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Conflito 'Israel'-Palestina

A luta contra a escravidão também era uma luta de ‘fanáticos’?

Articulista da Folha de S. Paulo, como um lacaio do imperialismo, ignora o caráter de classe do conflito

No artigo A fúria que o conflito israelense-palestino desperta, de João Pereira Coutinho, publicado pela Folha de S.Paulo, somos apresentados à tese de que o conflito entre palestinos e israelenses estaria permeado de “fanatismos” e que estes seriam resultado da ignorância dos envolvidos. Que a ignorância leva ao fanatismo, não há novidade: o que merece destaque é que o próprio autor, ao se revelar um ignorante, se mostra também um fanático defensor do Estado de “Israel”.

Coutinho inicia seu texto apresentando uma pesquisa que diz que 47% dos estudantes universitários entrevistados não saberiam o significado da expressão “Palestina livre, do rio ao mar”. Ele então conclui: “não estou espantado. A fúria que o conflito israelense-palestino desperta é inversamente proporcional ao conhecimento sobre o tema. Direi mais: quanto menos se sabe, mais fanático se é — e isso vale para os dois lados”. Segundo ele, ideias como a de que o Estado de “Israel” deveria ser extinto seriam “radicais” e só seriam repetidas por pessoas tão ignorantes que sequer sabem o que estão falando.

Trata-se, obviamente, de uma mentira. O historiador israelense Ilan Pappé, que é, provavelmente, a maior autoridade historiográfica sobre a questão palestina, defende o fim de “Israel”. O Partido da Causa Operária (PCO), que, no período de cinco meses, já realizou um curso de formação, publicou mais de dois mil artigos em seus órgãos de imprensa e imprimiu mais de meio milhão de panfletos e cartazes, constituindo-se, portanto, na organização brasileira que mais estuda a questão palestina, também defende o fim de “Israel”.

Defender a “Palestina livre, do rio ao mar”, portanto, nada tem a ver com ignorância. É apenas uma formulação mais amena para uma política tradicional do movimento operário internacional: isto é, a defesa do fim de uma ocupação de tipo colonial sobre o território palestino. Se é verdade que há pessoas que repetem a frase sem saber seu significado, em nada muda o fato de que o fim de “Israel” é uma necessidade histórica do povo que vive na região.

A ideia de Coutinho de que o conflito entre israelenses e palestinos deveria ser visto sem “fanatismos” é, em si, um fanatismo; é a crença de que os eventos históricos acontecem sem influência da luta de classes, muito menos, da ação do imperialismo. Por ser um adorador fanático do imperialismo, é incapaz de enxergá-lo, mesmo quando promove as piores monstruosidades. Diz ele:

“Na vasta bibliografia sobre a tragédia, há um livro de Ian Black que tem se destacado nos últimos anos […] Onde outros veem apenas imperialistas ou terroristas, consoante o gosto, Black vai revelando seres humanos de carne e osso que a história contemporânea foi empurrando para a Palestina otomana: judeus que fogem dos pogroms russos; trabalhadores palestinos que se sentem ameaçados, e depois economicamente excluídos, pela imigração judaica. Mas também nacionalistas judeus contra nacionalistas árabes, ambos brutais e irreconciliáveis, disputando a totalidade do território entre o famoso rio e o famoso mar.”

Podemos, então, assim resumir o que pensa Coutinho: como, nos últimos 100 anos, houve tanto judeus quanto palestinos que sofreram e houve tanto judeus quanto palestinos que mataram uns aos outros, defender qualquer um dos lados seria fanatismo. Trata-se, obviamente, de um raciocínio de um perfeito idiota: deste modo, bastaria comprovar que um único escravo tivesse matado um senhor de engenho, que a escravidão no Brasil estaria justificada e deveria ser mantida pela eternidade.

A colocação de Coutinho é, acima de tudo, maliciosa. O sofrimento dos judeus na Europa nada tem a ver com a constituição de “Israel”: nem um único fundador da entidade sionista foi perseguido por qualquer regime europeu. E mais: os sionistas que compunham milícias como a Betar eram tão mal vistos pelos próprios judeus que parte deles foi fuzilada pela resistência de judeus contra o nazismo. Ainda que houvesse alguma relação entre a perseguição aos judeus e a fundação de “Israel”, seria absurdo utilizar a perseguição do passado como pretexto para fundar um Estado supremacista que promove um verdadeiro genocídio contra todo um povo.

Comprar o nacionalismo árabe com o “nacionalismo judeu” é também uma comparação de má-fé. Enquanto o primeiro surgia da luta de um povo para se defender de invasores, como os sionistas e os britânicos, tendo inclusive desembocado em uma revolução, o segundo se constituiu em uma força política fascista que varreu mais de 800 mil palestinos de seu território em um único ano.

Coutinho só consegue elaborar esse tipo de raciocínio porque acredita que sionistas e palestinos são iguais, do ponto de vista da luta de classes. Ignora por completo que os primeiros são um braço dos maiores opressores da humanidade, que é o imperialismo, e que os últimos são um povo profundamente oprimido. Que os primeiros representam a luta pela dominação de todos os povos para submetê-los a uma ditadura mundial dos bancos e os últimos expressam a luta de um povo por sua liberdade.

Ao excluir o imperialismo de sua análise, Coutinho exclui o fundamental, reduzindo o mundo a uma disputa sem sentido entre povos “fanáticos”. Sendo que fanático é o autor, que, mesmo diante de um genocídio que vitimou 30 mil pessoas em cinco meses, é incapaz de reconhecer o fenômeno da luta de classes.

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