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Gabriel Araújo

Dirigente Nacional do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Editor da Tribuna do Movimento e do Boletim do Movimento. Militante do Partido dos Trabalhadores e colunista do Voz Operária-Rio de Janeiro.

Balanço

Uma análise econômica internacional

Diferente daqueles que prometem acabar ou fazem apelos para o fim da polarização, os socialistas devem ter consciente que é impossível acabar com a polarização política e econômica

A luta política internacional vem adquirindo contornos que apontam para o início de um processo de transição para uma situação insurrecional, onde as amplas massas em países de capitalismo desenvolvido vem se levantando e deixando o clima político insustentável para os defensores ferrenhos das diretrizes neoliberais do Consenso de Washington, e os países oprimidos vem se impondo diante da política belicista, de saque de seu patrimônio nacional e de imposição de um processo de superexploração do trabalho por parte do imperialismo.

Observando essa mudança, até o presente momento e em um aspecto geral, a situação ainda se encontra em uma dimensão quantitativa de transformação da realidade e é de extrema relevância que os representantes políticos da classe trabalhadora acompanhem esse fenômeno que rapidamente pode dar um salto para dimensão qualitativa, para compreender a situação e saber orientar o trabalho político revolucionário para o próximo período.

Para se ter uma noção da situação, o Banco Mundial previa em julho de 2022 um crescimento na casa de 3% para o PIB Global em 2023, em janeiro de 2023 a previsão havia caído para 1,7%. De acordo com o Comunicado à Imprensa, sobre o relatório Perspectivas Econômicas Globais divulgado em janeiro de 2023, essa desaceleração tem se dado por conta da “inflação elevada, taxas de juros mais altas, redução dos investimentos e repercussões da invasão russa na Ucrânia”.

E o comunicado continua apontando que: “A expectativa é que a forte desaceleração do crescimento seja generalizada, com previsões revisadas para baixo para 95% das economias avançadas e para quase 70% dos mercados emergentes e economias em desenvolvimento.” A perspectiva é que a média de crescimento nos países de capitalismo desenvolvido deve ficar na casa de 0,5%, na zona do euro a previsão é de 0%. Nos países de capitalismo atrasado previsão média de crescimento saiu de 3,8% para 2,7%.

O relatório Perspectiva Econômica Mundial do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado neste mês de abril tem sido mais otimista que o Banco Mundial quanto ao crescimento do PIB Global. Mas de toda forma, o relatório de abril contém uma revisão da própria previsão do crescimento global que o FMI havia feito, saindo de 2,9% para 2,8%. Com relação à inflação, existe a previsão de uma leve redução de 8% para 7% em 2023, porém o relatório alerta que será improvável um retorno do percentual para a meta antes de 2025. Diferente do Banco Mundial, o FMI prevê um crescimento de 0,8% na zona do euro. Essa situação na zona do euro tem sido puxada pelo forte aumento nos preços da energia e dos alimentos, por conta do abalo nas relações com a Rússia, que é um grande fornecedor de energia e fertilizantes para os países europeus, além do fato da Europa está passando por um período de poucas chuvas.

Para o Banco Mundial, o PIB dos EUA deverá crescer em 2023 míseros 0,5%. Já para o FMI, o crescimento será de 1,6%. A inflação interanual está na casa de 6,4% após ter atingido o maior índice dos últimos 41 anos, quando chegou a 9,1%. Essa relativa queda no percentual da inflação se dá pela alta na taxa de juros do FED, porém conforme vemos, essa política contracionista irá se reverbera para o crescimento do PIB. A taxa de juros saiu de 0,20% em março de 2022 para 4,75% em março de 2023. Esse processo de crise econômica e descontrole da inflação vem sendo provocado por causa da disparada do preço da energia, onde os EUA vêm encontrando dificuldade por causa do abalo de suas relações com a Arábia Saudita, da guerra na Ucrânia e da própria dificuldade de produção interna. A situação, que já se encontrava calamitosa por conta dessas questões que mencionamos, foi agravada pela falência de grandes monopólios bancários norte-americanos recentemente.

A França tem sido o país que mais aponta para concretizar o prognóstico que mencionamos acima relacionado à transição para uma situação insurrecional, com diversas mobilizações operárias, paralisando por diversos dias a produção. A centelha desse processo de mobilização se deu por conta da reforma da previdência que o governo Macron impôs goela abaixo da sociedade francesa. A previsão de crescimento do PIB é de 0,7% frente aos 2,6% de 2022. A inflação está em 5,6%. A taxa básica de juros no país vem seguindo uma tendência geral de aumento e hoje se encontra em 3,5%.

