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Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

Coluna

Adeus, 2023; os fantasmas e a promessa

Botafogo, Fluminense e Seleção Brasileira

O tema da coluna de hoje não será um, mas três. Os três acontecimentos mais importantes do futebol brasileiro nessa semana, na minha opinião. A vitória esmagadora do Botafogo na Segunda Rodada da Pré-Libertadores, a conquista da Recopa Sul-Americana pelo Fluminense e a primeira convocação de Dorival Júnior para a Seleção Brasileira.

Sobre o primeiro tema: viva, o Botafogo parece ter finalmente deixado 2023 para trás! Durante a partida contra o Aurora, no Estádio Nilton Santos, o Alvinegro fez uma atuação de gala e goleou o time boliviano, reascendendo a esperança do torcedor com o elenco. A torcida gloriosa fez uma festa gigantesca, mesmo sem ter lotado o estádio, levando cerca de 20 mil torcedores. Um mosaico sensacional e apoio integral e ressonante aos jogadores.

Júnior Santos fez quatro gols, chegando ao seu 5º na competição e igualando os artilheiros do Botafogo na competição: Jairzinho, Dirceu e Rodrigo Pimpão. A expectativa é que o Jacaré, nosso Anjo das Pernas Confusas, consiga se tornar o artilheiro isolado do Glorioso na competição. Para isso, precisará marcar em uma das duas partidas contra o Bragantino. Na pior das hipóteses…

Se o Glorioso se classificar para a fase de grupos, Santos terá, pelo menos, seis partidas para conquistar esse feito.

O fato é tipicamente botafoguense, um time que não atende aos requisitos da ciência e da razão. Afinal, o maior craque de sua história, seu Mané Garrincha, era um troncho que, até hoje, ninguém conseguiu explicar como se tornou jogador de futebol apesar da deficiência física — e o melhor ponteiro de todos os tempos.

Em um time qualificado como o do Botafogo, ninguém esperaria que Santos se tornasse artilheiro da Libertadores, artilheiro do time na temporada (até agora) e marcaria quatro gols em uma partida. Júnior é um jogador, de certa forma, folclórico. Muito forte e veloz, arrasta muitas vezes toda a zaga adversária atrás dele, fazendo fila. Mas, na hora da decisão final, muitas vezes toma a atitude mais estúpida possível. Como diria meu irmão, é uma “força da natureza”, como um furacão ou um tsunami, que avança sem saber muito para onde vai.

Protagonista de alguns golaços dignos de um craque de Seleção Brasileira, Santos também é famoso por se embolar nas suas próprias jogadas. O Anjo das Pernas Confusas pode mesmo tentar um drible e cair de bunda no chão, no lugar daquele que deveria ser driblado. Isso fez a torcida se questionar: é craque ou bagre?

Não importa! Santos está fazendo história com a camisa alvinegra e, apesar de suas limitações, tem sido um jogador fundamental do atual escrete.

Mas, apesar de seus quatro gols, o grande nome da goleada por 6 × 0 do Botafogo foi o craque Tiquinho Soares. O centro-avante joga uma barbaridade! A torcida estava de mal com ele, pela queda de rendimento no fim do ano passado e no início desse ano, mas Tiquinho se regenerou nessa partida.

Ouso dizer que foi a melhor atuação de um jogador de futebol desde o fim da Copa do Mundo. E não seria um exagero. Deu chapéu, passe de letra, de calcanhar, driblou horrores, fez o pivô com maestria etc. Que jogador inacreditável! Contra o Aurora fez uma daquelas atuações que fica até difícil descrever. Jogou com classe.

Para Tiquinho, não tem bola ruim. O goleiro Gatito ou a zaga dá uma rifada na bola, pra frente, de qualquer jeito e Tiquinho faz a pelota morrer, seja com os pés ou com o peito. É o caso de investigar se ele não está passando cola no uniforme e nas chuteiras. Sem falar que ele não perde a bola de jeito nenhum; se a situação se complica, pelo menos ele consegue uma falta a favor do Botafogo.

O melhor exemplo foi o gol que ele marcou contra o Aurora. Recebeu um cruzamento entre dois zagueiros do time adversário e, mesmo assim, matou no peito e chutou. A primeira tentativa foi salva por uma grande defesa do goleiro Akologo, que deu rebote para Tiquinho se consagrar. Depois, Tiquinho quase fez um golaço parecido, mas o chute saiu errado e passou raspando a trave adversária.

