Folke Bernadotte foi um diplomata que atuou a serviço da Organização das Nações Unidas durante da Nakba, no ano de 1948. Figura contraditória, aparentemente bem intencionada, ao fim, foi um peão do imperialismo em ajudar a consolidar a farsa de que a ONU tinha interesse tanto no que era melhor para os palestinos, quanto para os judeus. Assim, contribuiu para a consolidação de “Israel” com o Estado judeu sobre o território da Palestina.
Também conhecido como Conde de Wisborg, nasceu em 2 de janeiro de 1895, em Estocolmo, na Suécia, como parte da Casa Bernadotte, parte da realeza daquele país. Era filho do Príncipe Oscar Bernadotte, segundo filho do Rei Oscar II da Suécia.
Sua vida política começaria de fato durante a Segunda Guerra Mundial. Após anos de envolvimento com os Escoteiros Suecos, tornando-se diretor da organização, buscou organizá-los para atuar no front com auxiliares de baterias anti-aérea e também como médicos. Sua atuação eventualmente levou-lhe a ser nomeado vice-presidente da Cruz Vermelha Sueca. Isto foi em 1943.
Durante os anos que restavam da Grande Guerra, após organizar trocas de milhares de prisioneiros que estavam em campos de concentração na Alemanha (nenhum soviético, diga-se de passagem), Bernadotte esteve à frente de uma tentativa de armistício entre o Terceiro Reich e o imperialismo “Democrático”.
A tentativa de realizar um acordo de paz veio a pedido de ninguém menos que Henrich Himmler, um dos homens mais poderosos do Estado Nazista, que propôs que Bernadotte tentasse um acordo de paz com Winston Churchill e Harry S. Truman, respectivamente mandatários do imperialismo britânico e norte-americano.
Himmler estava agindo sem o conhecimento de Hitler. Naturalmente, a paz seria apenas entre os países imperialistas, e serviria para dar um fôlego para que a Alemanha Nazista pudesse continuar a guerra contra a União Soviética, para tentar concretizar seu objetivo de destruir o Estado Operário.
Bernadotte sabia que a tratativa não tinha chances de prosperar, contudo, aceitou apresentá-la ao imperialismo “democrático”.
Apesar dessa atuação na época da Segunda Guerra Mundial, sua história na diplomacia ficaria marcada pela atuação na Palestina, no ano de 1948, durante a Nakba. Bernadotte foi emissário dos interesses do imperialismo para auxiliar a consolidação do Estado de “Israel”.
A conjuntura política específica era o conflito que se seguiu entre os palestinos e os judeus após o Plano de Partilha da ONU, datado de 29 de novembro. Aliás, melhor seria dizer a ofensiva sistemática do sionismo contra os palestinos, para expulsá-los de vez de suas terras. Afinal, a Organização das Nações Unidas (isto é, o imperialismo), através do Plano de Partilha, havia dado um aval formal para que o sionismo tomasse as terras palestinas.
Deve ser relembrado o caráter criminoso desse plano: foi elaborado e aprovado sem a participação dos palestinos e de nenhum Estado árabe. Para além disto, a configuração territorial do “Estado Árabe” foi igualmente criminosa, pois era dividida em três pedaços de terra não contínuos, ao contrário do “Estado Judeu”. Ademais disto, aos sionistas foram reservadas as melhores terras e os principais portos marítimos. Releia a matéria publicada neste Diário sobre o criminoso Plano de Partilha:
Naturalmente, os palestinos reagiram à agressão do sionismo e do imperialismo, da forma que podiam, com parcos recursos. Entre novembro de 1947 e maio de 1948, foram dezenas de milhares de palestinos assassinados e expulsos à força pelos sionistas. Então, no dia 14 de maio, a ONU aprova a Resolução 186, uma mediação contra a violência, como se fossem duas partes em pé de igualdade, e não opressores (sionistas e imperialismo) contra oprimidos (palestinos). Isto se deu no mesmo dia em que Davi Ben Gurion declarou a fundação do Estado de “Israel”.
O líder sionista, que já estava utilizando-se do Plano de Partilha da ONU para avançar em sua conquista total do território palestino, através do método de aproximações sucessivas, seguiu avançando nessa política. De forma que a violência fascista do sionismo contra os palestinos, seja em forma de assassinatos, tortura ou expulsões, ficava cada vez mais escancarada.
Aí entra Folke Bernadotte. Ele foi nomeado, em 20 de maio de 1948, Mediador das Nações Unidas para a Palestina.
