No último dia 11, 51º aniversário do golpe militar chileno, o governo de Gabriel Boric mobilizou uma impressionante força policial para reprimir violentamente manifestantes que marchavam em memória das vítimas da ditadura de Pinochet. O uso de 1.800 carabineros contra cerca de 3.500 manifestantes, conforme informado, escancara o nível de controle exercido pelo Estado para impedir a mobilização popular.
Entre os episódios mais trágicos desse dia, destaca-se o assassinato brutal de Alonso Verdejo, um estudante de agronomia de 26 anos, esfaqueado por um fascista participante da contra-marcha pinochetista, protegido pela polícia. O governo, representado pelos “esquerdistas” Manuel Monsalve (PS) e Camila Vallejo (PC), afirmou que a repressão havia sido “eficaz”, revelando a hipocrisia de um regime que, sob uma fachada de esquerda, protege abertamente o legado do ditador Pinochet.
Esse massacre em plena manifestação em memória das vítimas da ditadura chilena não pode ser visto como um fato isolado. Ele reflete a traição profunda do governo Boric ao movimento popular que o elegeu, traindo os anseios daqueles que protestavam contra o regime de Sebastián Piñera.
Assim como no caso de Lenin Moreno no Equador, que se elegeu com o apoio de Rafael Correa e, após assumir o poder, dedicou-se a destruir as bases do movimento que o levou à presidência, Boric segue o mesmo roteiro de estelionato eleitoral. Prometendo fazer do Chile o local de enterro do neoliberalismo, ao invés de continuar a luta contra os resquícios pinochetistas, optou por apoiar diretamente as forças reacionárias, sacrificando o movimento que se manifestou nas ruas em 2019.
O governo de Boric não apenas traiu as aspirações daqueles que o elegeram, mas também se alinha abertamente com o imperialismo norte-americano e seus aliados na América Latina. O apoio chileno aos golpistas na Venezuela é um exemplo gritante de sua subserviência aos EUA e ao pinochetismo. Isso porque o mandatário chileno rebaixou-se ao ponto de utilizar pinochetistas para instruir os golpistas venezuelanos conhecidos como “guarimberos”, a ala mais radical do movimento, que usam do terror e da violência contra os apoiadores de Maduro, inclusive ateando fogo a hospitais.
Boric, ao lado dos monopólios internacionais, tem atacado sistematicamente a Venezuela, acusando o governo bolivariano de ser uma “ditadura”, o que não deve ser lido sem uma boa dose de ironia diante da repressão selvagem contra manifestantes opositores da verdadeira ditadura, comandada por Pinochet. Ao fazer isso, termina servindo de marionete para as potências imperialistas, provando que é um verdadeiro capacho dos interesses estrangeiros e inimigo dos povos oprimidos da América Latina. Não é surpresa que, ao trair seus eleitores, Boric tenha consolidado uma política de repressão interna e ataque às lutas populares.
Enquanto outras nações latino-americanas, como a já citada Venezuela e também Honduras, Colômbia e a Bolívia, enfrentam tentativas de golpes de Estado instigados por forças internas e externas, o Chile, sob o governo Boric, parece estar a salvo de tais intervenções por se mostrarem desnecessárias: a eleição de Boric representou uma manobra cirúrgica para evitar a ascensão de um governo realmente comprometido com as mobilizações populares contra o regime de Sebastián Piñera. A reação imperialista não precisou forjar um golpe militar ou judicial no Chile, pois Boric já desempenha o papel que lhes interessa: manter o país sob o controle dos monopólios, esmagando qualquer possibilidade de avanço revolucionário.
Essa estratégia de sufocamento dos movimentos populares já é familiar na América Latina. O imperialismo, incapaz de controlar diretamente alguns governos, recorre ao apoio de líderes “progressistas” que rapidamente se tornam inimigos dos movimentos populares. Boric é o exemplo mais recente dessa operação.
Ele, que chegou ao poder prometendo mudanças, rapidamente revelou sua verdadeira face, ao se aliar às mesmas forças que reprimiu, prendeu e assassinou durante os anos de ditadura. A repressão policial no aniversário do golpe e o assassinato de Alonso Verdejo demonstram que o regime de Boric quase não difere do pinochetismo em um dos seus aspectos mais destacados: a brutal violência estatal contra as lutas sociais, que com o identitário chileno no governo, permanece como seu principal instrumento de controle.
Enquanto Boric se afunda em sua subserviência ao imperialismo, a repressão interna cresce. Ao invés de responder às demandas populares, o governo reforça as forças repressivas e intensifica a criminalização dos protestos. Leis que concedem impunidade aos carabineros, como a Lei Nain Retamal (equivalente à política bolsonarista da exclusão da ilicitude aos policiais), são aprovadas com o apoio entusiástico do governo, mostrando que Boric está disposto a fazer qualquer coisa para garantir que a ordem estabelecida pela ditadura de Pinochet não seja abalada. O uso de 1.800 carabineros contra uma marcha de 3.500 pessoas revela a proporção do controle estatal sobre as ruas.
O apoio incondicional de Boric ao imperialismo norte-americano e sua política de repressão interna mostram claramente que sua eleição foi um golpe disfarçado de vitória democrática. Longe de representar uma ruptura com o passado autoritário, o governo chileno está consolidando um regime que mantém intactos os pilares da ditadura pinochetista, enquanto reprime qualquer tentativa de mudança real. Ao se aliar aos monopólios internacionais, Boric garantiu que o Chile fosse convertido em uma fortaleza do imperialismo na América Latina.
Diante desse cenário, é fundamental que as organizações de trabalhadores, estudantes e movimentos populares assimilem a experiência dada por Boric e se preparem para nova onda de golpes. É crucial que os setores oprimidos não confiem nem deem seu apoio a elementos estranhos à classe trabalhadora, sendo inseridos na esquerda com o único propósito de desarticular o campo. O caso Boric demonstra bem a armadilha do identitarismo, cuja política se preocupa com demagogias e questões muito superficiais, que na melhor das hipóteses não tem relevância alguma para as massas operárias.
Por outro lado, essa política serve como um escudo para o imperialismo, que usa essas questões para desviar a atenção e atacar os povos oprimidos, incluindo chilenos, brasileiros e outros latino-americanos. A mobilização nas ruas e por interesses reais é a única forma de enfrentar as forças reacionárias e lutar por um verdadeiro governo dos trabalhadores, livre da influência dos monopólios e do imperialismo.