No dia 2 de janeiro, o Estado nazista de “Israel” assassinou um dos principais dirigentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), o xeque Saleh al-Aruri, em Beirute, capital do Líbano. Al-Aruri era o vice-líder do Gabinete Político do partido islâmico e um dos fundadores de seu braço armado, as Brigadas al-Qassam, de tal forma que sua morte foi apresentada por “Israel” como uma grande vitória.
Não convenceu. O único efeito que “Israel” conseguiu causar foi aumentar a revolta contra o Estado sionista. O enterro de Saleh al-Aruri foi acompanhado por multidões. O líder do Hezbollah, Hassan Nasralá, afirmou que “vai ter resposta”, em um discurso muito duro contra o Estado sionista e contra o imperialismo como um todo. Até mesmo o presidente francês Emmanuel Macron, aliado de primeira hora de “Israel”, se sentiu obrigado a condenar publicamente o assassinato em Beirute.
Apesar de toda essa repercussão negativa, nem mesmo “Israel” conseguiu uma vitória militar importante. O Hamas, seu grande inimigo do momento, não foi afetado, nem logisticamente, nem organizativamente pelo assassinato.
O que teria levado, portanto, “Israel” a tomar tal atitude?
Ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma “nova ofensiva” de “Israel”, como se o Estado sionista estivesse indo tão bem no campo de batalha que estivesse aproveitando a guerra para derrotar outros inimigos que não apenas o Hamas. Na verdade, o que “Israel” quer é arrastar outras organizações para a guerra para pressionar os Estados Unidos a entrarem no conflito.
É uma medida de desespero. “Israel” tenta provocar uma interferência norte-americana porque está sendo incapaz de, por conta própria, derrotar os combatentes árabes. O Estado sionista sequer está conseguindo, mesmo com todo o seu poderio militar, derrotar o Hamas nos campos de batalha. Mais de 500 soldados foram mortos pelo Hamas, de acordo com o que as próprias fontes sionistas revelam. Recentemente, “Israel” retirou grande parte de seu contingente do campo de batalha, diante das sucessivas derrotas para o Movimento de Resistência Islâmica. Que acontecerá, então, com o Estado sionista ao se enfrentar não apenas com o Hamas, mas também com o Hesbolá, as milícias xiitas na Síria e no Iraque, os Hutis e tantas outras forças que hoje se opõem á existência de “Israel”?
O apelo de “Israel” para que o imperialismo intervenha vai além de sua dificuldade em enfrentar sozinho o levante árabe. Na medida em que “Israel” está se mostrando incapaz de conter a resistência árabe, ao mesmo tempo em que a política da coalizão de extrema direita liderada por Benjamin Netanyahu apenas inflama cada vez mais os sentimentos antissionistas das massas, o imperialismo parece já estar preparando uma mudança sionista no enclave sionista.
A imprensa imperialista, sobretudo a norte-americana, começa a subir o tom contra Netanyahu. A revista The Economist não deixa margem para dúvidas: Binyamin Netanyahu está arruinando a guerra. Hora de despedi-lo. Some-se a isso o fato de que a Suprema Corte de “Israel”, que é um braço norte-americano no regime, acaba de desautorizar o primeiro-ministro.
Se de fato conseguir modificar o regime israelense, o que seria uma operação muito complexa, os Estados Unidos poderiam, assim, tentar “acalmar os ânimos”. Sem a extrema direita no poder, seria mais fácil impor uma política mais branda: retirar colonos de alguns assentamentos, diminuir as hostilidades aos combatentes palestinos, libertar prisioneiros etc.
Em primeiro lugar, o imperialismo teria de remover Netanyahu do poder, o que exigiria levar uma luta política que poderá ser desgastante. Antes da Operação Dilúvio al-Aqsa, Netanyahu e o imperialismo já estavam em uma disputa de grandes proporções, que tinha como centro as tentativas do primeiro-ministro de mudar o funcionamento do Judiciário. O objetivo não era, naquele momento, derrubar o primeiro-ministro, mas tentar aumentar o controle sobre Netanyahu.
Conseguindo derrubar Netanyahu, surgiriam dois problemas. O primeiro é que, mesmo que a manobra mantenha a existência do Estado de “Israel”, será uma grande vitória do Hamas. Isto é, o Hamas teria se mostrado tão forte que foi capaz de derrubar o primeiro-ministro. É um estímulo para que todos os povos intensifiquem sua luta. O que seria uma manobra para “acalmar os ânimos” e preservar o Estado de “Israel” poderá, portanto, acabar levando a uma radicalização ainda maior.
O segundo problema seria a própria estabilidade do regime. Para derrubar Netanyahu, o imperialismo teria que formar um governo de comandado por uma coalizão com elementos diretamente ligados ao Partido Democrata. Já foi feita essa tentativa em 2021 e 2022, no breve período em que Netanyahu ficou fora do poder. A tentativa fracassou, pois a extrema direita tem muita força, enquanto os partidos mais pró-imperialistas não têm uma base social ampla.