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Europa

75 anos da OTAN: um exército dos EUA na Europa

Após mais de três décadas de agressões contra países oprimidos, não só na Europa, mas também no Oriente Médio, a OTAN completa 75 sendo derrotada pela Rússia

Na última quinta-feira, dia 4 de abril de 2024, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) completou 75 anos de existência. 

Foi criada em 4 de abril de 1949, logo após a Segunda Guerra Mundial e no início da Guerra Fria, com o propósito oficial de ser um “sistema de segurança coletivo” para seus estados-membros, sendo propagandeada como uma organização defensiva ante a ameaça Soviética. Uma farsa, pois sempre foi um exército imperialista sobre o controle dos Estados Unidos que serve para garantir a sobrevivência do imperialismo no continente europeu.

A organização é composta atualmente de 32 estados-membros, sendo dois norte-americanos (Estados Unidos e Canadá) e o restante, europeus.

Tendo sido formada com 12 estados-membros, por 10 vezes novos membros já foram adicionados à OTAN desde sua formação, o que ocorreu principalmente após a queda da União Soviética.

Atualmente, a maioria dos países da Europa são membros da organização. Excepciona-se Rússia, Bielorrússia, Bósnia-Herzegovina, Armênia, Áustria, Azerbaijão, Geórgia, Moldávia, Sérvia, Suíça, Ucrânia, sendo que a movimentação do imperialismo para estabelecer bases da OTAN nesse último país, ou mesmo torná-lo membro da organização, foi o estopim da operação especial russa deflagrada em 2022.

O último país a ser incorporado à OTAN foi a Suécia.

Por ocasião dos 75 anos de uma organização que é, basicamente, um exército do imperialismo norte-americano no continente europeu, a emissora Sputnik publicou matéria esclarecendo que a OTAN “só existe para responder aos conflitos que causa”.

Na publicação, é citado Glenn Diesen, professor de Relações Internacionais na Universidade do Sudeste da Noruega, que explica que, com a queda da URSS, e o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos aproveitaram a oportunidade para expandir e intensificar a ditadura imperialista mundial através da OTAN:

“Os EUA também desenvolveram uma estratégia de segurança baseada na hegemonia, que exigia a expansão da OTAN […] A OTAN exigia um novo propósito, que passou a ser o intervencionismo militar e o expansionismo ‘fora da área’.”

Foi justamente nessa época que se iniciaram as intervenções militares abertas e generalizadas pelas tropas da OTAN, sempre direcionadas contra países oprimidos e seus governos ou forças políticas que estivessem contrariando os interesses do imperialismo, especialmente o norte-americano.

Segundo Gilbert Doctorow, analista de Relações Internacionais e Assuntos Russos, em declaração dada à Sputnik, o marco inicial da atuação da OTAN como um exército imperialista foram as agressões militares à antiga Iugoslávia:

“Durante a década de 1990, a OTAN passou de uma organização conceitualmente defensiva para uma organização abertamente agressiva quando entrou nas guerras iugoslavas e empreendeu uma campanha de bombardeio massivo lá.”

De fato, apesar de ter existido durante quatro décadas antes da queda da União Soviética, durante essa época, a atividade militar da OTAN foi limitada a exercícios militares conjuntos entre os EUA e outros países imperialistas. A primeira guerra de agressão perpetrada pelo imperialismo, através da OTAN, foi contra a Bósnia-Herzegovina, que começou em 1992. Uma das principais agressões perpetradas pela OTAN que ficou conhecida como Guerra da Bósnia, uma das várias guerras na conjuntura das Guerras Iugoslavas, isto é, os conflitos nacionais impulsionados pelo imperialismo que haviam levado à destruição da República Socialista Federal da Iugoslávia, em 1991. 

Tais conflitos continuaram durante a década de 90 e o começo dos anos 2000. Especificamente a Guerra da Bósnia foi até 2004, tendo a agressão da OTAN resultado em mais de 100 mil mortos, sendo os principais eventos o Cerco a Sarajevo e o Massacre de Srebrenica.

Ainda na conjuntura das Guerras Iugoslavas, a OTAN também é notória pela Guerra do Cosovo, agressão que o imperialismo perpetrou contra a Sérvia de 1998 a 1999 utilizando cosovares albaneses como bucha de canhão, impulsionando históricas contradições étnicas entre sérvios e albaneses. O resultado foi tornar o Cosovo em um enclave imperialista nos Bálcãs. A situação permanece tensa nos dias atuais, com tropas da OTAN ainda estacionadas lá. Recentemente, em 26 de dezembro de 2023, o imperialismo norte-americano tentou realizar um golpe de Estado na Sérvia, sob a forma de uma “revolução” colorida. Mas falhou, pois o governo, sob a presidência de Aleksandar Vučić, foi alertado pela inteligência Rússia, impedindo o plano golpista.

Gilbert Doctorow, o analista entrevistado pela Sputnik, acrescentou que a atuação militar desse exército imperialista contra os Bálcãs, destruindo o Estado Operário iugoslavo, era uma preparação para que os EUA eventualmente viessem a utilizá-lo para intervir militarmente no Oriente Médio:

“De um modo mais geral, os Estados Unidos estavam neste momento preparando a OTAN para sair da sua geografia central na Europa e para ajudar os planos dos EUA para a dominação global no Médio Oriente na sucessão de operações de mudança de regime e invasões abertas que os Estados Unidos planejaram e liderado.”

