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Teoria marxista

O verdadeiro marxismo é a defesa da ditadura do proletariado

Articulista, ao tentar homenagear a classe operária, se atrapalha e ignora as principais lições deixadas por Karl Marx

No artigo A classe trabalhadora e a consciência de classe, publicado no Brasil 247, o jurista Arnóbio Rocha, em uma aparente tentativa de homenagear a classe operária no Dia Internacional da Luta dos Trabalhadores, procurou defender a atualidade do pensamento do pai do materialismo dialético, Karl Heinrich Marx. No entanto, ao tentar fazê-lo, o jurista acaba mostrando que não conseguiu compreender o bê-a-bá do marxismo. Diz ele:

“Compreender a realidade da distopia e unir os cérebros que (ainda) pensam autonomamente e não estão dispostos a serem vencidos por algoritmos ou inteligência artificial, é o maior desafio da humanidade, tendo como escopo a defesa da vida e das condições elementares da vida do planeta, seriamente ameaçado pela destruição do meio ambiente. O quadro pode ser apocalíptico, mas não é de derrota, é de urgência e de que as reflexões saiam para além da disputa inglória do Parlamento, do Executivo ou do Judiciário. Como também do espaço geográfico local, pois é uma realidade de contrarrevolução mundial de longo prazo, ou enquanto durar a crítica situação ambiental, o que pode ser tarde.”

Ao falar em “inteligência artificial”, Arnóbio Rocha está, na verdade, fazendo referência a algo que falou em outro trecho. Segundo ele, “a superestrutura ideológica, hoje é manejada pelos algoritmos, como no passado outras ferramentas mais modestas aprisionavam e iludiam os de baixo, a classe trabalhadora, o proletariado“. A inteligência artificial seria, portanto, para Rocha, parte da superestrutura.

Não é bem assim. Vejamos como Marx define a superestrutura, a partir de uma citação do texto Para a Crítica da Economia Política, escrito em 1859:

“O resultado geral a que cheguei e que serviu de fio condutor aos meus estudos pode ser formulado assim sucintamente: na produção social da sua vida, os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas da consciência social.”

Levando isso em consideração, a inteligência artificial em si é apenas uma tecnologia, ou seja, faz parte das forças produtivas. Já a superestrutura seria a forma como as relações materiais se expressam no âmbito da Internet. A existência da inteligência artificial em si não é um fenômeno da superestrutura, mas sim da tecnologia desenvolvida pelo homem. O fato de que uma ferramenta como o ChatGPT, por exemplo, se negue a traduzir um texto que fale positivamente do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) é um fenômeno da superestrutura.

A confusão que Rocha faz entre forças produtivas e superestrutura acaba sendo decisiva para que ele caia em outra confusão. Como ele entende que a inteligência artificial em si seriam um desafio para a humanidade, e não que o problema seria a apropriação destes pela classe dominante, o jurista acaba declarando guerra não aos capitalistas, mas à inteligência artificial em si! De tal modo que resume a tarefa fundamental da humanidade a uma luta contra “algoritmos” e “inteligência artificial”. Ou seja, os trabalhadores deveriam ser contra o desenvolvimento das forças produtivas, quando, na verdade, é esse desenvolvimento que levará inevitavelmente a sua libertação.

Desse ponto, decorre outro equívoco. Segundo ele, a luta prioritária no momento seria a luta dos que “não estão dispostos a serem vencidos por algoritmos ou inteligência artificial“. Ou seja, o motor para a luta social seria, no final das contas, a vontade individual, e não as condições materiais. Ao proceder de tal modo, Arnóbio Rocha entra em choque com o que Marx diz na continuidade do texto supracitado:

“O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência.”

Não é à toa que Arnóbio Rocha futuramente irá falar em um cenário apocalíptico. Se a sua preocupação é que o destino da humanidade esteja nas mãos de um “despertar” contra a dominação da “inteligência artificial”, então, de fato, a situação é desesperadora. Afinal, a tendência é que a inteligência artificial, como uma tecnologia, se desenvolva cada vez mais. No final das contas, seguindo o raciocínio do jurista, o futuro da humanidade estaria na sorte de termos muitos ou poucos homens com “vontade” de enfrentar os algoritmos ou não.

Não há nada de marxismo nisso. O marxismo, outrora definido por Friedrich Engels, em sua obra Princípios Básicos do Comunismo, como “doutrina das condições de libertação da classe operária”, nunca considerou que as condições para a libertação da classe operária fosse a vontade individual. Sempre considerou que fosse a luta de classes. Sobre isso, Karl Marx já falou que:

“No que me diz respeito, não me cabe o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna, nem a sua luta entre si. Muito antes de mim, historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento histórico desta luta das classes, e economistas burgueses a anatomia econômica das mesmas. O que de novo eu fiz, foi: demonstrar que a existência das classes está apenas ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma sociedade sem classes.”

Nada do que Arnóbio Rocha diz tem a ver com a ditadura do proletariado. A ditadura do proletariado não é a defesa da vida ou do meio ambiente. Nem é a defesa da união de mentes dispostas a “sair da Matrix”, como dá a entender. A superação do capitalismo só é possível por meio da luta da classe operária por seu programa – programa esse que, essencialmente, é a derrubada de toda a ordem vigente.

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