A Alemanha deverá sofrer uma recessão neste ano de 2023 com um percentual negativo do PIB na casa de -0,1%. A inflação do país fechou em 2022 com o maior percentual desde a reunificação, na casa de 7,9%. A previsão é que em 2023 esse percentual fique em 6,6%.

Na Inglaterra, o descontrole da crise econômica levou à queda de dois Primeiros Ministros no ano passado. O país deve fechar o ano de 2023 em recessão, com uma redução do PIB em -0,3%. A inflação, que teve um leve recuo no início do ano, já voltou a subir, se encontrando na casa de 10,4% no acumulado dos últimos 12 meses, se mantendo nos maiores patamares dos últimos 40 anos. A taxa básica de juros saltou de 0,25% em março de 2023 para 4,25% atualmente.

Já a Itália tem previsão de crescimento do PIB em 0,7% para 2023 frente aos 3,7% de 2022. Em 2022 o país atingiu o maior percentual de inflação dos últimos 45 anos, ficando em 8,1%. A inflação acumulada dos últimos 12 meses está em 7,7% e a previsão para esse ano é que continue em alta.

Algumas questões existem em comum nesses países mencionados, que são: estabilidade no percentual da taxa de desemprego; a inflação está engolindo os salários e por conseguinte o poder de compra dos trabalhadores; uma forte propensão de ascensão da extrema-direita tendo em vista a impopularidade dos políticos neoliberais que tem assolado o povo com políticas contracionistas e jogado os referidos países na guerra da Ucrânia (sendo bucha de canhão dos EUA nesse caso), e a incapacidade da esquerda de responder à altura do descontentamento popular com essas questões.

Todo esse quadro tem se reverberado no Brasil, onde a inflação se encontra elevada, assim como a taxa básica de juros, o que tem debilitado a capacidade de consumo dos trabalhadores e de investimentos para o desenvolvimento econômico. Apesar desse reflexo existir em nosso país, ele ainda não provocou uma onda de descontentamento popular como nos países desenvolvidos porque o governo tem queimado uma certa gordura com a implementação de novas políticas sociais e retomado certos investimentos públicos. Porém, isso é insuficiente, tendo em consideração que a gordura que está sendo queimada tende a acabar rapidamente, nos colocando frente à barreira do chamado teto de gastos e também da alta taxa de juros. Além disso, há a desvantagem de todos os processos de privatização dos últimos anos, o que nos impossibilita de nos valer dessas empresas para induzir o crescimento econômico; e também o fato de o Congresso Nacional estar composto por uma maioria reacionária e compromissada com o processo de destruição do país com a manutenção das medidas neoliberais.

Há um grande desafio colocado. Diferente dos países mencionados, temos a vantagem de possuir um governo de esquerda e um líder da estatura do Presidente Lula, que pode ser um grande estimulador da mobilização popular que é a única ferramenta possível para reverter o quadro adverso no contexto político e econômico, nacional e internacional. Soma-se à isso o fato da Rússia e da China estarem sendo impelidas pelo imperialismo a ter de adotar medidas políticas, econômicas e militares mais audaciosas para que não sofram revezes que não possam ser revertidos. A recusa brasileira em fornecer armamento para os ucranianos e o acordo Brasil-China para substituir o dólar nas transações bilaterais, tem apontado que o Brasil está disposto e que existe uma tendência em levar adiante uma política anti-imperialista e que dê respostas concretas ao desafio atual.

Diferente daqueles que prometem acabar ou fazem apelos para o fim da polarização, os socialistas devem ter consciente que é impossível acabar com a polarização política e econômica nos marcos do capitalismo, porque essa é uma lei fundamental do funcionamento desse sistema. O que é necessário nessa circunstância que nos encontramos, é que as organizações populares e de esquerda, deem um caráter consciente para essa polarização, que adentrem na disputa política de forma efetiva e oriente as massa para concretizarem soluções reais para os seus problemas. Do contrário, deixar que o descontentamento continue ocorrendo de forma espontânea, será dar de mãos beijadas o controle político e econômico da sociedade para a extrema-direita fascista, que apenas faz demagogia com as pautas populares para depois se submeter aos interesses dos capitalistas.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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