No artigo É preciso prevenir desastres informacionais, uma tal Clara Becker, que se apresenta como “jornalista e cofundadora do Redes Cordiais, ONG de educação midiática”, volta a apresentar uma tese muito difundida no momento em que o Rio Grande do Sul era o grande tema nacional. Segundo ela, em situações de calamidade, “atores mal-intencionados tiram proveito desse cenário pelas mais distintas motivações. Há desde aqueles que buscam espalhar notícias falsas para caçar cliques e curtidas em busca de dinheiro ou projeção própria até aqueles que atuam para manipular a opinião pública. Isso faz com que as notícias apuradas e embasadas por profissionais fiquem perdidas em meio às informações enganosas”.
O primeiro objetivo desse tipo de colocação é, como é óbvio, esconder os motivos pelos quais o Rio Grande do Sul ficou debaixo d’água e pelos quais até agora a população não foi minimamente reparada. Ao fazer alarde das supostas notícias falsas, a autora ignora por completo que não foi uma notícia falsa que causou as enchentes. Pelo contrário: o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), sabia que o desastre iria acontecer. No entanto, decidiu não tomar nenhuma iniciativa porque, de acordo com suas próprias palavras, salvar a vida da população gaúcha não era uma prioridade. A prioridade era salvar os lucros dos banqueiros.
A preocupação com as notícias falsas também é uma ótima cobertura para aqueles que querem esconder que, após colocar o estado inteiro debaixo d’água, Eduardo Leite continuou defendendo a mesma política genocida de beneficiar seus amigos banqueiros e empresários. Eduardo Leite, em vez de arrombar os cofres públicos para prover a população com tudo o que era necessário, ficou de braços cruzados enquanto a própria população se organizava para realizar resgates e coleta de corpos. Como se isso não bastasse, ainda fez o possível para se indispor com as tentativas do governo federal de intervir na situação.
A tentativa de esconder a podridão do governo do PSDB, no entanto, é apenas parte do que Clara Becker pretende. A jornalista é clara: ela se queixa de que o trabalho da imprensa estaria mais difícil.
Muitos repórteres gaúchos ficaram momentaneamente impedidos ou com grande dificuldade, mesmo emocional, de trabalhar. Entrevistar pessoas, reunir documentação e confirmar detalhes com múltiplas fontes pode levar dias ou até semanas. Esse é um tempo que o público, ansioso por notícias, não está disposto a esperar.
A defesa que ela faz, no entanto, não é da profissão do jornalista. É a defesa, no final das contas, do grande monopólio da imprensa. O que a autora estabelece é que a “imprensa séria” ficaria prejudicada diante da catástrofe. O qe, em outras palavras, é um apelo para que todos ignorem aquilo que é divulgado nas redes sociais, produzido pela imprensa independente etc. É a defesa de que só possa falar sobre o Rio Grande do Sul ou sobre qualquer desastre seja a Rede Globo de Televisão.