No dia 28 de setembro, camponeses posseiros do Barro Branco, localizado no município de Jaqueira (PE), foram surpreendidos por mais de 50 pistoleiros que tentaram invadir suas terras. Os posseiros resistiram e conseguiram, com suas próprias forças, impedir a ofensiva. Três pessoas acabaram sendo baleadas pelos capangas do latifúndio.
Logo após o acontecimento, correspondentes do Diário Causa Operária conversaram com alguns dos posseiros, que forneceram vários detalhes sobre o regime de terror no campo, imposto pelos pistoleiros com a conivência e, muitas vezes, com a participação do aparato repressivo do Estado.
Ao contrário do que diz a propaganda do latifúndio, a região é habitada por muitas pessoas que ali vivem por décadas. Uma das pessoas com quem conversamos mora há 53 anos no Barro Branco.
“Sou nascida e criada aqui em Barro Branco. Tenho três filhos. Meu esposo e a minha família toda é aqui de Barro Branco.”
O marido dessa posseira foi um dos muitos funcionários da Usina Frei Caneca, localizada na região. A usina fechou as portas e, até hoje, se nega a cumprir com suas obrigações trabalhistas.
“A gente hoje ainda vive nas terras, porque eles nunca pagaram nada para a gente. Na realidade, eles nunca pagaram nada para ninguém que trabalhou na terra da usina. Nunca fizeram nada para ninguém. Até hoje, a gente vive ocupando a terra.”
Episódios como o do dia 28 de setembro são uma rotina na região.
“Olha, esse conflito que está acontecendo agora é da empresa da Mata Sul, que é do rendeiro Guilherme Maranhão. Ele arrendou e, depois que ele arrendou essas terras da usina, ninguém teve mais sossego. Ele colocou veneno e afetou as águas da gente. A gente tinha onze cacimbas de água, e o gado ficou sem água. Eles poluíram as nossas fontes. A gente usa água encanada, que vem de outra barragem, de outro lugar para cá, porque nós não temos mais acesso às nossas águas daqui de Barro Branco. E até o rio também ficou poluído, e nós não usamos mais a água dele.”
A posseira, então, explicou que, no dia 28 de setembro, os moradores estavam consertando a cerca do quintal deles, quando, às seis horas da manhã, viram pessoas da Mata Sul e policiais andando de carro nas proximidades.
“Eles ficaram aqui no caminho todo, encarando os moradores que estavam consertando a cerca. Aí, houve um tiroteio, né? Do pessoal da empresa, e a polícia veio. A gente pensava que a polícia vinha do nosso lado, mas estava do lado deles. Essa é uma realidade. Até a polícia mandou a gente ir para dentro para ao trator passar por cima da gente.”
Com a experiência adquirida na luta pela terra, a posseira perdeu qualquer esperança de que o Estado resolva os problemas do povo do campo.
“A polícia não resolve nada, né? O que eu quero é que toda a população se reúna, se junte e a gente lute pelas nossas terras. Vamos agir com as nossas próprias mãos. Vamos fazer a nossa defesa e lutar pelos nossos direitos. Nós aqui, como não temos Justiça pra nós, nós mesmos somos a Justiça. A partir de hoje, vamos tomar essa decisão. Todos os moradores, eu creio, estão reunidos pra tomar uma decisão só.”