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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

Coluna

A superexploração do trabalho no capitalismo contemporâneo

As crises agudas de superprodução são ainda mais nítidas na fase da globalização econômica e financeira do imperialismo

Superexploração do Trabalho

A superexploração do trabalho no capitalismo contemporâneo: tecnologia, financeirização e pandemia

O trabalho no modo de produção capitalista, além da exploração e da miséria que produz a maioria dos homens para a acumulação desenfreada de uma minoria privilegiada que vive da exploração alheia nesse sistema desumano. O modo de produção capitalista, em particular da Era Industrial elabora no centro e no seu entorno um desenraizamento da natureza do trabalho, invertendo o seu processo tal qual como se estabeleceu entre os homens na sua gênese originária dos povos e não do modo capitalista na produção de mercadorias.

Segundo Antunes (2005, p. 72):

“A atividade produtiva, dominada pela fragmentação e isolamento capitalista, na qual os homens são atomizados, não realiza adequadamente a função de mediação entre o homem e a natureza, reificando e coisificando o homem e suas relações. Em lugar da consciência de ser social livre e emancipado, tem-se o culto da privacidade, a idealização do indivíduo tomado abstratamente. Operou-se, portanto, uma metamorfose básica no universo do trabalho como atividade vital, um momento de identidade entre o indivíduo e o seu genérico, tem-se uma forma de objetivação do trabalho em que as relações sociais estabelecidas entre os produtores assumem, conforme disse Marx, a forma de relação entre os produtos do trabalho. A relação social estabelecida entre os seres sociais adquire a forma de uma relação entre coisas”.

A crítica da economia política vai além de uma análise macroeconômica, mesmo que crítica dos pressupostos neoliberais, já que não se trata da questão que envolve a administração da política econômica de um país e a regulação do capitalismo indomável na sua gênese. Não se trata obstante de gerenciar as crises cíclicas do capitalismo como observamos historicamente, nem tampouco partir do pressuposto que a classe dominante nacional irá abrir mão do seu projeto de acumulação em parceria com o imperialismo. Mesmo porque acompanhamos o desenvolvimento dos aspectos do imperialismo que influenciam as nações periféricas, pressionando as políticas internas e externas das economias dependentes para que hajam em consonância com os interesses das nações dominantes.

Entrementes, esse sistema desigual entre as nações e as disputas internas pelas fatias do poder também poderão acarretar desvios na condução das políticas da classe dominante de acordo com os diversos interesses das frações de classe da burguesia e da correlação de forças estabelecida no interior de cada sociedade e também daqueles que escapam do controle das próprias nações no que diz respeito ao tamanho dos movimentos sociais adjacentes nas fronteiras desses países e o quanto essas nações se apresentam submissas aos ditames globais. Existem diversas forças e contextos complexos que combinados conduzem a formas de exploração distintas no capitalismo dependente. Na atualidade, além do avanço da degeneração do trabalho em níveis globais, dois aspectos são cruciais nesse momento da crise estrutural do capitalismo.

O primeiro deles diz respeito a construção do próprio capitalismo enquanto uma máquina complexa de produção, distribuição, consumo no processo de acumulação e reprodução ampliada de capital; e isso continua a se expandir devido ao avanço tecnológico. O outro aspecto refere-se ao outro braço do imperialismo como forma de transferência de renda, controle e distribuição (drenagem) dos orçamentos públicos e o próprio enriquecimento da classe dominante mundial através do que convencionamos chamar de financeirização do capital, ao qual, categoricamente por Marx devemos denominar de capital fictício e capital portador de juros como autênticas categorias analíticas desse tipo de acumulação e reprodução ampliada do capital.

Segundo Harvey (2018, p. 111):

“A questão da tecnologia é fundamental para compreender as dinâmicas do capital em movimento. Marx é um dos comentadores mais incisivos e prescientes do assunto. Isso não significa que suas análises sejam completas ou que possam passar incontestes. A tecnologia em combinação com a ciência aparece como uma preocupação central ao longo do Livro I d’O Capital, mas é assumida como constante no Livro II. No Livro III, Marx trata de algumas das consequências da transformação tecnológica para o lucro e a renda e faz comentários ocasionais a respeito de certas características tecnológicas e organizacionais da intermediação financeira e da circulação monetária. Seu foco em O Capital é o papel da tecnologia e da ciência em relação à valorização do capital e à produção de mercadorias. Nos Grundisse, ele adota uma postura mais expansiva e fornece comentários, e às vezes especulativos e prescientes, acerca de questões tecnológicas”.

