De fato, Bolsonaro conseguiu encher a avenida Paulista no último domingo com seu exército de manifestantes, vestidos com a camisa da seleção brasileira de futebol, parte deles empunhando a bandeira de Israel. Segundo articulista da Folha, que se mostra engajada em defender o “Estado de Israel”, Bolsonaro “conquistou o voto de gente preta e pobre, que deu as caras na Paulista”. Na opinião dela, o povo é que é bolsonarista, não os ricos.
Em seu arrazoado, a defensora do “direito de resposta de Israel” em Gaza diz, entre outras platitudes, que o povo é conservador. Enfim, a burguesia não teria nada a ver com o tal do “bolsonarismo”. As bandeiras de Israel na manifestação, no entanto, sinalizam quem, de fato, é a extrema direita.
O eleitor bolsonarista das camadas mais baixas é formado basicamente pelo que se convencionou chamar de “empreendedores sociais” – motoristas de aplicativo, manicures, vendedores de bolo caseiro nas calçadas, camelôs, uma série de trabalhadores que estão fora da proteção legal do trabalho. Para quem não sabe, carteira de trabalho assinada, hoje em dia, é luxo. Há uma quantidade enorme de pessoas que “se viram” para sobreviver, com ou sem ajuda dos programas de governo. Gente que nunca soube o que é ter direito trabalhista. Gente desmobilizada, às vezes amparada por igrejas evangélicas.
A quem interessa convencer todas essas pessoas de que são “empreendedores”, de que podem ter grande sucesso a depender do próprio esforço etc.? Esse discurso é despejado sobre a cabeça da população, cercado de uma suposta aura de modernidade, pela imprensa burguesa. O resultado é o proverbial “pobre de direita”, que se acha um “empreendedor”.
A burguesia inflou esse discurso para desmobilizar a classe trabalhadora, mas o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Esse povo nunca vai ser eleitor de algum picolé de chuchu da Faria Lima. A esquerda tem um trabalho pela frente, que vai além de brincar de identitarismo.