura “alta traição”. 

A respeito da contradição aventada acima, a oposição denunciou como uma manobra de Macky Sall para se manter mais tempo no cargo. Pode ser que seja, mas ainda seria uma explicação insuficiente, não esclarecendo a quem beneficia o adiamento das eleições: se ao imperialismo, ou se a interesses nacionalistas do Senegal.

Outra explicação aventada foi a de que Amadou Ba, candidato de Sall, irá perder para o candidato de Sonko, Bassirou Diomaye Faye. Contudo, ainda assim é insuficiente para explicar qual os interesses das classes sociais nessa situação.

Na esteira do adiamento das eleições, a população do Senegal saiu às ruas em protesto, com manifestantes marchando pela capital Dacar, requerendo a reversão da decisão.

Hoje, após mais de 10 dias, protestos seguem ocorrendo. Contudo, o aparato repressivo também foi acionado contra os manifestantes. Apenas nos últimos dois dias, 271 pessoas foram presas, inclusive jornalistas, segundo informações da Human Rights Watch. Igualmente, já foi registrada a morte de pelo menos três homens jovens, conforme informações do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), que se diz “profundamente preocupado” com a crise política no país que seguiu à decisão de adiar as eleições presidenciais. Na mesma declaração, o órgão denunciou o uso de “recurso inútil e desproporcional à força contra os manifestantes” além de “crescentes restrições do espaço cívico”.

Ademais, Liz Throssell, porta-voz da entidade, disse durante uma conferência de imprensa em Genebra que “devem ser rapidamente conduzidos inquéritos aprofundados e independentes e, os responsáveis têm de prestar contas”.

Além das prisões e mortes, o Ministério das Telecomunicações do Senegal anunciou, nessa terça-feira (13), a suspensão da Internet móvel, em um dia em que estava prevista mais uma manifestação contra o governo. Segue abaixo a declaração oficial:

“Devido às mensagens de ódio de carácter subversivo, que já provocaram manifestações violentas, a internet móvel de dados foi suspensa nesta terça-feira 13 de fevereiro.”

A imprensa imperialista britânica, através de seu jornal The Economist, publicou matéria com o título A Democracia está sob ataque no Senegal. Na matéria, é dito que, apesar de o Senegal ter sido visto nos últimos tempos como um pilar da estabilidade, democracia e crescimento econômico no oeste da África, a situação parece estar mudando, pois é a primeira vez na história do país em que uma eleição presidencial é adiada. “A democracia está em grave perigo”, diz o jornal, que frisa ser cada vez mais difícil de discordar a frase de um manifestante, que diz “Macky Sall, Ditador!”.

Ainda no que tange às manifestações dos países imperialistas, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da França apelou ao governo do Senegal para “organizar as eleições presidenciais o mais rapidamente possível e garantir as liberdades públicas”.

Já o secretário de estado dos EUA, Antony Blinken, instou na terça-feira o Senegal a realizar eleições “o mais rápido possível”, num telefonema com o presidente Macky Sall. Segundo declaração de Matthew Millier, porta-voz do Departamento de Estado, Blinken “conversou com o presidente do Senegal esta manhã para reiterar a nossa preocupação sobre a situação no país e para deixar claro que queremos que as eleições se realizem conforme planejado – queremos que elas ocorram o mais rapidamente possível”.

Apesar dessas declarações, ainda não é possível saber de que lado está o imperialismo. Afinal, Macky Sall foi um de seus homens de confiança durante vários anos.

A título de exemplo, durante o seu governo, especificamente no ano de 2015, Sall enviou 2.100 soldados das Forças Armadas do Senegal para lutar junto da Arábia Saudita na guerra de agressão imperialista contra o Iêmen. Uma guerra que resultou na morte de mais de um milhão de iemenitas. Lembrando que o Iêmen é, até o momento, o único país que formalmente declarou guerra a “Israel” em apoio aos palestinos.

Dando continuidade à sua atividade pró-imperialista, em 2017, o senegalês enviou tropas para participar da intervenção militar que a organização imperialista Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) realizou na Gambia.

Mais recentemente, em 2023, afirmou que suas tropas estavam a postos caso a CEDEAO decidisse invadir o Níger, que passou por um golpe de Estado nacionalista, apoiado pelas massas, que desde então vem expulsando o imperialismo francês do país.

Resumindo, tem-se uma situação bastante contraditória.

Por ora, o que se pode concluir é que Macky Sall, durante muitos anos, agiu como um verdadeiro serviçal do imperialismo, seja contra países oprimidos na África, seja contra países oprimidos no Oriente Médio. Contudo, com a decisão de adiar as eleições, está sendo condenado por entidades oficiais do imperialismo e órgãos de sua imprensa.

Dada a falta de informações, ainda não é possível avaliar se essa posição do imperialismo é algo superficial, ou se eles realmente já começam a cortar relações com o presidente senegalês, que até o ano passado se mostrava seu lacaio. É necessário aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Apesar disto, o que é certo é que estamos diante de mais uma crise em um país oprimido, com a qual o imperialismo terá de lidar, despendendo tempo, pessoal e recursos, não bastassem as inúmeras crises com as quais os países imperialistas já precisam se ocupar.

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