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Oriente Médio

As contradições que tornam o fim de ‘Israel’ inevitável

Citando "desafios existenciais maiores do que o Irã", jornalista do Haaretz e pesquisadores prevêem uma crise de grandes proporções que pode levar o Estado sionista ao colapso

Em matéria publicada no jornal israelense Haaretz, a colunista Meirav Arlosoroff questiona se “Israel completará cem anos”, respondendo que “não – não do jeito que Israel está indo”, elencando “ameaças existenciais maiores do que o Irã”. Intitulada “At This Rate, Israel Won’t Make It to Its 100th Birthday” (19/5/2024).

Para corroborar essa afirmação, a colunista cita “documento extraordinário que traça uma nova visão para Israel, elaborado pelo Prof. Eugene Kandel e outro especialista em administração governamental, Ron Tzur”. Segundo o relatório, existem “três desafios existenciais de Israel”, que não seriam crises localizadas, “mas a eminência de um colapso”, dizem, que envolve o campo econômico, um “choque de valores” que pode ser melhor traduzido como uma grande desagregação social e finalmente, a crise da autoridade política do sionismo sobre os israelenses batizada pela colunista como “apatia pública”.

Sobre a questão econômica, destaca-se “a existência de três grupos que são financiados às custas de outros. São eles os ultraortodoxos – os haredim -, a comunidade árabe e os colonos.” “Nenhum dos três”, diz Arlosoroff, “é capaz ou está disposto a financiar seu modo de vida”, diz a colunista, trazendo então detalhes mais concretos sobre o problema:

“De acordo com Kandel e Tzur, em 2018, o subsídio total do orçamento nacional para os haredim foi de 20 bilhões de shekels (US$ 5,4 bilhões) e para a comunidade árabe foi de 25 bilhões de shekels. (Os colonos não são caracterizados como um grupo no orçamento nacional.) Na verdade, devido às diferenças nos tamanhos das populações, os gastos para os ultraortodoxos são quase o dobro: Cada família haredi recebe 120.000 shekels por ano em financiamento ou subsídios, e cada família árabe, 65.000 shekels.”

Segundo a colunista, são famílias “não haredi” pagam 20 mil shekels por ano, mas diante do crescimento demográfico desproporcional da comunidade ortodoxa em relação aos demais grupos sociais do país artificial, o valor dos subsídios “deverá triplicar de tamanho até 2065”, diz Arlosoroff. Atualmente, os haredim compõem 12,9% da população de “Israel”, mas apresentam uma taxa de natalidade que supera 4% ao ano, razão pela qual se estima que representarão 16% dos israelenses até o fim da década.

Com a atualização aritmética, os 20 mil shekels atuais aumentarão para 60 mil shekels. “Acrescente a isso”, continua a colunista de Haaretz, “o aumento esperado no orçamento de defesa, e uma carga excessiva será imposta à principal população produtiva e pagadora de impostos de Israel.” Em síntese, os subsídios aos haredim aumentarão consideravelmente e paralelo a isso, os israelenses devem esperar aumentos de impostos, inevitáveis diante da pressão militar provocada pela resistência palestina e os demais países que se levantam contra o enclave imperialista no Oriente Médio. É a chamada “tempestade perfeita”.

Sobre o chamado “choque de valores”, Arlosoroff destaca que “o ex-presidente Reuven Rivlin criou o conceito de ‘as quatro tribos’”, acrescentando o acordo social costurado para sustentar socialmente “Israel”. A colunista, no entanto, destaca que “Kandel e Tzur discordam de Rivlin; eles dizem que há apenas três tribos e que não há chance de elas concordarem com um contrato social”.

Baseando-se no estudo dos supracitados Kandel e Tzur, a jornalista informa que são “três tribos principais: a primeira é formada pelo povo do estado judaico-democrático-liberal que deseja viver como uma democracia ocidental”, grupo que segundo os autores, agrupa “a grande maioria dos israelenses”. “Os membros da segunda tribo”, continua a Arlosoroff, “defendem um Estado da Torá”, grupo que abrigaria “os ultraortodoxos, a facção de direita da comunidade sionista religiosa (os hardalim) e a facção de direita dos judeus religiosos não haredi provavelmente escolheriam viver de acordo com as leis dessa tribo. Eles prefeririam as decisões dos rabinos aos valores e leis democráticos”.