Elaborou, então, o que ficou conhecido com Plano Bernadotte. Sua posição política geral pode ser constatada a partir de anotações que fizera em seus diários, à época:
“[…] ao apresentar qualquer proposta para a solução do problema palestino, deve-se ter em mente as aspirações dos judeus, as dificuldades políticas e as diferenças de opinião dos líderes árabes, os interesses estratégicos da Grã-Bretanha, o compromisso financeiro dos Estados Unidos e a União Soviética, o resultado da guerra e, finalmente, a autoridade e o prestígio das Nações Unidas.”
No decorrer de 1948, o plano seria conformado de duas propostas, ambas rejeitadas pelo sionismo. Afinal, Bernadotte defendia o direito ao retorno dos palestinos. Segundo ele, “seria uma ofensa aos princípios da justiça elementar se a estas vítimas inocentes do conflito fosse negado o direito de regressar às suas casas enquanto os imigrantes judeus afluem para a Palestina, e, na verdade, pelo menos ofereceria a ameaça de substituição permanente dos refugiados árabes que estão enraizados na terra há séculos”.
Em um de seus relatórios, chegou a afirmar o seguinte, a respeito dos problemas dos refugiados:
“É… inegável que nenhum acordo pode ser justo e completo se não for reconhecido o direito do refugiado árabe de regressar ao lar de onde foi desalojado pelos perigos e pela estratégia do conflito armado entre árabes e judeus. na Palestina. A maioria destes refugiados veio de território que… deveria ser incluído no Estado Judeu. O êxodo dos árabes palestinianos resultou do pânico criado pelos combates nas suas comunidades, por rumores sobre atos de terrorismo reais ou alegados, ou pela expulsão. Seria uma ofensa aos princípios da justiça elementar se a estas vítimas inocentes do conflito fosse negado o direito de regressar às suas casas enquanto os imigrantes judeus afluem para a Palestina, e, na verdade, pelo menos ofereceria a ameaça de substituição permanente dos refugiados árabes que estão enraizados na terra há séculos.”
Como se pode ver, Bernadotte tinha como uma de suas posições a defesa do direito dos palestinos ao retorno.
Não obstante, continuava estando ao serviço do imperialismo, mesmo que de forma inconsciente. Afinal, era um mediador a serviço das Nações Unidas, não em uma guerra, mas em um genocídio. Além disto, continua a defender o direito dos judeus sionistas a parte da Palestina, que havia sido determinada pela ONU no Plano de Partilha. Contudo, isto não seria suficiente para os sionistas.
Pois bem, a primeira proposta foi feita em 28 de junho de 1948, e consistia em que a Palestina e a então Transjordânia fosse uma União política e econômica de duas entidades, uma Árabe e outra Judaica. Dentro do território deveria ser garantida completa proteção dos direitos religiosos e das minorias. Incluia, igualmente, o direito dos palestinos de retornarem às suas casas. Aos que escolhessem não retornarem, deveriam ser devidamente recompensados. Houve outros pontos, mas estes foram os principais.
Naturalmente, o governo de “Israel” rejeitou a proposta.
Como Bernadotte não era um revolucionário, mas um diplomata a serviço das Nações Unidas, um órgão do imperialismo, elaborou outra proposta, a qual foi apresentada em 16 de setembro de 1948. Neste, ele consultou o imperialismo norte-americano e britânico para a elaboração deste. Com isso, deixou de defender a União (isto é, o Estado único), passando a defender a existência de dois Estados independentes.
Para além disto, defendeu a paz (a tradicional demagogia da diplomacia imperialista, quando quer esconder massacres). Reconheceu que o Estado de “Israel” existe na Palestina, e que “não há razões sãs para presumir que não irá continuar existindo”.
Por outro lado, seguiu defendendo o direito dos palestinos ao retorno. Algo que se mostrou irreconciliável, mesmo com o sionismo trabalhista, que estava a frente do Estado de “Israel”. E mais ainda com os representantes do sionismo revisionista, a corrente sionista que mais representava os desejos dos judeus sionistas em relação à Palestina, qual seja, expulsar todos os palestinos, erguendo um Estado supremacista judeu sobre absolutamente todo o território.
Assim, exatamente no dia seguinte à apresentação da segunda proposta (17 de setembro de 1948), membros da Lehi, a milícia fascista mais ideologicamente adepta ao revisionismo sionista, assassinaram Bernadotte.