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Coluna

A hora da unidade contra o Grande Satã

Em debate no Recife, o imperialismo foi exposto como o maior inimigo da humanidade

Não há nada no mundo, nenhum episódio, nenhuma ocorrência, que envolva tanto a luta contra o imperialismo como a questão palestina“. Assim nos disse Eduardo Santana, coordenador do Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq, ao iniciar sua fala durante o debate “A questão palestina”, organizado pelo Comitê de Solidariedade Palestina-Pernambuco. A atividade, que ocorreu no Espaço Marielle Franco, em Recife, contou ainda com a participação de André Frej, filho de pais palestinos e integrante da Aliança Palestina-Pernambuco, e Gabriel Augusto, do grupo Rebelião Ecossocialista, que integra o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Os próprios fatos comprovam a declaração de Santana. No momento em que essa coluna era escrita, mais de 900 estudantes já haviam sido presos em universidades norte-americanas por protestar contra o genocídio na Faixa de Gaza. Enquanto ocorria o debate no Recife, o Partido da Causa Operária (PCO) sofria mais um ataque brutal à sua liberdade de expressão: seus três principais canais parceiros, que possuem mais de 120 mil membros, foram desmonetizados e tiveram dezenas de vídeos excluídos por causa da defesa que o Partido faz da resistência palestina. O ataque, por sua vez, foi coordenado pelos mesmos que prenderam os jovens norte-americanos: os Estados Unidos da América. Ou, como outrora chamou Ruhollah Khomeini, o “Grande Satã”.

O aumento exponencial na censura e na repressão, por sua vez, surge da necessidade do Grande Satã de impedir que a revolta contra a sua dominação se generalize. Os Estados Unidos sustentam, até hoje, o Estado nazista de “Israel”, cujo governo está disposto a causar uma carnificina em Rafá a qualquer momento.

No debate, a ideia de que o imperialismo é o responsável pelas maiores atrocidades da história humana esteve presente o tempo inteiro. Do ponto de vista histórico, André Frej narrou detalhadamente o processo de limpeza étnica da Palestina, conforme descrito pelo historiador israelense Ilan Pappé em livro homônimo. Ao citar eventos como a carta de Arthur Balfour ao Barão de Rothschild e a repressão à Revolução Palestina de 1936, deixou claro que jamais existiria “Israel” se não fosse a participação do imperialismo.

Gabriel Augusto, por seu turno, destacou também o caráter colonial do sionismo, na medida em que controla as riquezas naturais de um outro povo e lhe nega o direito a formar um Estado próprio. Ele também frisou que “há muitos intelectuais, no mundo e no Brasil, reivindicando para si mesmos uma ‘abordagem decolonial’, mas que é uma ‘abordagem decolonial’ farsesca, porque você fala na ‘decolonização do olhar’, ‘do saber’, mas não tem nenhum posicionamento sobre a questão palestina”. Embora não quisesse citar nomes “para não ser indelicado”, Augusto ainda criticou os “intelectuais antirracistas de primeira linha, que aparecem muito na televisão”, mas que, quando perguntados sobre o genocídio do povo palestino, ficam em silêncio. O palestrante, por fim, explicou que o problema era o financiamento desses “intelectuais”, uma vez que “muitas pesquisas que têm essa ‘abordagem decolonial’ são pesquisas financiadas por agências internacionais, de tal modo que falar sobre a questão palestina é perder financiamento, é perder engajamento”.

Um dos institutos de pesquisa conhecidos por financiar estudos “antirracistas” e “decoloniais” no Brasil é a Open Society Foundations, do sionista George Soros. Também merece destaque o fato de que essas mesmas fundações financiam think tanks mundo afora para disseminar mentiras sobre países como o Irã. Recentemente, uma intensa campanha de mentiras contra o país persa foi disseminada por organizações vinculadas a tais institutos.

Os motivos pelos quais há tanto interesse do imperialismo em desestabilizar o regime iraniano também foi assunto do debate. Em sua exposição, Santana explicou que “as independências dos países muçulmanos foram falácias”, de modo que “os regimes que foram montados são regimes alinhados, ou controlados, ou manipulados, ou efetivamente orientados pelo domínio imperial“. Menos um: “a República Islâmica do Irã, que se desvincula efetivamente das garras do imperialismo através de uma revolução islâmica e transforma em uma barreira contra o imperialismo na Ásia“.

