Recentemente, tomou as redes um vídeo procurando demonstrar que o Hino Nacional brasileiro seria um plágio de um trecho de uma Ária da ópera Don Sanche, de Franz Liszt. Os vídeos demonstram trechos das duas peças que seriam relativamente parecidos e já colocam: “hino nacional brasileiro é um plágio”.
Ambas as peças são contemporâneas, tendo a ópera de Liszt sido lançada em 1825 e a música do Hino sido composta em 1822 ou 1831 (há alguma controvérsia sobre as datas). Ainda que se admita que possa ter sido em 1831, há o fato de que a ópera de Liszt é de sua infância (estreou quando o compositor tinha apenas 14 anos), e foi um fracasso total, tendo apenas quatro apresentações em sua história e nenhuma delas foi no Brasil. A partitura da ópera não foi publicada na época, tendo saído para o público apenas no começo do século XX. Fica claro que não pode ter sido plágio de forma alguma, além de a semelhança sutil entre as peças não ser motivo o suficiente para tal ideia.
O que chama mais atenção nesse debate a respeito do Hino Nacional ser um plágio ou não, não são os fatos e argumentos em si, mas a posição de algumas pessoas, que, embora brasileiras, claramente consideram não ser possível surgir nada de qualidade no país em que elas nasceram. O caso do Hino Nacional é sintomático. Muitos consideram esse é o Hino Nacional mais bonito de todo o planeta, mas uma parcela da população, influenciada por toda a avacalhação promovida pelo imperialismo contra nossa cultura, quer encontrar uma forma de desmerecer a obra.
Os vídeos que apresentaram a tese do plágio do Hino Nacional foram muitos e, em suas caixas de comentários, era possível ver o efeito da campanha: “já achei esse hino o mais bonito do mundo, mas agora estou decepcionado” e outros comentários do tipo. A campanha de que somos inferiores é intensa e tem origem no próprio imperialismo.
É preciso, no entanto, deixar claro: no caso do Hino Nacional se provou que não há plágio nenhum. No entanto, há de se lembrar que a música feita no Brasil é uma das mais copiadas do planeta. Um caso mais recente foi o da super-impulsionada cantora Taylor Swift, que teria roubado uma canção da banda que fez sucesso mundial no começo dos anos 2000, Cansei de Ser Sexy. Outro, que se tornou exemplar, é o plágio reconhecido, inclusive, pela Justiça, de Taj Mahal, de Jorge Bem, por Rod Stewart, em sua música quase idêntica, D’ya think I’m sexy?. O riff de Smoke on the water, do Deep Purple, é muito semelhante à introdução de Maria Moita, de Carlos Lyra.
No entanto, os vira-latas de plantão não se sentem escandalizados com esses casos. Para a maior parte deles, o problema seria o plágio imaginário do Hino Nacional. Isso demonstra o quão corrosiva é a ação do imperialismo na consciência coletiva dos brasileiros. O fenômeno do viralatismo também se manifesta no cancelamento de grandes figuras da nossa cultura, como Monteiro Lobato, ou na falta de defesa de Santos Dumont, o inventor do avião.
A cultura brasileira é muito vasta e repleta de obras e de pessoas de grande capacidade. Nesse momento, defendê-la é uma das principais formas que os artistas brasileiros têm de lutar contra o imperialismo.