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Portugal

‘Contracolonização’, mais uma face da verdadeira colonização

Articulista da Folha de S.Paulo elogia demagogia do governo português e ignora o seu apoio aos maiores crimes de nossos tempos

No dia 23 de abril, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu, pela primeira vez na história, a responsabilidade por supostos crimes cometidos durante o período em que o Brasil era sua colônia. Disse ele:

“Temos que pagar os custos [pela escravidão]. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso.”

A declaração logo ganhou a simpatia dos identitários brasileiros, que defendem que o País em que vivem seria resultado de uma espécie de “pecado original”, de tal modo que seria preciso fazer “tábula rasa” da história nacional. Pouco mais de uma semana depois, a Folha de S.Paulo, um dos jornais mais identitários do País, publicou mais um artigo simpático ao presidente português.

Assinado por um tal José Manuel Diogo, diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira e fundador da Associação Portugal Brasil 200 anos, e intitulado Nenhum Pix resolve a escravidão; apenas tornaria a ferida mais insuportável, o artigo vê com bons olhos a admissão de culpa e propõe um debate sobre como Portugal poderia “reparar” os seus “crimes” cometidos.

Para desenvolver a sua tese, Diogo parte do óbvio: que, na verdade, é impossível haver uma reparação de fato. Já passaram, literalmente, séculos, todos os envolvidos já morreram e as riquezas roubadas também já não estão nas mãos do Estado português. Sendo assim, a única conclusão que se poderia chegar é a de que qualquer conversa sobre “reparação histórica” é pura conversa fiada. É algo inviável e que, portanto, só serve para a demagogia, para a politicagem. Pode ser muito bom para arrancar elogios da imprensa brasileira ou de ministros como Anielle Franco, que são financiados pelo Departamento de Estado norte-americano. No entanto, não serve de nada para a população.

Mas Diogo, como é, ele próprio, um identitário, não consegue pôr um ponto final na história. É preciso também fazer um pouquinho de demagogia pró-imperialista, mas à sua maneira. Por isso, ao contrário da ministra da Igualdade Racial, que saiu cobrando a tal reparação do governo português, Diogo sacou do bolso uma tese absurda que chamou de “contracolonização”. Diz ele:

“Neste contexto, a ideia que sempre defendo de ‘contracolonização’, um termo que evoca a migração reversa de brasileiros e africanos para a Europa, traz consigo uma proposta revolucionária. Portugal, com seu legado único de interações multiculturais, posiciona-se como um laboratório ideal para este experimento social. Aqui, o futuro pode ser (em alguns casos já está sendo) desenhado não com a tinta das compensações financeiras, mas com as cores vibrantes de uma sociedade verdadeiramente multicultural.”

O raciocínio é o seguinte: uma vez que Portugal teria praticado atrocidades contra diversos povos e como nenhum dinheiro no mundo ressuscitará aqueles que foram vítimas do colonialismo lusitano, então, agora, restaria a Portugal convidar os povos de todo o mundo para viverem harmoniosamente em seu território. Isto é, já que Portugal oprimiu o angolano em tempos passados, agora o angolano deveria ser tratado como um cidadão de plenos direitos no país europeu.

É óbvio que qualquer imigrante deveria ser tratado como um cidadão português caso fosse para Portugal. Mas esse não é o debate. A questão é que o que o autor defende, da forma como defende, também é algo impossível. Diz ele:

“Portugal, com sua histórica capacidade de integração e sua posição estratégica entre continentes, tem uma oportunidade única de liderar este movimento. Mais do que qualquer pagamento, a contribuição de Portugal para o mundo poderia ser este novo modelo de convivência global, uma verdadeira reparação para as gerações futuras que olharão para trás não para calcular o valor das compensações, mas para admirar a coragem de reimaginar e reconstruir as relações humanas. Este é o legado que podemos e devemos aspirar a deixar.”

Segundo Diogo, bastaria Portugal tomar meia dúzia de decisões e todos os problemas para a população imigrante estariam resolvidos. Afinal, seria apenas um problema de “modelo”. Como se, no passado, o suposto massacre de índios realizado por Portugal teria acontecido porque alguém decidiu implementar o “modelo errado”. E como se, no presente, bastasse uma ideia “genial” para que todos vivam harmoniosamente.

O problema dessa teoria é que ignora por completo a luta de classes. Ignora, portanto, que os problemas enfrentados pelos imigrantes têm uma raiz material. Os imigrantes são tratados como animais pelos europeus não por um problema de “modelo”, mas por um problema econômico. Na medida em que o capitalismo se tornou um modo de produção muito parasitário, os países mais atrasados não se desenvolvem, o que acaba levando à emigração em massa, enquanto todo um setor social dos países imperialistas se negam a trabalhar em determinadas funções. O imigrante é, no final das contas, o escravo moderno dos países imperialistas, aquele ser desprovido de qualquer direito, superexplorado, para que a população de um outro país tenha privilégios sociais.

Sem uma luta que tenha o imperialismo como inimigo, não é possível qualquer “reparação” à população imigrante. E é justamente por isso que a ideia de que uma ou outra ação demagoga do presidente português possa ser uma reparação “revolucionária” faz com que o autor não passe de um defensor da ordem vigente. Isto é, da ditadura mundial do imperialismo.

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