A abordagem de Harvey corrobora com a nossa abordagem segundo a qual Marx nas suas teses críticas sobre a economia política, em particular no livro O Capital já no primeiro deles, adotava em suas análises mais minuciosas o papel da tecnologia no processo de acumulação e reprodução do capital.  No livro III de Marx, editado por Engels já no final da sua vida, a obra irá esmiuçar as questões que dizem respeito ao capital fictício e ao capital portador de juros, já que Marx não adotava a expressão “capital financeiro”. Marx já escrevia sobre as bolsas de valores e sobre o papel dos bancos, antes mesmo do Livro O Capital e reconhecia a forte presença desses capitalistas na Europa de meados do século XIX.

As inovações tecnológicas trazidas pela revolução da microeletrônica na década de 1970 impulsionaram não apenas a produtividade na indústria como também em todos os ramos de atividades dos negócios, inclusive o capital financeiro, que a partir desse momento utiliza-se dessas tecnologias para remeter divisas, negociar ações, comprar títulos públicos e privados em todo o planeta. As liberalizações e desregulamentações do mercado financeiro tornaram-se cada vez mais velozes e dinâmicas colocando também as economias periféricas no centro das mais modernas tecnologias na área financeira a despeito do aumento da pobreza e da desigualdade mundiais entre as nações e internamente a elas, mesmo em países reconhecidamente ricos como os EUA.

A pandemia SARS COV 2 do Covid 19 escancarou as portas do tamanho da crise estrutural do capitalismo e da própria civilização. As pandemias já há muito insistem em alertar a humanidade a respeito dos riscos de um colapso sanitário catastrófico na ordem global, mas a indústria químico farmacêutica de conjunto adota um discurso de monitoramento sob controle a despeito da sua ausência de interesses, até então, de tomar as precauções devidas no que tange as pesquisas científicas em parceria com as autoridades nacionais e supranacionais nesse campo sanitário. Para os keynesianos mais entusiasmados, a presença do Estado na vida econômica e social é crucial para manter o capitalismo funcionando e também organizar as bases das políticas públicas necessárias ao público. Mas, como a lógica capitalista não obedecem a certos controles e ordenamentos impostos pelo Estado sob controle da sociedade civil, mesmo porque o Estado está a serviço da classe dominante como na passagem de Marx e Engels (2002, p. 101) “Como o Estado é a forma em que os indivíduos de uma classe dominante fazem

valer os seus interesses comuns e se condensa toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns que  são  medidas pelo Estado, adquirem uma forma política”.

O Estado na fase imperialista do capitalismo monopolista tem por função proteger e privilegiar os interesses dos grupos dominantes, no caso, os potentados detentores do capital como afirmava Marx, com seu prestígio e status social e ethos de classe como distinção social não apenas pela via do capital econômico, mas também pelo capital cultural, acadêmico, profissional, político entre tantos como afirma Bourdieu (2008, p. 241):

“Se é verdade que, conforme tentamos comprovar, a classe dominante constitui um espaço relativamente autônomo, cuja estrutura é definida pela distribuição, entre seus membros, das diferentes espécies de capital, de modo que cada fração é caracterizada propriamente falando por certa configuração dessa distribuição à qual corresponde, por intermédio dos habitus, certo estilo de vida;”.

Essa passagem revela que a classe dominante é dotada de uma série diversificada de “capitais” no seio da burguesia e por isso controlam e permanecem dominando através das instituições e suas ideologias nas formas da cultura, do conhecimento e saberes distintos, das articulações que compõem o capital político e a evidente concentração de poder econômico. Assim como as grandes corporações transnacionais são controlados por grupos privados e detém um braço de apoio estatal é por certo afirmar como pressuposto de largada que os organismos sanitários, farmacêuticos, financeiros, entre outros, têm tentáculos bastante aproximados entre o que é de interesse público e as formas particulares de interesses variados e específicos. No caso das crises sanitárias até então parece previamente claro que historicamente a vigilância e o controle sempre foram monitorados de perto pelos interesses de buscar sanar ou não as crises que se avizinhassem, pelo menos de meados do século XX em diante.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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