Neste final de semana, dias 16 e 17, está ocorrendo o curso A Questão Palestina: Da Primeira Guerra Mundial aos Dias Atuais, promovido pelo Partido da Causa Operária e ministrado por seu presidente, Rui Costa Pimenta.
Dentre as inúmeras questões que estão sendo abordadas por Pimenta, foi explicado como sionismo fracassou como política em seu início, durante duas décadas, de forma que só se viabilizou após o apoio sistemático e massivo do imperialismo Britânico:
Na segunda parte da exposição feita no primeiro dia de curso, o presidente do PCO então explicou como se deu o apoio do Império Britânico aos sionistas e seu projeto de criar o Estado de “Israel” na Palestina, bem como as razões do apoio.
Previamente à explicação, foi esclarecido que uma das ideias iniciais de Theodor Herzl, o fundador o sionismo, era criar uma Rodésia Judaica. Em outras palavras, uma África do Sul Judaica, demonstrando que a intenção de criar um Estado supremacista Judeu sempre foi parte essencial do sionismo, Estado no qual apenas judeus seriam cidadãos. Afinal, a Rodésia (atual Zimbábue) era um regime colonial britânico, fundado pelo burguês Cecil Rhodes, em que vigorava um regime de apartheid análogo ao da África do Sul, em que a população negra local eram inferiores aos colonizadores.
Herzl propunha que Uganda fosse o local onde seria erguido “Israel”, conforme exposto por Pimenta.
Contudo, como esclareceu o palestrante, essa proposta foi rejeitada pelo imperialismo britânico, pois a fundação de um Estado Judeu na África não correspondia aos interesses políticos e econômicos do império. Houve também a proposta de formar o Estado supremacista Judeu na Argentina, contudo as contradições sociais no país sul-americano não eram agudas o suficiente para possibilitar a realização da tarefa, conforme analisado por Rui.
O interesse do imperialismo na realidade era no Oriente Médio. Na conjuntura política da Primeira Guerra Mundial, uma guerra do imperialismo Britânico e Francês contra o Alemão e o Austríaco, os ingleses buscavam a dissolução do Império Turco Otomano, com o fim de impedir que a Alemanha se tornasse mais poderosa que eles. Para isto, impulsionaram os árabes e suas reivindicações nacionais contra os turcos, sob a promessa de garantir às nações árabes a independência, com o fim do Império Otomano. Contudo, a promessa não foi cumprida, pois o imperialismo francês e inglês firmou o acordo Sykes – Picot, divindo uniltaralmente a Península Arábica.
Então, conforme explicou Rui, para conter os árabes e seu objetivo de uma nação árabe unificada, os britânicos passaram a utilizar o sionismo, de forma que já naquela época judeus sionistas começaram a ser treinado militarmente e participar de operações militares comandadas pelos britânicos.
Vê-se, então, que foi na Primeira Guerra Mundial que o sionismo começou a crescer, pois passou a ser impulsionado pelo imperialismo. E não para salvar os judeus da perseguição que ocorria na Europa do Leste (afinal, a Revolução Russa acabou com essa perseguição na Rússia, onde acontecia principalmente). Mas para atender aos interesses do imperialismo britânico no Oriente Médio.
Conforme expôs Rui, os interesses dos britânicos na região eram, em suma, o domínio colonial, a exploração do petróleo (que já era uma riqueza mineral importante e se tornaria a principal nos anos vindouros), e o domínio sobre rotas comercias, em especial no que diz respeito ao Mar Mediterrâneo (que banha a costa da Palestina), e o Canal de Suez, no Egito (país que faz fronteira com a Palestina).
Assim, a Inglaterra apoiou o projeto sionista com a condição de que o Estado supremacista Judeu, “Israel”, fosse formado na Palestina, para onde judeus sionistas já haviam começado a migrar nas décadas anteriores.
Conforme explicou Rui, este apoio do imperialismo britânico se deu através de aproximações sucessivas. O primeiro ato formal foi a Declaração de Balfour, dada em 1917 (não coincidentemente ano da Revolução Russa) pelo então ministro das relações exteriores, Arthur Balfour. Como exemplo do método de aproximações sucessivas, a declaração apenas disse que os judeus “tinham direito a um lar na Palestina”.
