No último dia 7 de março, durante o pronunciamento conhecido como Estado da União, feito no Capitólio, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deu uma nova exibição da demagogia que marca seu monstruoso governo ao falar da crise no território ocupado da Palestina. Na ocasião, o mandatário norte-americano afirmou trabalhar “sem parar para estabelecer um cessar-fogo imediato que duraria seis semanas”, visando a libertar os reféns em Gaza e superar “a intolerável crise humanitária”. As palavras de Biden, no entanto, esbarram no fato incontestável de que sua embaixadora na Organização das Nações Unidas (ONU), a identitária Linda Thomas-Greenfield, tem reiteradamente apoiado o que Biden classificou como “intolerável crise humanitária”.
Os votos de Thomas-Greenfield, afinal, bloquearam todas as propostas de cessar-fogo apresentadas na organização imperialista até o momento, fazendo dos EUA e seu governo, na prática, os principais apoiadores do genocídio do povo palestino. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, desde o 7 de Outubro até o último dia 29, mais de 70 mil palestinos foram feridos pelos bombardeios criminosos de “Israel”, 30 mil morreram e 10 mil encontram-se desaparecidos em meio aos escombros da cidade destruída.
O Ministério informa ainda que mais de 70% das 110 mil vítimas do sionismo são mulheres e crianças. A despeito das declarações demagógicas de Biden, esta é a verdadeira obra do imperialismo no território ocupado da Palestina, sendo este também o interesse do governo norte-americano. Ocorre, porém, que a matança em escala industrial de civis inocentes está provocando uma crise nos EUA, com reflexos também nas eleições gerais, marcadas para 5 de novembro.
Na chamada Super Terça, dia mais importante das primárias norte-americanas, mais de 255 mil eleitores democratas em 15 estados votaram na opção “sem compromisso”, uma forma de protesto que significa apoio ao partido, mas não aos candidatos. No estado do Minnesota, importante base democrata, o “sem compromisso” conquistou 19% do total de votos, o segundo melhor resultado.
O voto de protesto iniciou-se nas primárias do estado de Michigan, onde Joe Biden conquistou 154 mil votos dos 200 mil eleitores muçulmanos aptos a votar em 2020. A campanha “Listen to Michigan” (“Ouça o Michigan”) resultou em 100 mil votos de protesto, favoráveis ao partido, mas contra Biden.
Outros movimentos de protesto contra a política imperialista ultrapassam o repúdio ao atual mandatário e ameaçam o próprio partido Democrata. O órgão público norte-americano National Public Radio (NPR), entrevistou Nazita Lajevardi, uma cientista política da Universidade Estadual de Michigan, que declarou ao órgão, após estudar as publicações da comunidade muçulmana nas redes sociais, que “a maneira de acabar com esse tipo de atrocidade [o genocídio palestino] é tirá-lo [Biden] do cargo.” (“In Michigan, where every vote counts, Arab Americans are turning away from Biden”, 17/11/2023).
“Porque como eles estão sendo representados substantivamente? Como seus interesses estão sendo realmente defendidos pelos Democratas? Acho que esta é uma pergunta muito justa que os muçulmanos estão fazendo agora”, disse Lajevardi. “Não votar em um Democrata em 2024 não é tão custoso para os muçulmanos como alguns podem supor.”
Além de piorar a já dramática situação da reeleição de Joe Biden, há ainda diversas outras manifestações da crise provocada pela barbárie sionista contra o povo palestino. Mesmo em “Israel”, o governo do partido Licude (liderado pelo atual primeiro-ministro, Benjamin Netaniarru), da extrema direita do sionismo, enfrentou protestos em diversas cidades no último dia 9, que chegaram a reunir milhares de manifestantes em Telavive (“Manifestantes em Israel pedem destituição de Netanyahu”, Poder360, 9/3/2024). Segundo a matéria do órgão direitista, “na Praça da Democracia de Tel Aviv, os manifestantes gritavam frases como ‘não vamos parar até que Bibi (apelido de Netanyahu) seja preso’ e ‘você é o líder, você é o culpado’.”
Protestos do gênero vêm sendo realizados também em diversas partes do planeta, com as mais expressivas acontecendo nos países árabes, cujos governos enfrentam forte pressão para romper com a submissão ao imperialismo e apoiar o povo palestino. Também na Europa, um continente central para a manutenção da ditadura mundial, grandes mobilizações têm enfrentando as tendências fascistas dos governos europeus, colocando os governos imperialistas em uma situação onde a demagogia com os palestinos torna-se cada vez mais uma questão de sobrevivência.
Os trabalhadores e as massas oprimidas, entretanto, não devem se confundir com declarações vazias. Se os governos europeus e norte-americano realmente quisessem, a matança horripilante do povo palestino já teria acabado. É o imperialismo que ordena “Israel” a perpetrar o genocídio em desenvolvimento na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, de forma que só o medo de um levante revolucionário dos povos oprimidos pode por fim a este holocausto.