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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

A Mãe (1990)

Um filme sobre a sensação de pregar no deserto

"O filme tenta, assim, propor que a Revolução pode surgir, não importa quanto o aparato estatal tente reprimi-la. Por esse lado, é uma película que merece ser vista e discutida"

Essa semana, assisti a um filme russo chamado A Mãe (Mat, 1990), dirigido pelo cineasta Gleb Panfilov a partir de uma adaptação do romance de Maxim Gorki de 1906. Panfilov escalou para o papel principal a atriz russa Inna Churikova (falecida em janeiro aos 79 anos) para tentar repetir o excelente resultado de Vassa (1983).

Inna responde à altura. Na pele da matriarca de uma família proletária, ela passa de uma mulher oprimida, devota e completamente voltada ao seu ambiente familiar para uma militante política pré-revolucionária. A atriz dá à personagem a ambiguidade necessária entre a fragilidade e a força.

A história é situada no início do século XX, bem antes da Revolução, momento de grande repressão política contra as classes trabalhadoras na Rússia.

Está centrada também no filho da personagem principal, Pavel Viassov (Viktor Rakov), que acompanhamos desde os 12 anos, como trabalhador em uma siderúrgica, até se tornar um ativista político de esquerda.

A opção estética de Panfilov é fazer um filme cuja fórmula é dramática, com heróis bem definidos, que precisam passar por situações sacrificiais para crescer e superar suas adversidades.

De fato, o tema do herói revolucionário se destaca na figura de Pavel, principalmente quando ele se coloca como líder e empunha a bandeira vermelha que dará origem ao partido que está fundando e que é costurada por sua mãe.

A perseguição política contra ele e seus companheiros é dura e o sistema de justiça, instrumento de manutenção da ordem imperial, implacável. A representação no filme busca mostrar essas situações.

No entanto, na sua construção narrativa, de certa forma simplifica a discussão sobre aqueles anos pré-revolucionários, como também a situação de opressão diante de um sistema político que estava condenado ao fracasso e que era extremamente duro com sua população e que vai levá-la às últimas consequências.

A formação política, a luta revolucionária, o trabalho coletivo também são apresentados de forma simplificada, ressaltando a vontade individual, incapaz de levar adiante um processo histórico revolucionário. Mesmo assim, é um filme sobre luta de classes e não esconde isso com subterfúgios discursivos e narrativos.

O filme também aponta alguns temas que são de muito interesse para quem é militante político. Realizado em 1989, ele não deixa de ser uma manifestação daqueles momentos finais pelos quais a União Soviética passaria.

A morte da protagonista, ao final do filme, ganha ares alegóricos, nos quais a personagem de Inna se torna uma representação da própria mãe/pátria que é traída por aqueles que tenta proteger. Ela quer alertar, distribuir os panfletos revolucionários, mas não encontra quem lhe ouça.

A cena da manifestação dos poucos operários da fábrica que decidem se expor diante do governador é também primorosa. Mostra as dificuldades do movimento político diante do medo e da falta de consciência política.

Panfilov apresenta os manifestantes como idealistas, sem palavras de ordem concretas, dispostos a tudo para expor aos seus vizinhos e demais colegas de trabalho qual o rumo a ser escolhido. É uma atitude um tanto suicida, visto que eles sabem as consequências.

Em um dado momento, o próprio Lênin aparece, em Londres, analisando a situação. “E não havia um intelectual com eles?”, pergunta. Panfilov tenta mostrar que as condições materiais de existência são os motores das forças revolucionárias.

O filme tenta, assim, propor que a Revolução pode surgir, não importa quanto o aparato estatal tente reprimi-la. Por esse lado, é uma película que merece ser vista e discutida.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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