Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

É hora de dar combate ao ‘bolsonarismo civilizado’

"Muito além das frases grosseiras do 'tio do pavê' nas redes sociais, bolsonarismo mostra sua verdadeira face"

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”. A declaração do presidente Lula, em viagem à Etiópia, onde já havia reconhecido “dívida histórica” do Brasil com o continente africano por causa da escravidão, desencadeou a fúria do sionismo e de seus sabujos da classe política brasileira – bolsonaristas assumidos ou não – e a sanha da imprensa burguesa. O episódio serviu, afinal, para mostrar quem é o inimigo político a combater.

O que disse Lula qualquer pessoa poderia ter dito, afinal, tendo sentido na pele os horrores do nazismo, os judeus, tomados em conjunto, deveriam ser os primeiros a se levantar contra a prática de atrocidades por qualquer governo autoritário contra pessoas indefesas (crianças, mulheres, idosos, doentes internados em hospitais), como tem ocorrido em Gaza. O que se vê, no entanto, é que os judeus que ousam manifestar indignação diante do massacre de palestinos, transmitido ao vivo e em cores, são perseguidos por outros judeus, os poderosos sionistas, ora empenhados em destruir o povo irmão.

Netanyahu se ofendeu com a declaração de Lula – e, para a Rede Globo e aliados, o problema não é Netanyahu, mas, sim, Lula. Em seu telejornal de maior audiência, a emissora, como costuma fazer, selecionou declarações críticas ao presidente. Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, apareceu dizendo que Lula deve pedido de desculpas “ao povo judeu” e até o líder do governo na Casa, Jaques Wagner, ecoou a reprimenda, mostrando compartilhar o referido “sentimento do povo judeu”. Depois vieram os especialistas em diplomacia e quejandos, unânimes em considerar que Lula “errou”.

Ninguém duvida dos efeitos traumáticos do nazismo sobre os descendentes daqueles que foram perseguidos durante a Segunda Guerra Mundial (aliás, não só judeus), pois há um aparato cultural (filmes, livros, documentários, museus) que garante a chamada “memória do Holocausto”. Para que serve, afinal, essa memória? Não seria para que nunca mais se cometessem atrocidades contra a humanidade? Ou seria apenas para dar ao sionismo um salvo-conduto para levar a cabo qualquer tipo de política contra seus adversários em nome do sofrimento de seus antepassados? Lula, por óbvio, considerou a primeira opção, mas a reação sionista parece confirmar a segunda.

Os bolsonaristas do Congresso tiveram o desplante de apresentar pedido de impeachment do presidente por causa da declaração. Ainda que não haja a menor condição de tal disparate prosperar, pelo menos por enquanto, o pedido se soma a uma série de outros que vêm sendo apresentados pela turma do Bolsonaro desde que Lula assumiu o poder. Como sabemos, esses pedidos têm grande utilidade para a burguesia, pois, se, em algum momento, entender que é hora de dar um golpe, alguma dessas peças grotescas pode dar feição legal à deposição do presidente. Já assistimos a esse filme.

Uma certa Dora Kramer, em artigo publicado na Folha de S.Paulo, em tom de ameaça, avisa: “No âmbito interno, Lula, que já enfrenta rejeição entre os evangélicos, certamente terá problemas eleitorais com outro importante e influente estrato religioso: a comunidade judaica”. O que a articulista chama de “comunidade judaica” é, na verdade, a “comunidade sionista”, mas, como temos visto, o sionismo não gosta de se apresentar como tal, mesclando sua identidade política com a identidade cultural e religiosa dos judeus, que curiosamente, ao sabor da conveniência, é tratada como “raça”.

Exemplos dessa conveniência têm aparecido com frequência. Quem faz críticas ao sionismo corre o risco de ser processado por “antissemitismo”, como se fosse racista (!), coisa que vem ocorrendo, por exemplo, com o jornalista judeu Breno Altman, que, em seu canal no YouTube, tem dado verdadeiras aulas sobre a história do conflito israelo-palestino desde a fundação do dito “Estado de Israel”. Breno tem sofrido censura e sendo instado a pagar altas multas por apresentar uma visão dos fatos crítica ao sionismo. O uso da Lei da Injúria Racial (aprovada em nome da proteção da população negra) para defender o sionismo tem criado um cenário de grande insegurança e de cerceamento da liberdade de livre manifestação do pensamento.

O deputado federal Rodolfo Nogueira, do PL de Mato Grosso do Sul, por sua vez, anunciou que vai denunciar o presidente Lula no Tribunal Penal Internacional de Haia por antissemitismo por causa da declaração dada em Adis Abeba (Etiópia).  Seria por demais aberrante que esse tribunal, que não condenou Netanyahu pelo massacre em Gaza, viesse a condenar Lula por comparar o genocídio palestino com o genocídio nazista.

O Tribunal de Haia, depois de ser provocado pela Turquia a julgar Netanyahu por genocídio, emitiu “ordem” a Israel para que “tome todas as medidas possíveis para evitar atos que possam ser considerados genocídio em Gaza”. Como inexiste qualquer mecanismo que garanta o cumprimento da ordem, o massacre continua a olhos vistos. O lobby sionista, que, no Brasil, integra uma espécie de “bolsonarismo civilizado”, atua com força no mundo inteiro.

É fácil criticar a arraia-miúda do bolsonarismo nas redes sociais (e, de quebra, mandar alguns de seus representantes para a prisão). O difícil é combater o verdadeiro bolsonarismo, aquele que é “competente” para dar golpes de Estado.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.