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Coluna

As manifestações contra a extrema direita na Alemanha

"Não é de hoje que os partidos alemães têm acirradas divergências com a extrema-direita, representada pelo partido AfD (Alternativa para Alemanha)"

Não é de hoje que os partidos alemães têm acirradas divergências com a extrema-direita, representada pelo partido AfD (Alternativa para Alemanha). Não raro os jornais tratam como escandalosa qualquer aproximação de parlamentares e líderes partidários com o AfD, como quando o líder do CDU, considerado mais conservador, manifestou-se publicamente a favor de uma pauta da extrema-direita, e, declarou que poderia dialogar. Certo é que TV, que é pública na Alemanha, bem como os jornais, rechaçam qualquer aproximação com a AfD, e, o consideram como um partido neonazista, chegando muitas vezes a afirmar isto abertamente. Por outro lado, cresce sua popularidade e a representação nos Estados-membros da federação alemã só vem aumentando.

À burguesia alemã interessa a imigração e toda política de inclusão e integração de estrangeiros, ao contrário do que propaga a AfD. É fato que os estrangeiros aceitam menores salários que os trabalhadores alemães, ainda que sua qualificação seja alta e especializada. Faltam profissionais na área da saúde e da educação, sobretudo na educação básica. Os jornais alertam para as preocupações do governo suprir o deficit. Em pese as ofertas de trabalho, a adaptação e integração não é nada fácil, a começar pela barreira linguística. A língua alemã não é fácil para a maioria dos estrangeiros de origem latina, árabe e oriental, e como se não bastasse, diversos Estados e cidades alemães falam diferentes dialetos, o que torna quase impossível a comunicação em curto espaço de tempo. Mas enquanto o governo amplia e aprofunda as políticas de integração a fim de suprir a demanda, os problemas econômicos, sociais e políticos no Estado de bem-estar social alemão tendem a se agravar cada vez mais e mais rapidamente.

A insatisfação com a colisão que governa a Alemanha hoje, cujo chanceler é considerado pelas mídias alemãs como o mais impopular dos últimos tempos, também aumenta. Os trabalhadores de setores do transporte fizeram uma paralisação na última semana, os pequenos agricultores fizeram uma grande manifestação na semana anterior e outras categorias de trabalhadores, que são por sua formação histórica muito organizadas, cogitam mais manifestações e greves contra diversas medidas que vêm sendo tomadas pelo governo.

Neste cenário, não estão na liderança os partidos políticos, que acabam surfando na onda de algumas reivindicações. E isto ocorre tanto na extrema-direita, representada pela AfD, quanto na extrema-esquerda, representada pelo partido Die Link (embora não seja um partido propriamente revolucionário, é assim comumente referido). Mas as grandes manifestações contra a extrema-direita, contra o neonazismo, contra a xenofobia e o racismo que agitou diversas cidades alemães há pouco mais de uma semana, já se encontram sob suspeita quanto ao número de participantes divulgados pelas principais mídias alemães, incluindo a TV pública.

Disputa de narrativa

Tal qual ocorre no Brasil, embora com muito menos acirramento, há uma disputa de narrativas sobre democracia e neonazismo na Alemanha. Não resta mais tão claro quais seriam as pautas de direita e/ou de esquerda. A direita perde popularidade e a esquerda, já dividida, vem perdendo votos para a AfD em diversos Estados, sobretudo nos Estados da antiga Alemanha oriental (DDR). A luta contra o neonazismo teria unido vários setores e arrastado as pessoas para as ruas, setores ligados sobretudo à burguesia alemã teriam apoiado as manifestações. Mas a verdade é que a Alemanha enfrenta graves problemas econômicos, o que já a fez cair da quarta posição, a pobreza cresce, há uma verdadeira crise por falta de moradia em várias cidades, o que se agrava em cada início de semestre letivo, quando a procura por moradia para universitários aumenta consideravelmente em cidades como Berlim, onde a crise já se arrasta por alguns anos, Münster, Frankfurt, Hamburg, para citar as mais divulgadas pelo Tagesschau (tradicional noticiário da TV alemã). Assim, cresce a procura por abrigos, e há um considerável número de pessoas em situação de vulnerabilidade. Essa situação é divulgada nos veículos de comunicação alemães. É preciso lembrar, no entanto, que em tempos nos quais a esfera pública é virtual, todo tipo de pessoa pode se tornar um autor, e as distorções da realidade não são esclarecidas em velocidade e alcance suficiente para não confundir as pessoas. 

Longe da revolução

Nem se fala sobre revolução por aqui. A ciência de Marx não passa de mais uma percepção da realidade que se sujeita a todo tipo de controvérsia nas bolhas acadêmicas. Poucos ousam inovar a rígida tradição acadêmica alemã e as vozes revolucionárias não são ouvidas, seja porque são poucas, seja porque a repressão pesada se esconde em fumaça de democracia, enquanto os direitos ditos fundamentais perdem cada vez mais o sentido na dura realidade que os alemães e imigrantes enfrentam. E ninguém pode se manifestar contra a Ucrânia sem ser acusado de ser apoiador de Putin, considerado algo como um déspota que ainda sonha coma União Soviética. Apoiar a resistência palestina é crime na Alemanha, assim como é antissemitismo condenar a atuação do Estado de Israel. O Estado de Direito alemão atua como um suicida: sufoca os direitos fundamentais com tamanha força e arbitrariedade, seja em âmbito nacional, seja perante a comunidade internacional. A vitoriosa social-democracia sobre o nazismo se aproxima cada vez mais dele, e se ajoelha diante do império como sempre. O perigo de uma nova ascensão do nazismo, ainda que com outra roupagem, já ronda a Alemanha e, com isso, afeta toda a Europa continental.

Enquanto estivermos sob o julgo do capital, não importa o quão menor seja o abismo entre as classes, ele aniquilará nossos direitos, nos roubará nossa humanidade e nos levará, novamente, para a barbárie.

Sem revolução, seremos eternamente como um cão correndo atrás de seu próprio rabo.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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