Em 2001, após o 11 de setembro, através da Resolução 1.386 do Conselho de Segurança da ONU, foi criada a Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF, na sigla em inglês). O objetivo oficial era treinar as Forças de Segurança Nacional Afegãs (ANSF, na sigla em inglês) para servirem como um exército do novo governo afegão após a invasão do país pelos EUA ter derrubado o governo e destruído o país. Chegando a ter 130 mil funcionários, a ISAF era basicamente a OTAN agindo sob outro nome. Entre 2010 e 2012, chegou a ter 400 bases militares em todo o Afeganistão, mais do que a ANSF. Uma demonstração de como os Estados Unidos utilizaram a OTAN para exercer uma ditadura militar sobre o Afeganistão durante anos.

Contudo, conforme apontado por Doctorow, “operações da OTAN fora da região foram um desastre após o outro, terminando com a retirada do Afeganistão após a participação numa guerra de 20 anos dirigida por Washington”. A derrota catastrófica dos EUA no Afeganistão, em 15 de agosto de 2021, impulsionou a Rússia, um país oprimido, a agir contra o expansionismo do imperialismo norte-americano a leste.

Durante todo o ano de 2021, os EUA movimentaram-se para colocar bases da OTAN na Ucrânia e mesmo no sentido de incluir o país no tratado. O que obrigou a Rússia a desatar a operação militar especial, em defesa contra a agressão norte-americana e europeia.

No decorrer de dois anos de guerra, o exército ucraniano foi destruído várias vezes, e teve de ser reconstruído com treinamento fornecido por especialistas militares da OTAN.

Contudo, não foi de grande valia: após dois anos de guerra, com o bloco imperialista e a Ucrânia prestes a serem derrotados pela Rússia, a crise da OTAN é cada vez maior. Sendo uma força militar liderada pelo imperialismo norte-americano, e sendo a guerra na Ucrânia profundamente prejudicial ao imperialismo europeu, mais que ao norte-americano; contradições dentro do bloco imperialista começam a se manifestar em torno da questão da OTAN.

Recentemente, Jens Stoltenberg, secretário-geral da organização, propôs que o problema do financiamento do esforço imperialista de guerra na Ucrânia fosse resolvido com financiamento da OTAN. Um financiamento de US$107 bilhões anuais, que seria coordenado pela organização. Diante disto, vários países europeus teriam mostrado preocupação que um esforço para estender a ajuda a Kiev dê ao bloco ainda mais poder, conforme noticiou a emissora Russian Today (RT), em 4 de abril.

Apesar disto, uma missão conjunta da OTAN foi criada na Ucrânia, conforme anunciada por Radosław Sikorski, ministro das Relações Exteriores, também no dia 4. O político polaco declarou que “isto não significa que vamos para a guerra, mas significa que agora seremos capazes de utilizar as capacidades de coordenação, treino e planejamento da OTAN para apoiar a Ucrânia de uma forma mais coordenada”, explicando que a ideia é “usar as capacidades do pacto para treinar ucranianos, usar logística e outros elementos conjuntos”. 

Indo além, recentemente, Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, declarou que a Ucrânia se tornará um estado-membro da OTAN, durante cúpula da organização em Bruxelas. 

Ao comentar a promessa de Washington feita a Kiev, de tornar a Ucrânia membro da OTAN, Elon Musk declarou ser o prelúdio do “apocalipse nuclear”, conforme noticiado pela RT. 

Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, declarou, por ocasião dos 75 anos da organização, que ela foi criada como “instrumento de confronto” na Europa e “continua cumprindo o seu propósito”, sendo “um fator desestabilizador no continente”. Comentando o aumento da agressão imperialista face à Rússia, através da OTAN, Peskov declarou:

“O próprio bloco já está envolvido no conflito na Ucrânia. A OTAN continua avançando em direção às nossas fronteiras, expandindo a sua infraestrutura militar em direção às nossas fronteiras… Na verdade, as nossas relações desceram agora ao nível do confronto direto.”

Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia, foi mais incisivo em sua declaração. Disse que se o imperialismo alocar tropas da OTAN para a Ucrânia, “eles passarão a fazer parte das forças regulares que lutam contra nós. É por isso que terão de ser tratados apenas como inimigos. Não devemos fazer prisioneiros! As recompensas mais elevadas devem ser distribuídas por cada soldado da OTAN morto”.

Nessa conjuntura, Diesen, o já citado professor norueguês, comenta sobre a crise da organização, afirmando que “a OTAN está na água, à espera do tsunami que a irá afundar. Esse tsunami assumirá a forma de uma vitória do [candidato presidencial dos EUA, Donald] Trump em novembro, ou assumirá a forma de um colapso iminente do Exército ucraniano, ou ambos os fenômenos em simultâneo”, concluiu o analista de relações internacionais.

Após 75 de existência, a OTAN encontra-se em seu pior momento, o que é uma manifestação de uma das maiores crises pelas quais o imperialismo norte-americano já passou. Tendo em vista que a crise tende a se agravar, o mesmo vale para a crise da OTAN. E isto levará a um aumento da agressividade imperialista através da organização.

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