Finalmente, a chamada “terceira tribo” se opõem à existência de um Estado judeu e consequentemente, ao sionismo. Esta “tribo” preferindo um Estado democrático e segundo “Kandel e Tzur”, “grande parte da comunidade árabe, apesar do nacionalismo árabe, prefere os valores da tribo democrática-liberal”.

A colunista destaca que a “batalha sobre a reforma judicial” empreendida por Netaniahu meses antes da crise do 7 de outubro “esquentou” as divisões entre as tribos que a jornalista diz, parafraseando Kandel e Tzur, “não podem mais ser superadas”. Os autores defendem que “as concepções de identidade e as visões dos dois principais grupos judeus se chocam e são até irreconciliáveis”. O acirramento provocado pela reforma judicial, segundo eles, foi responsável pelo nascimento de uma mentalidade de “nós ou eles”, um “conflito é total, com cada campo sentindo que o outro grupo está impondo seus valores à força.”

Arlosoroff reproduz trecho do documento analítico em que os autores destacam que “uma guerra pelo lar, pela identidade e pelos valores de cada um contra todos os outros, cria uma ameaça existencial ao país, porque essa guerra não pode ser interrompida sem uma mudança drástica nos sentimentos de todas as partes”, dizem. Esperançosos com a manutenção do Estado sionista, os três, a jornalista, Kandel e Tzur, defendem a importância de “um retorno da sensação de que não há perigo para os valores de nenhum dos grupos de identidade”.

A ofensiva da resistência palestina ocorrida no dia 7 de outubro pela libertação de presos políticos palestinos, destacam os autores, poderia ser um evento unificador, capaz de promover uma coesão social. Não foi, no entanto, o que ocorreu: “nossa análise não deu muita chance para um compromisso de valores opostos e, em nossa estimativa, menos ainda após o fim dos combates”, escreveram Kandel e Tzur.

Consequência da desagregação social, os autores preveem “uma emigração em massa” no país artificial, “como em uma corrida bancária”, destacam. “Em uma década ou duas, haverá uma corrida em Israel”, dizem, já traçando um panorama no qual “será mais fácil para os primeiros saírem sem prejuízos financeiros, enquanto aqueles que tentarem imigrar tardiamente sofrerão perdas quando a economia encolher, o valor de seus ativos diminuir e forem impostas restrições à transferência de dinheiro para o exterior”. Entre os membros da chamada “primeira tribo”, Arlosoroff destaca que estes “têm oportunidades de emprego atraentes no exterior, e algumas já consideraram opções de imigração”.

Por fim, a chamada de “apatia do público” com o “sonho sionista”. Arlosoroff destaca que para Kandel e Tzur, a terceira frente de crise “é a mais chocante ameaça existencial”, destacam, “maior do que o Irã”. “Semelhante ao destino de Jerusalém – abandonada pela comunidade secular-liberal, deixada como uma cidade pobre que precisa do dinheiro do Estado para sobreviver – Israel é suscetível a um abandono. Mas, no caso de Israel, não haverá uma entidade superior para distribuir os orçamentos”.

É uma forma elegante de declarar o quão farsesco é o Estado de “Israel”. Dependente do apoio do imperialismo para funcionar, sem isto, a única tendência é que o “país” desabe, tamanha sua artificialidade. Os autores defendem um programa de reformas políticas e econômicas, destinadas a resolver o problema da insolvência econômica do Estado e impedir a supremacia de uma “tribo” sobre outra, porém nada disso vai acontecer.

A crise do sionismo acompanha uma muito maior, a crise histórica do imperialismo, ambas com características terminais, resultado não de arranjos institucionais, mas da debilidade crescente das ditaduras que sustentam ambos, aliado ao desenvolvimento das forças progressistas, que as enfrentam. A força do Irã e da resistência são parte desse fenômeno. O apoio dos estudantes e trabalhadores norte-americanos e europeus também, assim como a “apatia” dos sionistas identificada.

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