É um fato horripilante que “Israel” já tenha assassinato mais de 28 mil palestinos na Faixa de Gaza, dos quais pelo menos 12 mil crianças e oito mil mulheres (isto sem incluir na conta o número de desaparecidos, que já ultrapassa sete mil). Esse morticínio sem precedentes deixa claro que os sionistas cometem um genocídio contra a Palestina. Contudo, há outros fatos que podem não ser tão noticiados, mas que também são um resultado horrendo da violência fascista contra os palestinos.
Um desses fatos é que milhares de crianças palestinas, ao perderem suas famílias, também estão perdendo suas identidades.
Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) – uma organização do imperialismo, diga-se de passagem – mais de 17 mil crianças em Gaza foram separadas de seus pais e suas famílias, graças a “Israel”.
Na situação caótica produzida pelos bombardeios das forças de ocupação, que resultam na destruição de praticamente todo tipo de serviço público, a regra geral é que essas crianças sequer possuam uma identificação formal consigo.
Agravando a situação, tais bombardeios, além de incursões terrestres das tropas invasoras, deixam as crianças profundamente traumatizadas, a ponto de muitas vezes sequer conseguirem falar. Nesse sentido, Jonathan Crickx, chefe de comunicação da UNICEF para os territórios palestinos ocupados, relata que quase todas as crianças de Gaza precisam de assistência de saúde mental. Segundo ele, descobrir quem eram as crianças não acompanhadas foi “extremamente difícil”, pois muitas das que eram levadas para um hospital estavam feridas ou em estado de choque, e “simplesmente nem conseguiam dizer os seus nomes”.
Contudo, estamos falando da Faixa de Gaza, um enclave de apenas 365 km², com uma população de 2,3 milhões de habitantes, sob o qual já foram despejadas mais de 65 toneladas de bombas. Assim, é frequente que os ferimentos nas crianças dificultem ou mesmo impeçam sua identificação. Somando isto ao fato de ela estar traumatizada e separada de sua família, sua identidade também acaba sendo roubada pelo Estado sionista.
Isto sem mencionar quando as crianças são mortas através dos bombardeios. Decerto que não é um trabalho fácil identificar uma pessoa que foi assassinada por uma bomba, quem dirá uma criança.
Nesse sentido, a rede de televisão Al Jazeera, do Catar, expôs um relato profundamente esclarecedor, mostrando como uma criança palestina pode ter sua identidade roubada pela ação genocida de “Israel”. A rede cita o caso de um menino chamado Ahmed Abu Zariaan, que permaneceu sem identificação por mais de uma semana.
Graças aos ataques dos sionistas, o menino sofreu ferimentos e queimaduras que desfiguraram seu rosto, o qual teve de ser enfaixado, dificultando que ele fosse identificado. Para agravar a situação, sua família havia sido assassinada por um ataque aéreo israelense “enquanto viajavam para sul ao longo da rua Salah al-Din, uma rota designada por Israel para uma passagem segura do norte de Gaza, no início de novembro”, segundo noticia a Al Jazeera.
Conforme relatos de Nour Lafi, enfermeira que ficou responsável por cuidar do garoto, o rosto dele “não estava visível e ninguém o reconheceu. Ele não tinha nome […] Ninguém da família dele estava lá. Eu podia ouvi-lo gemendo de dor. Tentamos falar com ele, mas ele não disse uma palavra”.
O menino só foi reconhecido 10 dias depois, por sua avó. Caso contrário, poderia ter permanecido até hoje sem identidade. Milhares de outras crianças não terão a mesma “sorte”, se é que essa situação pode ser chamada de sorte.
Diante dessa situação, muitos dos pais palestinos estão escrevendo os nomes das crianças em seus próprios corpos, para que elas possam ser identificadas, caso separadas da família, feridas ou mesmo mortas. Sobre isto, há o relato de Sara al-Khalidi, sobre ter sobrevivido a bombardeio sionista nas proximidades de sua casa, no bairro de Tal al-Hawa, em Gaza.
Segundo informações da Al Jazeera, reproduzindo relato da mulher palestina:
“[…] enquanto as bombas israelenses trovejavam e abalavam o mundo à sua volta, ela os seus quatro filhos agarraram-se uns aos outros no chão da sua sala de estar […] A família sobreviveu à noite e no dia seguinte seguiu para o sul, para Khan Younis, para ficar na casa de um parente, onde pensaram que estariam mais seguros. No entanto, Sara ficou chocada ao ver membros de sua família escrevendo os nomes de seus filhos em seus corpos […] Mas depois de ver um dos médicos do Hospital al-Shifa escrever os nomes das crianças nos seus corpos, Sara mudou de ideia.”
As crianças palestinas que não estão sendo identificadas são registradas como “desconhecidas” ou sob o acrônimo WCNSF, que, traduzido para o português, significa criança ferida, sem família sobrevivente.
Vê-se, então, que o genocídio de “Israel” contra os palestinos vai além da morte física, compreendendo também a extinção da identidade das crianças palestinas e, consequentemente, a memória do povo palestino, características fundamentais da limpeza étnica.