Não tem jeito de deixar esse verdadeiro craque fora da Seleção Brasileira. Desde quando chegou ao Brasil, Tiquinho tem sido o melhor atacante em solo brasileiro, e um dos melhores centro-avantes do mundo. Da mesma forma, concordo com Gerson “Canhotinha de Ouro”, um dos jogadores mais inteligentes da história, que defende a convocação do meia botafoguense Eduardo para a Seleção.

Eduardo reencontrou seu futebol e mostra que é um dos melhores armadores brasileiros na atualidade. Que seus dois golaços (um de bicicleta) contra o Vasco seja um estímulo para que Dorival o chame na sua próxima convocação.

Enfim, Botafogo fez uma partida digna do primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2023, quando o clube realizou a melhor campanha da história dos pontos corridos (para, depois, realizar uma das piores no segundo turno). O time ainda estava sofrendo com os fantasmas do passado, especialmente um, como eu tinha afirmado: o técnico Tiago Nunes. Bastou ele sair para o Botafogo, mesmo com um treinador interino, voltar a ganhar.

Agora, fez uma atuação de gala digna de um time que luta para conquistar a Libertadores. Mas, para isso, será necessário, primeiro, passar pelo Redbull Bragantino na Terceira Fase, um jogo que, apesar da fase ruim do time paulista, será extremamente difícil. Os jogadores do Botafogo precisam entrar sabendo que se trata de uma guerra e que suas reputações enquanto atletas (que perderam o título mais fácil dos pontos corridos) estão em jogo. Uma coisa eles precisam ter certeza, a torcida irá apoiar massivamente. Joguem por nós e honrem a camisa que estão vestindo, uma das mais pesadas do futebol mundial.

Dito isso, o próximo adversário do Botafogo no Campeonato Carioca é o Fluminense, que também acaba de expulsar um fantasma ao conquistar a Recopa Sul-Americana contra a LDU, o time equatoriano que fez o Tricolor passar mais de uma década com o apelido de “Virgem das Américas”. Em 2008 e 2009, os equatorianos fizeram o Flu perder, respectivamente, o título da Libertadores e da Sul-Americana. Agora, foi a vez da vingança, expulsando o trauma equatoriano do clube carioca.

Grande vitória, principalmente com a atuação do colombiano John Arias. Com a expulsão de seus fantasmas, o Clássico Vovô do próximo domingo promete ser um jogão. O Alvinegro precisa ganhar para se classificar para as semifinais do Carioca (além de torcer para o Vasco não ganhar da Portuguesa). O Flu, por sua vez, já está classificado, mas a vitória num clássico seria importante para moralizar ainda mais os jogadores.

Agora, depois de falar dos fantasmas do passado, falemos das promessas. O técnico Dorival Junior realizou, nessa sexta-feira (1º), a sua primeira convocação à frente da Seleção Brasileira. Na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, o novo técnico da Canarinho convocou os 26 jogadores que irão disputar os amistosos contra a Inglaterra no dia 23 de março, em Londres, e a Seleção Espanhola, dia 26, em Madri.

Dorival, quando foi anunciado técnico, prometeu que iria apostar mais em jogadores que jogam em solo nacional. No entanto, cumpriu apenas meia promessa. Houve um aumento, com sete atletas jogando no Brasil, entre os 26 convocados. Mas confesso que esperava mais do que isso. Sua decisão, no entanto, é compreensível visto que ele mesmo explicou que toda reformulação precisa passar uma fase de transição.

Vejamos a convocação completa (em negrito os jogadores que atuam no Brasil) e as posições:

  • Goleiros: Bento (Athletico-PR), Ederson (Manchester City) e Rafael (São Paulo)
  • Laterais: Danilo (Juventus), Yan Couto (Girona), Ayrton Lucas (Flamengo) e Wendell (Porto)
  • Zagueiros: Beraldo (PSG), Gabriel Magalhães (Arsenal), Marquinhos (PSG) e Murilo (Palmeiras)
  • Meio-campistas: André (Fluminense), Andreas Pereira (Fulham), Bruno Guimarães (Newcastle), Casemiro (Manchester United), Douglas Luiz (Aston Villa), Pablo Maia (São Paulo) e João Gomes (Wolverhampton), Lucas Paquetá (West Ham)
  • Atacantes: Endrick (Palmeiras), Gabriel Martinelli (Arsenal), Raphinha (Barcelona), Richarlison (Tottenham), Rodrygo (Real Madrid), Savinho (Girona) e Vinicius Júnior (Real Madrid)

Vemos, então, que Dorival apostou em arqueiros que disputam em solo nacional, mas Bento e Rafael provavelmente serão reservas de Ederson, o melhor goleiro do mundo. Acredito que, entre André, Murilo e Endrick, o único que tenha alguma chance de começar na titularidade seja o jogador do Palmerias, mas Dorival deve apostar, primeiro, em Richarlison, que vive grande fase no Tottenham.