Se antes havia alguma dúvida sobre a importância do Irã na luta contra o imperialismo no Oriente Próximo, essa dúvida se dissipou após 7 de outubro de 2023. A República Islâmica é notoriamente o grande arquiteto do Eixo da Resistência, auxiliando Hamas, Jiade Islâmica, Hesbolá, Ansar Alá e milícias sírias e iraquianas no combate ao sionismo. Enquanto os países árabes assistem de braços cruzados o massacre na Faixa de Gaza, o Irã é o grande apoiador da resistência. Não bastasse tudo isso, no dia 13 de abril, ao lançar centenas de VANTs e mísseis contra Telavive, o Irã liquidou os 75 anos de hegemonia militar do sionismo na região.

O caso do Irã permite que, hoje, se faça uma discussão mais profunda sobre o Islã e o seu papel na luta contra o imperialismo. Segundo Santana, “a Arábia Saudita não significa nada para os muçulmanos”, pois “os muçulmanos que estão envolvidos na luta contra o imperialismo precisam ocupar a Arábia Saudita também”. Isto é, para o Islã, a luta contra o imperialismo seria uma questão de princípios.

Ao terminar seu discurso, Eduardo Santana declarou que “nós, muçulmanos, estamos afeitos a todas as forças, independentemente de sua propriedade ideológica, independentemente de como elas se manifestam nas esquerdas, para nos unir contra o imperialismo. E a hora é essa. Por quê? Porque desde o começo, o profeta disse: ‘onde houver um oprimido, o defenda. Onde houver um injustiçado, o defenda. Onde houver um pobre, lute para que a pobreza acabe’. Não vejo algo mais socialista, mais humano, mas espiritual que isso. Então vamos continuar lutando, vamos lutar juntos“.

Apesar do papel que o Irã cumpre na luta contra o imperialismo e da própria doutrina muçulmana estar em total contradição com a dominação imperialista, a unidade na luta não tem ocorrido no interior da esquerda. Diante da pressão do sionismo, nenhum partido político, à exceção do PCO, saiu em defesa explícita do Hamas e das forças de resistência da Palestina. Várias organizações até hoje, inclusive, repetem mentiras propagadas pelo sionismo, caluniando os combatentes palestinos.

Essa, contudo, não era a posição dos debatedores. “Para nós, não há nada estranho, nada inquietante, que o Hamas tenha utilizado as forças que estavam à disposição daquele momento“, declarou Santana. “E posso dizer que os muçulmanos têm bastante experiência nisso, de enfrentar o imperialismo diretamente com as armas que foram possíveis, que estavam à disposição e que muitas vezes elas foram demonizadas, mas eram as melhores armas“, completou. O coordenador do Centro Cultural Islâmico Imam Sadeq ainda rebateu algumas das calúnias contra o Hamas e o Irã, destacando que “a liberdade de culto, a liberdade de autodeterminação cultural todos os povos é um princípio islâmico“. Ele também lembrou que, quando o Hamas partiu para o 7 de outubro, seus combatentes fizeram um voto de martírio. “Ao fazer um voto de martírio“, explicou, “o muçulmano se desvincula totalmente de todos os desejos, de todos os anseios carnais e se dedica à luta contra o mal. Ele está ciente de que está entrando em uma luta que ele pode morrer. Ele não pode cometer nenhum pecado. Como um cara desse estuprou alguém?“.

O direito de os palestinos resistirem, com todas as armas que tiverem à sua disposição, também foi destacado por Gabriel Augusto:

“Nós precisamos nos solidarizar com o povo palestino, defendendo que o povo palestino tem o direito de usar todos os recursos que forem necessários para desenvolver a sua residência. Todos quer dizer todos. Nós estamos falando de uma população dominada por uma questão colonial. E essa população tem direito a exercer, aí sim, com o uso da violência, a sua contraofensiva.”

Na defesa da resistência palestina, André Frej também rebateu a propaganda calhorda do sionismo que acusa os defensores dos palestinos de “antissemitismo”. “Nunca negamos o holocausto da Segunda Guerra Mundial, mas nunca aceitamos o negacionismo do holocausto do povo palestino“, destacou Frej. Filho da diáspora, Frej hoje conta com parentes que foram morar no Cuaite, em Honduras e outros que ainda moram na Palestina. Ele conta que sua mãe, antes de falecer, mesmo em um estado avançado de Alzheimer, jamais deixou de narrar o que aconteceu durante a Nakba, destacando as invasões, os estupros e os assassinatos.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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