A fim de demonstrar que o imperialismo britânico não se importava para os judeus e quaisquer casos de antissemitismo que sofriam na Europa, Rui também expôs que Balfour era um notório antissemita. E que a sua declaração foi impulsionada pelo desejo da burguesia imperialista britânica em se livrar dos milhares de judeus que haviam migrado (e continuavam migrando) para Londres, vindos do Leste Europeu, fugindo dos pogroms (ataques sistematizados da extrema direita a bairros/comunidades judaicas). Afinal, a maioria dos judeus que fugiam da perseguição não queriam se assentar em um local majoritariamente desértico, com poucas áreas férteis, mas em países desenvolvidos, como a Inglaterra e os Estados Unidos, conforme apontou Rui Costa Pimenta.
Mas a exposição do presidente do PCO não se limitou a expor o apoio inicial do imperialismo britânico ao sionismo. Analisou também um das acontecimentos mais importantes para a história da Palestina, e que foi fundamental para a Nakba (expulsão forçada dos palestinos em 1948) e a fundação de “Israel”. E que acontecimento foi este? Segundo Rui, foi a Revolução Palestina de 1936. Uma revolução que envolveu a aristocracia árabe palestina, a classe operária e os camponeses. Teve origem na tentativa dos sionistas de liquidar a economia palestina, pois estavam comprando terras palestinas em grande escala no ano de 1935, e despejando os camponeses palestinos ligados a ela. Normalmente, tais camponeses seriam absorvidos pela cidade. Contudo, a maior parte dos empreendimentos urbanos eram dominados pelos judeus sionistas, que rejeitavam absorver a mão de obra palestina. Conforme apontado por Rui, o estopim da revolução foi o assassinato de Izz ad-Din al-Qassam, um pregador muçulmano e mujahid, líder da organização de resistência Mão Negra. Algo semelhante ocorrido ao Levante da Páscoa na Irlanda.
Os ingleses tentaram conter a revolução. Mas, não conseguindo, desataram uma repressão brutal. Segundo expôs Rui, chegaram a mobilizar cerca de 100 mil soldados, um enorme contingente militar até mesmo para os dias atuais, que dirá para aquela época, na Palestina. Na repressão, o imperialismo britânico, contando com o auxílio de tropas sionistas, às quais eles haviam treinando com a melhor técnica militar, acabaram com absolutamente todas as organizações de luta e resistência dos palestinos. Aí reside o ponto de inflexão. Sem estas organizações de resistência (desde organizações camponeses, passando por sindicatos e chegando a grupos armados), os palestinos não teriam absolutamente nenhuma chance de impedir a ofensiva sionista em 1947-1948, a Nakba e a fundação de “Israel”.
Nesse sentido, Rui explicou que, paralelamente à destruição das organizações dos palestinos, o império britânico sempre auxiliou os sionistas, em especial do ponto de vista militar. Conforme exemplificado pelo presidente do PCO, durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de soldados judeus foram treinados pelo exército britânico para serem uma tropa de elite.
Rui chegou a explicar que a Haganá, a principal força armada dos sionistas, tinham um batalhão de elite chamado Palmach, e que esse pessoal militar havia sido formado pelos britânicos.
O presidente do PCO aproveitou, então, para esclarecer a respeito de uma aparente contradição entre os Britânicos e os Sionistas. A contradição surge de alguns fatos, nomeadamente que, em algumas ocasiões, milícias de extrema-direita do sionismo, como o Irgun, chegaram a realizar ataques contra oficiais britânicos. Rui citou o ataque ao Hotel Davi, em que, utilizando-se de explosivos, o Irgun matou cerca de 80 oficiais. Acontece que, como dito acima, e esclarecido por Pimenta, essa era uma contradição aparente. Uma típica contradição entre a direita (integralmente apoiada pelo imperialismo) e a extrema-direita. Enquanto que os elementos mais extremos do sionismo queriam um apoio aberto do Império Britânico ao seu projeto de limpeza étnica da Palestina, o império britânico não poderia manifestar-se dessa forma, para evitar desestabilizar seu domínio imperialista sobre a península arábica, sobre a própria Palestina, consequentemente colocando em risco a própria viabilidade de “Israel”.
Apesar disto, o imperialismo britânico sempre apoiou incondicionalmente o projeto sionista na Palestina, sendo seu principal impulsionador, conforme seria exposto por Rui Pimenta na segunda parte da exposição, no primeiro dia do curso.