Sobre a convocação em si, primeiro, achei interessante a convocação de Rafael, Beraldo e Pablo Maia, que foram campeões da Copa do Brasil com o São Paulo, sob comando de Dorival. Portanto, são jogadores de confiança do treinador. Achei positivo também que ele tenha escolhido a presidenta do Palmeiras, Leila Pereira, para chefiar a delegação brasileira na Europa, apesar de que eu teria escolhido um ex-jogador mais experiente, como o técnico Vanderlei Luxemburgo, por exemplo.

No meio-campo, achei negativo que, com exceção de André, foram chamados apenas jogadores do Campeonato Inglês (Premier League), deixando de lado Raphael Veiga, do Palmeiras, e Eduardo, do Botafogo. No ataque, poderia ter chamado Tiquinho Soares, do Botafogo, e Pedro, que vive grande fase no Flamengo e jogador com o qual Dorival foi campeão da Libertadores em 2022.

De qualquer forma, estamos no Brasil, e todos os jogadores convocados (e muitos que ficaram de fora) são excelentes, tornando muito difícil a vida de um treinador da Seleção Brasileira ter que escolher apenas 26 jogadores…

Mas, apenas para brincar, sem ninguém ter pedido minha opinião, colocarei abaixo qual seria minha convocação para a Seleção Brasileira:

  • Goleiro: Ederson (Manchester City), Bento (Athletico) e Lucas Perri (Lyon)
  • Laterais: sem alterações
  • Zagueiros: Marquinhos (PSG), Beraldo (PSG), Murillo (Nottingham Forest) e Murilo (Palmeiras)
  • Meio-campistas: Casemiro (Manchester United), Paquetá (West Ham), André (Fluminense), João Gomes (Wolverhampton), Raphael Veiga (Palmeiras), Eduardo (Botafogo) e Bruno Guimarães (Newcastle)
  • Atacantes: Endrick (Palmeiras), Vinicius Junior (Real Madrid), Savinho (Girona), Rodrygo (Real Madrid), Tiquinho Soares (Botafogo), Pedro (Flamengo), Martinelli (Arsenal) e Vitor Roque (Barcelona)

Explicando: no gol, colocaria Lucas Perri, atualmente no Lyon, que, para mim, é um dos melhores goleiros do mundo, no lugar de Rafael. Manteria os mesmos laterais; na direita, Danilo seria nosso líder em campo e Ian Couto tem feito grande temporada pelo Girona; na esquerda, Wendel tem jogado muito pelo Porto e Ayrton tem se mostrado um lateral muito ofensivo. Na zaga, Gabriel Magalhães, que falhou muito nos últimos jogos da Seleção, sairia para entrar Murillo, ex-Corinthians e atual Nottingham Forest, o jovem que tem sido o melhor zagueiro do Campeonato Inglês, mesmo jogando em um time de menor expressão. No meio-campo, sairia Andreas Pereira, Douglas Luiz e Pablo Maia para entrar Raphael Veiga e Eduardo, liberando vaga para a convocação de mais um atacante. No ataque, Richarlison (apesar de ótima fase no Tottenham) e Raphinha (que não está lá grande coisa no Barcelona) sairiam para entrar Tiquinho Soares, Pedro e Vitor Roque.

Assim, dos 26 convocados, dez estariam jogando em solo nacional, o que, na minha opinião, seria um avanço visto que, aqui na América do Sul, os jogadores estão mais acostumados a superar dificuldades, diante do grau maior de competitividade. Ainda, como não são mimados por jogarem na Europa, dariam o sangue para se manterem na Seleção.

Minha escalação titular, na formação 4-2-4, esquema tradicional do Brasil:

Ederson (1);

Danilo (2), Murillo (4), Marquinhos (3) e Wendel (6);

Casemiro (5) e Paquetá (8);

Rodrygo (11), Tiquinho Soares (10), Pedro (9) e Vinícius Júnior (7).

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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