No dia 28 de setembro, camponeses posseiros do Barro Branco, localizado no município de Jaqueira (PE), foram surpreendidos por mais de 50 pistoleiros que tentaram invadir suas terras. Os posseiros resistiram e conseguiram, com suas próprias forças, impedir a ofensiva. Três pessoas acabaram sendo baleadas pelos capangas do latifúndio.
Logo após o acontecimento, correspondentes do Diário Causa Operária conversaram com alguns dos posseiros, que forneceram vários detalhes sobre o regime de terror no campo, imposto pelos pistoleiros com a conivência e, muitas vezes, com a participação do aparato repressivo do Estado.
Na edição anterior deste Diário, apresentamos uma entrevista feita com uma posseira que morava na região havia 52 anos. No presente artigo, expomos as declarações de um camponês que reside em Barro Branco há 43 anos.
“Eu estou aqui desde que eu nasci. Desde que nasci, eu resisto por aqui.”
O camponês, assim como muitos outros de Barro Branco, trabalhava na Usina Frei Caneca, que faliu e deu o calote em seus funcionários.
“Faz vinte e dois anos que não recebo uma moeda”.
Segundo o posseiro, o atual conflito entre camponeses e latifundiários já dura dez anos. Os camponeses acusam o latifundiário Guilherme Maranhão de ser o responsável por intimidar, agredir e até mesmo atirar contra os posseiros.
“Ultimamente, tudo tem estado mais mais violento. Eles estão ameaçando nós, querendo tomar a terra de nós, querem que nós fechemos tudo o que nós temos aqui. Tudo o que nós viemos criando aqui, eles querem tomar tudo. E nós, vivendo na terra esse tempo todo, nascemos e nos criamos, trabalhamos na empresa e vamos sair sem nada?”
Apesar de preocupado com as investidas dos pistoleiros no último período, o camponês ficou satisfeito com o empenho da resistência camponesa.
“Esse conflito de hoje foi ruim porque machucaram alguns companheiros nossos, né? Mas foi uma ação boa, uma ação boa, porque eles recuaram. Não foi só eles que lutaram, né? Eles lutando contra nós, e nós contra eles. Eu achei que nós vencemos, entendeu?”
A vitória da resistência, contudo, não foi suficiente para que os camponeses acreditem que o conflito chegou ao fim.
“Olha, daqui pra frente eu acho que vai acontecer coisa pior. Porque o que nós passamos hoje, nunca tinha acontecido. Já tinha acontecido algo parecido um tempo atrás, mas nunca tinham baleado ninguém. Mas nós não vamos desistir, não. Nós vamos seguir em frente.”